Folha de S. Paulo


Canais de drag queens no YouTube vão além de tutoriais de maquiagem

Se quando você ouve falar em vídeos de drag queens pensa logo em tutoriais de maquiagem, precisa conhecer os canais de Lorelay Fox, Amanda Sparks e Rita von Hunty.

Essas youtubers vão além dos clichês e falam em seus canais sobre assuntos como culinária, veganismo, comportamento, diversidade, questões de gênero, cultura pop e games.

Para Tudo - É Drag ou é Trans?

PARA TUDO

Lorelay Fox é personagem do publicitário Danilo Dabague, 29, dono do canal Para Tudo, que conta com mais de 170 mil inscritos. Ele conta que o foco inicial do canal seria maquiagem e a vida de drag, mas logo percebeu que outros temas chamaram bastante a atenção do público.

Criadores digitais
Produção de conteúdo na internet
Pablo Peixoto, fundador do canal de entretenimento e cultura pop Qu4tro Coisas

Seu segundo vídeo, sobre gays afeminados, é até hoje um dos mais vistos do canal, com quase 180 mil visualizações. Dabague ainda produz tutoriais de maquiagem, sempre caracterizado como Lorelay, mas resolveu tornar o Para Tudo "um ponto de esclarecimento e compreensão de temas como diversidade, aceitação e empoderamento de minorias", conta.

O público-alvo também mudou desde o início do canal. Se no início o objetivo era falar com meninos que queriam ser drag queen ou que gostam desse universo, hoje o público é bem mais diversificado. "Mulheres, crianças, famílias assistem para se divertir, professores usam meus vídeos como forma de esclarecimento em sala de aula, e as meninas amam os tutoriais de maquiagem".

Lorelay "nasceu" quando Dabague tinha 17 anos. Ele conta que já frequentava festas com drags, mas nunca teve vontade de se "montar" se vestir como drag queen. Isso só mudou quando um amigo que queria participar de um concurso de drags, mas não tinha coragem sozinho, pediu a Dabague que o acompanhasse. "Antes mesmo de o concurso terminar eu já havia sido contratado pela casa para trabalhar lá, e nunca mais parei!"

DRAGeek - Amanda apresenta The Shade Forest

DRAGEEK

Para o motion designer José Henrique Oliveira, 33, o objetivo desde o início era fazer um canal sobre games, pois o interesse pelo tema veio antes do "nascimento" de sua personagem, Amanda Sparks, seis anos atrás. "Sempre tive vontade de fazer vídeos, comentar jogos, e como o meio geek ainda carece de representantes LGBT, nada melhor do que eu, uma drag, designer de games e gamer criar um canal sobre o tema", conta.

Além do canal chamado DRAGeek, onde Amanda faz gameplays (vídeos em que jogadores gravam suas performances nos games) com comentários pouco usuais para o meio, Oliveira também é game designer, já lançou dois jogos tendo Amanda como personagem principal, e um de seus shows é inspirado no mais recente deles, The Shade Forest, disponível para Android e iOS.

Oliveira conta que nunca sofreu preconceito no meio gamer, e produz seus vídeos pensando no que ele gostaria de ver. "Não gosto do formato da maioria dos youtubers, nem eu tenho paciência de ver 40 minutos de gameplay, então condenso ao máximo meus vídeos, só coloco as partes interessantes e engraçadinhas".

Tempero Drag - Torta de Climão com Regina Volpato

TEMPERO DRAG

Com inspirações tão variadas como Palmirinha, Rita Hayworth, Julia Child e Dita von Teese, Rita von Hunty, personagem do professor e empresário Guilherme Terreri, 25, é a apresentadora do Tempero Drag, onde prepara receitas veganas (aquelas que não usa carnes, leites, ovos e mel) com nomes pouco convencionais.

O Suco Acorda Viado (suco verde) é o maior sucesso co canal, com mais de 65 mil visualizações, seguido do Please Don't Stop the Mousse (mousse de chocolate), batizado em homenagem a uma música da cantora Rihanna, são os maiores sucessos do canal, com quase 50 mil.

Rita nasceu em 2013, em parte para dar vazão às habilidades artísticas de Terreri, e em parte por influência do programa americano "RuPaul's Drag Race", reality show exibido no Brasil pelo Netflix que busca identificar "a próxima estrela entre as drag queens dos Estados Unidos".

Vegetariano desde os seis anos e vegano desde o ano passado, Terreri conta que o Tempero Drag é um projeto autoral, ao mesmo tempo que ele é um processo de produção colaborativa. "Surgiu com o convite de uma produtora que queria ter um canal de conteúdo humorístico para o YouTube. A primeira coisa que me veio à cabeça foi um programa de culinária cômico apresentado por uma drag queen presa nos anos 50, mas que pudesse mostrar pras pessoas a cultura drag e a culinária vegana".

Segundo Terreri, para atingir o sucesso como drag queen não basta uma boa caracterização, e é isso que busca mostrar com o canal. "O cerne da questão é o entendimento de que a drag é forma, não é conteúdo. E fazer drag é a forma para acessar um conteúdo, mas se a sua drag é só forma, não tem conteúdo, então ela não tem nada pra oferecer, ela tá vazia", explica.


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