Folha de S. Paulo


Facebook vai mudar foco do feed de notícias para amigos e família

BBC
Facebook vai mudar foco do feed de notícias
Facebook vai mudar foco do feed de notícias

Por anos, o Facebook cortejou empresas jornalísticas de todos os portes, pedindo que elas confiassem mais no gigante da mídia social para expandir suas audiências. Agora, o Facebook tem uma nova mensagem para esses parceiros: atenuem suas expectativas.

O Facebook anunciou na quarta-feira (29) que planejava fazer uma série de mudanças no algoritmo de seu feed de notícias para que esse promova mais favoravelmente o conteúdo postado por amigos e parentes dos usuários.

O efeito colateral dessas mudanças, afirmou a empresa, é que o conteúdo postado por provedores de notícias aparecerá com menos destaque nos feeds de notícias, resultando em tráfego significativamente menor para as centenas de sites noticiosos que passaram a depender do Facebook.

A decisão expõe o constante ajuste em seu algoritmo que o Facebook promove a fim de manter o interesse dos usuários em seu feed de notícias, o principal veículo da empresa, visto por mais de 1,65 bilhão de usuários a cada mês.

Também serve como lembrete de que embora o Facebook seja imensamente importante para o crescimento em longo prazo das companhias de mídia noticiosa —de veículos mais antigos como o "New York Times" e "Washington Post" a novas empresas como o BuzzFeed, Vice e Vox Media—, as companhias de jornalismo têm posição mais baixa na lista de prioridades do Facebook.

"Existe agora, em geral, uma expectativa da parte das empresas de notícias de que as plataformas mudem, e de que elas não necessariamente sejam informadas sobre como mudarão", disse Emily Bell, diretora do Centro Tow de Jornalismo Digital, na Universidade Colúmbia. "Isso expõe de maneira clara o controle dos usuários como tensão central entre os provedores de notícias e as plataformas".

As mudanças afetarão todos os tipos de conteúdo postados por empresas de notícias, entre as quais links, vídeos e fotos. O Facebook disse que antecipa queda no alcance e no tráfego encaminhado a provedores de notícias cuja audiência venha primariamente de conteúdo postado na página oficial do provedor no Facebook. Mas é difícil prever a dimensão da queda.

O efeito será menor, porém, se a maior parte do tráfego ao site do provedor de notícias vier de usuários individuais que compartilham e comentam reportagens e vídeos. Como vem sendo o caso já há bastante tempo, conteúdo de um provedor que gere interação entre amigos em muitos caso terá destaque maior no feed do que conteúdo postado diretamente pelo provedor de notícias.

Nos últimos anos, os provedores de notícias que enfrentavam dificuldade em atrair leitores e verbas publicitárias passaram a considerar o Facebook e seus usuários como boa maneira de conquistar novas audiências e obter fontes lucrativas de receita. Isso resultou em parcerias mais estreitas entre o Facebook e os provedores de notícias, que desenvolveram novos produtos de mídia adaptados especificamente ao site de mídia social.

Os grupos noticiosos têm pouca escolha a não ser lidar com as mudanças que o Facebook impõe, dada a relação de dependência entre eles e a rede social. Cerca de 44% dos adultos dos Estados Unidos leem conteúdo noticioso regularmente no site, de acordo com um estudo do Pew Research Center em 2016. E mais de 40% do tráfego encaminhado a sites noticiosos provém do Facebook, de acordo com dados da Parse.ly, uma companhia que analisa dados sobre o setor de notícias e conteúdo digital.

Os grupos noticiosos apreciam o tráfego encaminhado a eles pelo Facebook mas temem cada vez mais que os leitores prefiram ficar no site de rede social para ler notícias a visitar os sites dos provedores de notícias. Também há preocupação com a possibilidade de que alguns dos produtos do Facebook permitam que ele controle não só a experiência do usuário mas também boa parte da receita publicitária e dos dados dos usuários.

Em um momento no qual o relacionamento entre os provedores de notícias e o Facebook já é tenso, qualquer mudança que torne menos importante o conteúdo noticioso deve agravar a preocupação. E a decisão do Facebook será ainda mais um lembrete de que os provedores de notícias não têm acesso direto às suas audiências online nas plataformas sociais.

No ano passado, a companhia anunciou que ajustaria o feed de notícias em resposta a usuários que estavam "preocupados quanto a perder atualizações importantes dos amigos de quem gostam" - mudança que alguns provedores de notícias consideram ter resultado em queda de audiência.

Desta vez, em um conjunto de "valores" que a companhia divulgou em um post quarta-feira, o Facebook deixou claro que destacar conteúdo postado por amigos e parentes era sua maior prioridade.

"O crescimento e competição no ecossistema dos provedores de notícias é muito, muito forte", disse Adam Mosseri, vice-presidente de administração de produtos do feed de notícias no Facebook, em recente entrevista a jornalistas. "Estamos preocupados que muita gente que usa o Facebook não seja capaz de se conectar tão bem com amigos e parentes por causa disso".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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