Folha de S. Paulo


Facebook quer baratear conexão com internet para triplicar seu tamanho

Dado Ruvic - 15.mai.15/Reuters
Logotipo do Facebook em frente a uma bandeira da União Europeia
Logotipo do Facebook em frente a uma bandeira da União Europeia

Mark Zuckerberg, cofundador e presidente-executivo do Facebook, tem uma visão clara quanto à sua empresa: quer triplicar o tamanho de sua rede social, que hoje tem 1,6 bilhão de membros.

Mas para atingir essa nova audiência, ele precisa encontrar uma maneira de mudar as redes de telecomunicações de modo a tornar mais acessível o custo de conexão com a internet, já que muitas das pessoas que ele deseja conquistar como usuários do Facebook vivem em países em desenvolvimento.

Isso pode ser má notícia para as empresas que fabricam equipamento para essas redes, quer sejam gigantes do Vale do Silício como a Cisco System ou pequenos fabricantes de componentes que produzem peças para conectar as diferentes partes de uma rede.

"Certamente haverá alguma pressão, alguma consolidação, para muitos fornecedores de equipamentos de tecnologia", disse Akshay Sharma, diretor de pesquisa da Gartner, um grupo de pesquisa de mercado que trabalha com tecnologia. "Se você fabrica hardware, vai reduzir seu quadro de milhares de pessoas para talvez 10 funcionários, no máximo 100".

Sem dúvida, a grandiosa —alguns poderiam definir como excessivamente grandiosa— visão de Zuckerberg poderia precisar de anos para ser realizada. Mas se ele conseguir tornar mais acessível o custo da conexão com a Internet, esse poderia ser o mais novo exemplo de como sua empresa inverteu o modelo econômico tradicional do setor de tecnologia.

O Facebook mudou a maneira pela qual as pessoas interagem com seus amigos na Internet. Mas menos compreendida fora dos círculos da tecnologia é a maneira pela qual a rede social veio a se tornar talvez o mais agressivo exemplo do crescente número de empresas que não se dispõem a pagar caro por produtos fabricados pelos fornecedores tradicionais do setor de tecnologia.

Zuckerberg decidiu adotar os conceitos de fonte aberta, e isso o ajudou a reduzir a desvantagem que tinha com relação a gigantes das redes de computadores como a Amazon e o Google.

Fonte aberta tipicamente é uma referência a código ou até mesmo planos de desenvolvimento abertamente compartilhados que empresas e pessoas criam coletivamente por uma fração do preço dos produtos tradicionais de tecnologia. Trechos de código de fonte aberta podem ser identificados em toda espécie de coisa, o que inclui o sistema operacional Google Android e navegadores de Internet.

Companhias como o Facebook contribuem para projetos de fonte aberta porque elas não ganham dinheiro vendendo produtos —em lugar disso, precisam comprar produtos que as ajudam a oferecer serviços. Manter baixos os custos da tecnologia ajuda no desempenho financeiro.

CONCORRÊNCIA BARATA

Esse tipo de autointeresse esclarecido pode parecer simples, mas seu impacto vem sendo dramático. Em 2000, por exemplo, a Sun Microsystems valia US$ 110 bilhões, graças à demanda por seus servidores e estações de trabalho. Uma década mais tarde, a empresa foi adquirida por US$ 7,4 bilhões. A Sun caiu diante da concorrência mais barata oferecida pelo Linux, o popular código de fonte aberta que hoje aciona muitos dos servidores do Facebook.

Quando o Facebook anunciar os resultados financeiros de seu trimestre mais recente, na quarta-feira, os investidores sem dúvida estudarão os valores que a companhia vem gastando, particularmente desde que Zuckerberg prometeu investir mais em busca de novos usuários. Um fator chave para manter baixos os custos foi a tecnologia de fonte aberta.

O Facebook cada vez cuida sozinho do planejamento do hardware e software de computação que usa para prestar seus serviços. A companhia até divulgou como projeto de fonte aberta o modelo dos racks em que seus servidores são montados.

Não deveria surpreender, portanto, que Zuckerberg dependa da tecnologia de fonte aberta para reduzir o preço de produzir e operar as redes de telecomunicação do planeta, um negócio que se estima movimenta US$ 150 bilhões ao ano.

"Nossa regra é 10 vezes mais rápido, 10 vezes mais barato ou ambos", disse Jay Parikh, vice-presidente de engenharia do Facebook. "Queremos propiciar a experiência plena do Facebook a todos os usuários finais, quer se trate de vídeo ou, no futuro, realidade virtual".

As companhias estabelecidas de telecomunicações estão agindo rápido para se ajustar. O grupo finlandês Nokia se uniu ao Facebook em fevereiro no anúncio do Telecom Infra Project, ou TIP, um grupo liderado pelo Facebook que está tentando reduzir o custo das telecomunicações. A Cisco planeja começar a doar software para o TIP, na esperança de lucrar com o uso mais pesado dos grandes sistemas de telecomunicações do planeta que poderia resultar disso.

"Existe uma nova força no sistema", disse Dave Ward, o vice-presidente de arquitetura da Cisco. "Preferimos estar dentro do trem a estar diante dele".

No futuro, Zuckerberg imagina que "uma coisa física, como um televisor, seja apenas um app de US$ 1" dentro da realidade virtual do Facebook, ele declarou recentemente em uma conferência de desenvolvedores de software que estão criando apps para o Facebook.

Mas isso ainda pode demorar 10 anos, na estimativa do próprio Zuckerberg. Pessoas que não trabalham no Facebook podem definir a ideia como simples fantasia.

O Facebook parece até disposto a voltar contra si mesmo esse modelo que esmaga preços. Para levar a realidade virtual a todos os quadrantes do planeta, os headsets Oculus VR do Facebook, cujo preço atual é de US$ 600, podem ter de custar US$ 55, disse Mike Schroepfer, o vice-presidente de tecnologia da companhia.

Será que isso é só mais uma fantasia? Para o Facebook, reduzir esses custos significaria controlar a próxima grande plataforma de comunicação, já que Zuckerberg acredita que a realidade virtual no futuro poderá suplantar os smartphones como conexão primária com o mundo on-line.

"O mundo está fabricando celulares em volume suficiente. É melhor para o mundo que haja menos aparelhos", disse Schroepfer. "Não é totalmente óbvio de que maneira isso tudo vai se encaixar - se teremos muitos produtos ao consumidor ou se tudo isso desaparecerá em um headset de realidade virtual".

CONTROLE

O lucro que essa nova audiência propiciará ao Facebook é uma questão em aberto. Mas o Facebook preferiria controlar uma tecnologia crucial a ter de construir sua plataforma sobre produtos alheios, como teve de fazer no caso dos computadores pessoais e smartphones.

"É mais uma oportunidade de veicular anúncios", disse Danny Sullivan, fundador do site de tecnologia Search Engine Land, que acompanha de perto o setor. "É mais uma oportunidade de recolher dados sobre o que fazemos ou sobre as pessoas com quem nos conectamos. É mais uma oportunidade de construir uma nova plataforma na qual o Facebook sirva como intermediário da conectividade".

Na mesma conferência de desenvolvedores do Facebook houve conversações sobre os mais recentes esforços de fonte aberta, como uma rede sem fio urbana que verifica seu desempenho 125 mil vezes por segundo, e um sistema sem fio de longo alcance que segundo o Facebook pode enviar um gigabit de dados por segundo, cerca de 10 vezes mais que as redes de melhor desempenho atuais, e suficiente para realidade virtual.

As duas tecnologias, diz Parikh, serão testadas este ano, com vistas a lançá-las como projetos de fonte aberta. "Estaremos presentes nisso tudo", ele disse. O Facebook não quer ter nem vender equipamento, ele acrescentou, mas planeja trabalhar com "centenas" de operadoras locais de telefonia em todo o mundo para prover redes de alta velocidade mais baratas.

O Facebook não está sozinho em enfrentar o aspecto econômico da conexão com a Internet. O Google direcionou seu serviço Fiber a uma redução radical de preços, comparado ao das operadoras de cabos. Dentro da divisão de computação em nuvem da Amazon, há uma subsidiária chamada Twilio que oferece serviços de telefonia e vídeo baratos.

Mas há quem descarte alguns dos esforços do Facebook como simples bazófia. "Estamos conectando entre 700 milhões e 1,5 bilhão de pessoas ao ano via smartphones e tablets", disse Ulf Ewaldsson, vice-presidente de tecnologia da Ericsson, uma das maiores fabricantes mundiais de hardware de telecomunicações.

"Eles dizem que podem chegar a 90% de redução de custos, mas isso é sobre as contas de telefone de quem consome muito", ele disse. "As pessoas pobres precisam ser cobertas, e o setor está trabalhando nisso".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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