Folha de S. Paulo


Entenda como funciona o novo sistema de criptografia do WhatsApp

BBC
Por que o bloqueio do WhatsApp não vingou - e como isso afetará a briga entre empresas de internet e Justiça
Aplicativo endurece sistema de segurança contra espionagem

Quem usou o WhatsApp nesta terça-feira (5) foi surpreendido por um aviso: "As mensagens que você enviar para esta conversa e ligações agora são protegidas com criptografia de ponta a ponta." Na prática, isso quer dizer que, a partir de agora, o sistema de segurança padrão do aplicativo protege a privacidade do usuário até mesmo da empresa que o desenvolve, o Facebook.

A criptografia "end to end", ou ponta a ponta, refere-se a um sistema em que a mensagem sai codificada do dispositivo que a envia e só é decodificada quando chega ao destinatário.

O funcionamento pode ser explicado por uma simples analogia. O remetente manda a quem vai enviar a mensagem um "cadeado virtual" para o qual só o recipiente tem a chave. O emissor tranca a mensagem com este cadeado e a envia ao destinatário, que a destrava com sua chave única.

Como o conteúdo passa pelos servidores da empresa que provê o serviço de mensagens usando um forte esquema de cifragem, mesmo se a companhia for pressionada a entregar os dados de um ou de um grupo de usuários, eles não estarão acessíveis.

A mudança no WhatsApp vem em um momento em que o debate sobre o uso de criptografia está acirrado. A Apple enfrentou recentemente pressão do FBI e do Departamento de Justiça norte-americano para que destravasse o iPhone de um suspeito de terrorismo, morto durante um atentato na cidade de San Bernardino, na Califórnia, no final de 2015.

A empresa alegou que não faria o procedimento, pois a quebra do esquema de segurança deixaria outros usuários vulneráveis. Outras companhias de tecnologia, entre elas o Facebook, saíram em defesa da fabricante do iPhone, sob o argumento de que estariam protegendo a privacidade de seus usuários.

Alguns especialistas dizem que esse tipo de codificação ajudaria a proteger cidadãos mesmo em casos de espionagem, internacional ou doméstica, como os programas de vigilância das agências de inteligência revelados por Edward Snowden em 2013.

Para as empresas, a criptografia ponta a ponta também funcionaria como uma salvaguarda, no caso de serem pressionadas por governos a entregarem os dados de seus usuários. Como nem mesmo elas teriam acesso às informações, não teriam como cumprir uma eventual ordem judicial.

Por outro lado, críticos do sistema dizem que a tecnologia pode ser usada por criminosos e terroristas para planejarem suas ações. Depois dos ataques em Paris, em novembro do ano passado, o aplicativo Telegram foi alvo de polêmica já que supostamente seria um ambiente seguro para milicianos do Estado Islâmico se comunicarem. O aplicativo, de origem russa, usa criptografia "end to end" desde seu lançamento.

No caso do Apple, os aplicativos iMessage e Facetime são exemplos de softwares que usam a criptografia ponta a ponta.


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