Folha de S. Paulo


Produtoras apostam em games gratuitos e lucram com 'extras'

Se uma loja de aplicativos fosse um supermercado de verdade, na seção de games a pessoa encontraria etiquetas anunciando que eles são de graça. Mas bastaria começar a jogar para ser bombardeado com anúncios para comprar todos os tipos de itens, cobrados com dinheiro real.

Fazer compras dentro de um game é parte de um modelo de negócios chamado de microtransações, no qual o jogador desembolsa pequena quantia por algum item ou benefício –é o volume de vendas que gera o lucro.

Ele surgiu há alguns anos em jogos muitas vezes ligados às redes sociais, como "Colheita Feliz" e "Farmville". Mas agora está começando a ser explorado pelas empresas mais tradicionais.

No ano passado, a Nintendo, que só decidiu pela entrada no mercado de games para celulares após as fracas vendas do console Wii U e do portátil 3DS, declarou que seus jogos para mobile serão gratuitos e com microtransações.

A Bethesda, desenvolvedora do jogo de ação "Fallout", lançou o gratuito "Fallout Shelter", uma espécie de "The Sims" pós-apocalíptico, no primeiro semestre de 2015, para promover o quarto game da série, que é pago e sairia meses depois. A empresa ganhou US$ 5 milhões em duas semanas com o jogo, em que uma "lancheira" com cinco itens, como novos personagens e armas, custa R$ 3.

Brian Blau, analista da consultoria Gartner, estima que cerca de 75% das receitas do mercado de games em aparelhos móveis vêm das compras dentro dos jogos.

Com a popularização dos smartphones e consequentemente da oferta de jogos, executivos de empresas como EA (da série "Fifa"), King ("Candy Crush") e Machine Zone ("Games of War") já consideram que, no futuro, os jogos serão todos grátis.

"Sim, é uma das possibilidades", afirma Blau. "Mas só quando as receitas de microtransações alcançarem as das vendas das grandes franquias –e hoje elas não estão próximas", acrescenta.

Um jogo badalado para os principais videogames custa de R$ 150 a R$ 200, mas alguns títulos chegam a R$ 300.

O que faz as empresas conseguirem que os jogadores paguem esses valores é a busca por games mais longos, com enredo profundo e gráficos melhores.

Os gratuitos geralmente são feitos para serem jogados a qualquer momento. "Se você tiver algum tempo livre e quiser jogar, então terá nossos games como uma opção, sem pagar nada", diz Daniel Kim, diretor da Com2us, empresa sul-coreana especializada em jogos com microtransações.

Para Phil Spencer, chefe da divisão de Xbox da Microsoft, há espaço no mercado para os dois tipos de jogos. "As pessoas estão vendo o modelo de microtransações funcionando e querem experimentar com suas próprias ideias. Mas essa não é a única forma de fazer jogadores pagarem."

O que limita a expansão dos jogos gratuitos é a necessidade de estarem sempre conectados à internet para realizar as cobranças. Para vencer essa barreira, há alguns modelos híbridos. A Sony, por exemplo, oferece o serviço de assinatura Playstation Plus (US$ 10 por mês), no qual o usuário pode jogar alguns games de graça e ganhar descontos em outros.

Outro modelo é o "downloadable content" (DLC). É uma extensão do game, como novas fases ou novos personagens, que pode ser adquirida. São alvo de críticas, pois alguns jogadores consideram que as empresas lançam jogos "incompletos", pensando no lucro.


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