Folha de S. Paulo


Apesar de problemas judiciais, WhatsApp diz que não vai mudar

Reprodução/Facebook
Diego Dzodan, executivo do Facebook que foi preso nesta terça-feira em São Paulo
Diego Dzodan, executivo do Facebook que foi preso nesta terça-feira em São Paulo

Apesar da prisão do principal executivo do Facebook na América Latina e do recente episódio de bloqueio do WhatsApp no Brasil, o aplicativo de mensagens não planeja mudanças no país e diz que colabora como pode com investigações judiciais.

"Nós não vamos mudar nosso produto no Brasil", disse à Folha Matt Steinfeld, diretor de comunicações do aplicativo, que tem 100 milhões de usuários no país (e 1 bilhão no mundo).

Nesta terça-feira (1), o vice-presidente do Facebook (empresa dona do WhatsApp) para a América Latina, Diego Dzodan, foi preso preventivamente pela Polícia Federal em São Paulo.

Acusado de não entregar informações pedidas pela justiça do Sergipe para investigações sobre tráfico interestadual de drogas, Dzodan foi levado à Superintendência da PF na capital paulistana e depois ao Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, onde permanecia até o fechamento desta reportagem.

O argumento da companhia para não repassar informações é simplesmente não armazená-las. "Por causa da arquitetura do nosso serviço, nós coletamos muito pouca informação sobre o usuário. A única que exigimos das pessoas é o número de telefone", afirmou o americano –segundo ele, o WhatsApp cooperou "ao máximo" com as investigações da polícia em Sergipe.

A empresa diz ter acesso às mensagens apenas antes de elas serem entregues –depois que isso acontece, os textos, fotos e vídeos só existem nos aparelhos dos usuários. Além disso, a companhia vem adotando gradativamente, desde 2014, um tipo de criptografia das mensagens conhecido como "end-to-end", nas quais nem mesmo as companhias podem acessar a comunicação.

Há críticos a esse discurso. Para Frederico Ceroy, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital e promotor, a companhia "tem ido na contramão do que Google, Hotmail e outros provedores fazem", ou seja, repassar os dados. "Não se trata de uma discussão sobre privacidade ou liberdade, e sim de segurança, já que temos investigações de crime organizado, tráfico de drogas e pedofilia em andamento."

Steinfeld, entretanto, afirma que a natureza do WhatsApp, um aplicativo, o diferencia desses rivais –o app, por exemplo, não pede que o usuário compartilhe sua localização com a empresa.

"As pessoas usam o WhatsApp para compartilhar informações sensíveis e pessoais com médicos, familiares, sócios, e queremos manter essa comunicação privada e segura, por isso construímos nossa segurança assim", afirma Steinfeld.

Mas e o uso criminoso, para o tráfico de drogas, como parecem apontar as investigações da Polícia Federal em Sergipe? "A vasta maioria dos nossos usuários são bons cidadãos, que se beneficiam de manter uma comunicação segura e privada, então os benefícios sobrepujam malefícios", responde.

Questionado se nosso país é o mais problemático para a empresa, dados os eventos recentes, o porta-voz riu: "Não diria isso".


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