Folha de S. Paulo


Twitter perde valor e vive em meio a rumores de aquisição

Até mesmo o mundo instantâneo da mídia social pode ocasionalmente causar uma sensação de déjà vu.

Por duas horas surreais na quarta-feira (20), o desânimo do mercado foi mitigado pelos rumores de que o Twitter poderia ser adquirido pela News Corp, levando as ações do grupo a uma alta de 14%.

Os veteranos da internet decerto se lembram do retrospecto da News Corp no setor: a empresa jogou fora US$ 500 milhões ao adquirir o MySpace em 2005.

Um aspecto aparentemente desconsiderado pelos circuladores de boatos é que a companhia de mídia reestruturada tem hoje valor de mercado significativamente menor –US$ 7 bilhões– do que seu suposto alvo de tomada de controle.

Rumores sobre uma tomada de controle do Twitter emergem frequentemente, ainda que sejam também frequentemente falsos. Seis meses atrás, uma falsa reportagem que imitava o estilo dos artigos da agência de notícias Bloomberg informava que a empresa havia recebido uma proposta de aquisição de US$ 31 bilhões.

O boato da quarta-feira se evaporou de maneira parecida quando a News Corp negou a informação.

É compreensível que haja rumores. O Twitter parece cada vez menos sustentável como uma proposição independente.

A oferta fictícia de US$ 31 bilhões, em julho, foi considerada fantasiosa por alguns analistas por conta do preço –ele parecia baixo demais, com apenas 20% de ágio sobre o valor de mercado das ações da companhia. Hoje, o número pareceria suspeito pela razão oposta.

Nos últimos 12 meses, o valor de mercado do Twitter caiu à metade, US$ 11 bilhões. O crescimento no número de usuários está minguando. Quando de sua oferta pública inicial de ações, em 2013, o Twitter apontou que seu número mensal de 230 milhões de usuários ativos representava apenas uma fração dos 2,4 bilhões de usuários de Internet no planeta; mas a empresa de lá para cá vem enfrentando dificuldades para conquistar esses usuários. O crescimento trimestral em seu número de assinantes caiu a 1%, ante os 6% que ela registrava na época da oferta pública inicial.

O Twitter sem dúvida continuará mexendo em seu produto para tentar ampliar seu apelo sem alienar a base firme de seus usuários, formada por jornalistas interessados em autopromoção.

O aconselhável seria vender a empresa para a Alphabet e dedicar mais tempo a melhorar o rendimento de sua publicidade. Como o Twitter admitiu, seria possível quadruplicar sua receita mesmo sem adicionar novos usuários, se a companhia conseguisse aumentar a proporção de anúncios em suas páginas.

A Alphabet poderia contribuir com seu domínio sobre a publicidade online, e seria capaz de aproveitar a competência do Twitter no que tange à mídia eletrônica e sistemas de mensagens.

As duas empresas já vêm permitindo desde abril que anunciantes adquiram tweets promovidos por meio da plataforma DoubleClick, do Google. A Alphabet pode terminar pagando mais do que os US$ 12,5 bilhões que o Google pagou pela Motorola Mobility - e tem toda condição de fazê-lo, dadas suas reservas de caixa de US$ 60 bilhões.

Os problemas atuais do Twitter se tornariam apenas uma lembrança amarga.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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