Folha de S. Paulo


Aposta para 2016, óculos de realidade virtual podem levar anos para 'pegar'

Pode demorar uma década para que os óculos de realidade virtual se tornem baratos e portáteis o bastante para que substituam os smartphones como principal plataforma de computação do setor de tecnologia, alertou o fundador da Oculus VR.

A realidade virtual é apontada como um dos principais temas da feira CES (Consumer Electronics Show), que acontece nesta semana em Las Vegas. Sony, HTC e Oculus VR (controlada pelo Facebook) estão se preparando para lançar headsets no primeiro semestre de 2016.

No entanto, Palmer Luckey, que fundou a Oculus VR na garagem da casa de seus pais em 2012, diz que a tecnologia vai requerer muitos anos de desenvolvimento adicional antes que possa "substituir os smartphones", junto aos usuários convencionais.

"Acredito que até que eles estejam disponíveis com um poder de processamento muito avançado e de formas muito mais enxutas, não veremos óculos de realidade virtual que as pessoas possam usar todos os dias como parte de suas vidas cotidianas", diz Luckey. "A única maneira de a realidade virtual conquistar bilhões de usuários é que ela se torne alguma coisa que todo mundo deseje usar. E acredito que para fazê-lo será necessário baixar muito o custo e elevar muito a qualidade."

Quanto ao tempo requerido para que isso se torne realidade, Luckey diz que "pode ser cinco anos. O mais provável é que seja 10 anos".

A Oculus VR anunciou nesta segunda-feira (4) que começaria a aceitar pré-encomendas do novo headset Rift nesta semana. A companhia ainda não revelou o preço da primeira versão do headset Rift, mas Luckey diz que o produto inicialmente representará "investimento significativo", que atrairá adeptos dos videogames e entusiastas de novas tecnologias nos anos iniciais de comercialização.

PREÇO

Luckey diz que um sistema de realidade virtual provavelmente custará um total de US$ 1.500, incluindo um headset e um computador poderoso o suficiente para operar os recursos gráficos de alta resolução na velocidade necessária a manter a ilusão de um mundo virtual.

Mesmo assim, o custo do Rift estará sendo subsidiado para torná-lo mais acessível, já que o Facebook e a Oculus VR querem estabelecer um mercado para os dispositivos de realidade virtual, ele diz.

Em dezembro, a Oculus VR e a Samsung lançaram o Gear VR, um headset de preço mais acessível que usa um smartphone Galaxy como tela e processador, em vez de depender de conexão a um computador pessoal.

Veja o vídeo

O acessório, vendido no Brasil por por R$ 800, é visto como uma forma de apresentar a realidade virtual aos usuários novatos.

O Gear VR "é uma experiência portátil que você poderá levar para qualquer parte", diz Luckey. "Mas a qualidade gráfica será definitivamente muito inferior àquela que se pode obter com um computador de alta potência".

"É evidente que não podemos usar um computador de mesa na cabeça, por isso a questão passa a ser quanto tempo vai demorar para que os chips tornem esses mundos de realidade virtual pequenos o suficiente, e dotados de densidade térmica baixa o suficiente, para que possamos embuti-los de fato em um óculos", diz Luckey.

APOSTA

Três anos depois de a Oculus VR arrecadar US$ 2,4 milhões em capital com uma campanha no site de crowdfunding Kickstarter, e com isso colocar a realidade virtual na agenda do setor de tecnologia pela primeira vez desde os anos 1990, o entusiasmo está crescendo quanto à presença de sistemas de realidade virtual na Consumer Electronics Show, feira internacional de eletrônica realizada anualmente em Las Vegas.

Ben Woods, analista da CCS Insight, diz que "2016 deve ser o ano em que a conscientização dos consumidores quanto à realidade virtual atingirá níveis significativos".

"Os relógios inteligentes continuam a ser uma solução em busca de um problema, e as atenções estão rapidamente se voltando à realidade virtual como próxima área quente de crescimento de vendas, diante da desaceleração no mercado de smartphones. Os grandes investimentos realizados por grupos como Facebook, Google, Microsoft, Samsung e Sony sublinham o grande ímpeto que os segmentos de realidade virtual e realidade aumentada estão mostrando", ele acrescentou.

Analistas da IHS previram que o Oculus Rift será vendido em números limitados, inicialmente, e provavelmente será superado no mercado pelo Sony PlayStation VR, que contará com um número maior de consumidores equipados com hardware capaz de operar com o headset.

Isso não preocupa Luckey.

"A realidade virtual não precisa atingir bilhões de pessoas para encontrar sucesso", ele diz. "Eu diria que a realidade virtual não precisa nem mesmo encontrar centenas de milhões de compradores para ser sucesso, em sua primeira geração".

CONTEÚDO

A Oculus VR anunciou que incluirá dois jogos –Eve Valkyrie, sobre pilotagem de naves espaciais, e Lucky's Tale, uma plataforma com jeito de cartum– nos pacotes de venda do Oculus Rift. Mas restam questões sobre o que mais, além de jogos, ajudará a atrair os consumidores mais convencionais para os sistemas de realidade virtual.

Luckey disse que embora o Facebook esteja trabalhando em estreita cooperação com sua subsidiária Oculus VR, "ninguém acredita de verdade que um aplicativo de rede social do Facebook venha a ser o app que garantirá o sucesso da realidade virtual".

Em vez disso, serão necessários novos apps "desenvolvidos do zero" para a realidade virtual.

No entanto, os sistemas de realidade virtual ajudarão a desordenar os mercados de serviços como o Skype e as mensagens de texto, diz ele, e terminarão por reduzir a necessidade de encontros pessoais.

"A realidade virtual é a única tecnologia que tem a capacidade de fazer que você sinta estar na companhia de outra pessoa em um espaço virtual, mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância dela", diz Luckey.

"Se você puder realmente simular qualquer coisa que é capaz de fazer na vida real, e além disso não tiver de respeitar as leis físicas da realidade, para mim pareceria incrível que o mercado não desenvolvesse não só um como inúmeros apps de grande sucesso", diz Luckey.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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