Folha de S. Paulo


Saiba como configurar o seu celular para não ser localizado

Houvesse Facebook em 1845 e o escritor norte-americano Henry Thoreau (1817-1862) talvez não teria escrito sua obra prima "Walden", em que narra dois anos, dois meses e dois dias que passou em uma cabana isolada no estado de Massachusetts. Especialmente se tivesse esquecido de desligar o recurso "Amigos nas Imediações".

Lançado em outubro, o mecanismo de geolocalização permite que se veja, em tempo real, onde estão os amigos do Facebook -e quais deles estão por perto. Embora tenha agradado a muita gente, a ferramenta também chamou atenção dos mais discretos, preocupados com a possibilidade de seus contatos poderem saber, a todo momento, onde estão.

Recursos de localização como o do Facebook estão por trás de aplicativos que facilitam a vida -como o Waze, para navegar no trânsito complicado, ou mesmo o Happn, para quem quer encontrar um par romântico. Mas quando são muitos e espalhados por diversos apps, esses mecanismos podem complicar o dia a dia de quem opta por mais privacidade. Isso porque é cada vez mais difícil controlar quantos e quais programas estão coletando e transmitindo dados de geolocalização.

Para entender essa dificuldade, pesquisadores das universidades Carneige Mellon e Notre Dame acompanharam um pequeno grupo de usuários de smartphones por 14 dias. Equipados com um aplicativo especial, os celulares registravam e avisavam quando transmitiam dados de localização. Um dos 23 participantes da pesquisa relatou que, em duas semanas, sua localização havia sido transmitida 5.398 vezes, por nove aplicativos diferentes.

Embora limitado em amostra e escopo, o estudo concluiu que é difícil controlar adequadamente o fluxo de informações privadas que sai de dispositivos conectados à internet.

Parte do problema está no fato de que, quando um aplicativo é instalado, o usuário é bombardeado por pedidos de acesso a recursos do smartphone -como os contatos, as notificações, a câmera e a localização. É fácil que ele autorize tudo sem examinar com cuidado cada um dos pedidos. E, depois de autorizado, a opção de desativar o recurso fica escondida em um menu de configuração.

Outra parte do problema é que essas mensagens não dizem exatamente como os seus dados serão utilizados. Às vezes é preciso ler um texto específico para saber, por exemplo, que poderão ser explorados para publicidade. É uma tarefa parecida com a de ler os termos de uso e privacidade, documento comum em sites e aplicativos, e que pouca gente lê.

ONDE ESTÁ VOCÊ?

À Folha o Facebook disse que "usa as informações que recebe para melhorar os serviços oferecidos". "Em 2015, por exemplo, lançamos o anúncio com Local Awareness", afirmou a empresa, por meio da assessoria. Refere-se à possibilidade de varejistas enviarem seus anúncios para internautas que estejam próximos às suas lojas físicas.

"Não é que as empresas tenham más intenções, necessariamente. Elas precisam de remuneração", diz o pesquisador e fundador do site PrivacyGrade, Jason Hong. "Mas é preciso que elas sejam transparentes."
O PrivacyGrade é uma plataforma que atribui notas de A a F de acordo com o tratamento dado pelos aplicativos às informações pessoais dos usuários. Para calcular a nota, o site usa um método que leva em conta as expectativas do internauta.

"É preciso saber o que cada um espera daquele programa, e o que o programa faz, na verdade", diz Hong. "O Waze e o Google Maps, por exemplo, precisam das informações geográficas para funcionar, isso é algo claro para que os acessa. O problema começa quando aplicativos usam esses dados sem revelar ao usuário."

Hong afirma que empresas como Facebook e Google são transparentes nesse sentido. "Cabe ao usuário escolher se quer entregar um pouco da privacidade em troca de mais recursos tecnológicos", diz.
"Na verdade, temos mais problemas com aplicativos que entregam dados a terceiros, como redes de publicidade, sem que o usuário saiba e sem que ele receba um benefício em troca disso".

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QUER SER ACHADO?

Divulgação

Facebook

Além do recurso "Amigos nas Imediações", o aplicativo acessa dados geográficos para check-ins e para localizar posts.

A rede social também usa os dados para publicidade.

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Reprodução

Snapchat

Popular entre os mais jovens, usa dados de localização para marcar "snaps" (fotos ou vídeos) a serem enviados a amigos.

O app afirma que não armazena esses dados.

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Reprodução

Twitter

O microblog serve-se da localização do usuário para mostrar de onde está tuitando. Também usa a localização para lhe enviar conteúdo personalizado, incluindo publicidade e trending topics.

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Reprodução

Whatsapp

O aplicativo de troca de mensagens mais popular no Brasil usa a localização do usuário apenas quando ele opta por compartilhá-la com pessoas nos seus contatos.

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Divulgação

Instagram

O programa usa dados do celular para geolocalizar fotografias.

Também utiliza as informações contidas em arquivos de fotos, caso eles contenham dados geográficos.

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COMO NÃO SER ACHADO NO...

iPhone
Os celulares da Apple têm a opção, desde o iOS 8, de permitir ou negar acesso aos dados de localização para cada um dos aplicativos instalados. Basta ir em "Ajustes", tocar em "Privacidade" e então acessar o menu "Serviços de Localização".

Android
O sistema operacional do Google ainda não tem um ajuste tão fino quanto o do iPhone. Pode-se só ligar e desligar a localização para todos os aplicativos em conjunto; vá a "Configurações" e toque na opção "Privacidade e Segurança".

Windows Phone
A nova versão do sistema da Microsoft, o Windows 10, que chegou no ano passado, traz o ajuste fino como o dos iPhones. Basta abrir "Configurações" e tocar em "Privacidade". O usuário poderá escolher as permissões de cada aplicativo.


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