Folha de S. Paulo


A festa de fim de ano milionária do Yahoo

Reprodução/Vice
Festa de fim de ano do Yahoo
A CEO do Yahoo, Marissa Meyer, na festa de final de ano da empresa

Moro e trabalho há cinco anos em San Francisco, nos Estados Unidos. Sempre me mantive na periferia do fenômeno das startups: sou funcionário de uma grande empresa de fora do setor tecnológico que, embora vá bem das finanças, não queima seu precioso dinheiro com festas. (Nem com indenização de funcionários, uma pena.)

Nada mais natural então que, com a chance de mamar nas tetas de uma gigante do Vale do Silício, eu aproveitasse a barganha. Quem não faria o mesmo? Coloquei minha roupa de domingo, chamei um carro pelo Uber e fui à festa de fim de ano do Yahoo.

O local era um armazém gigantesco em um pier num buraco chamado Dogpatch. Só a recepção parecia poder acomodar milhares de pessoas. Uns jovenzinhos simpáticos procuraram meu nome em um iPad e aí cortinas se abriram.

Segui por um quase desértico e amplo corredor, iluminado por luz negra e decorado com lustres de cristal e enormes urnas brancas de onde despontavam o que pareciam ser gigantescas penas de avestruz.

Quando cheguei na festa de fato, a primeira coisa que vi foi a CEO Marissa Mayer coberta por veludo com um longo vestido de paetês em uma poltrona branca. Os convidados podiam sentar no sofá ao lado dela e posar para uma foto. Ela estava bem grávida - menos de uma semana depois, ela daria luz a dois gêmeos.

(Devo mencionar que passei a maior parte da noite me referindo a ela como "Melissa". Afinal, sou um forasteiro que por acaso mora em San Francisco. Posso presumir que as pessoas com quem falei devam estar pensando que tenho uma amiga imaginária.)

O resto do cavernoso cômodo estava repleto com mais lustres e urnas e até um Rolls Royce antigo. Trapezistas vestidas como melindrosas dos anos 20 serviam torres de champanhe e gente vestida como Gatsby saía por todo o salão como aquelas garotas que vendiam cigarros outrora (só que, no caso, eram balinhas e doces não-lisérgicos).

Já o bufê se espalhava por toda a festa. Cada mesa tinha algo diferente. Havia porçõezinhas de ensopado de mariscos com pãezinhos, dim sum e bolinhos, saladas, curries indianos. Toda a bebida era de qualidade e não faltava nada. Um show burlesco animava a galera.

Reprodução/Vice
Festa de fim de ano do Yahoo
Banda se apresenta durante a festa

Como algo deste porte pode ser sustentável, imaginei, sobretudo para uma empresa azarada como o Yahoo que, no momento, está prestes a passar por uma liquidação épica?

O suposto custo da festa está na casa dos milhões. (Nota do editor: um acionista citou 7 milhões de dólares; já uma fonte com conhecimento dos custos disse ao Motherboard que foi menos que um terço disso.)

O tema? "Os Vibrantes Anos 20".

Por mais que o tema fosse anos 20, a atração principal da noite foi uma boy/girl band cover canadense cuja primeira música tocada foi "Rock Your Body" dos Backstreet Boys. Muita dança e dublagem vieram junto.

Naquele momento, fui atraído ao bar por meio de uma gigantesca placa. Dentro, um salão de jogos com mesas de sinuca com tampos de feltro customizados com os dizeres "The Roaring 20th Year End Party 2015". Cheguei na mesa da roleta e peguei minha nota falsa de 500 paus. Cada pessoa recebia uma na entrada com a explicação de que poderíamos doar nosso ganhos para instituições apoiadas pelo Yahoo. A empresa então doaria uma quantia não-especificada para a instituição que tivesse ganho mais "apostas" dos convidados e as outras receberiam uma espécie de doação de consolação.

Claro que logo perdi toda a minha "grana". Afinal, a casa sempre vence, mesmo quando você aposta na caridade, pelo visto.

Depois que percebi ter visitado todas as mesas do bufê, a vontade de dar no pé veio com tudo. Ciente do perigo de estar perdido tarde da noite no meio do nada sem um Uber por perto, saí por volta da 23h. E foi isso.

Nota do editor: Na segunda-feira, a CNN Money relatou que "um acionista ativista está exigindo que o Yahoo mude radicalmente sua estratégia, demita a CEO Marissa Mayer e até mesmo retome sua antiga marca". O acionista, Eric Jackson, criticou explicitamente a empresa pelo custo de suas festas corporativas. O Yahoo não quis se pronunciar.

Tradução THIAGO "ÍNDIO" SILVA


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