Folha de S. Paulo


É assim que você vai transar no futuro

Salvatore Barbera

Se você já esteve solteiro nos últimos cinco anos e gosta de transar com outras pessoas além de você mesmo, está familiarizado com encontros baseados em tecnologia. Isso está na crista duma onda que aparentemente não vai quebrar tão cedo; as estatísticas variam em tamanho e credibilidade, mas um relatório da Global WebIndex afirma que 91 milhões de pessoas no mundo usam aplicativos de encontros, com cerca de 50 milhões apenas no Tinder.

Segundo o censo de 2012 dos EUA, 44% da população está solteira. Isso significa que cerca de 102 milhões de pessoas oferecem seu "+1" dos convites de festa para o melhor amigo. Então como os start-ups e os chefões do Vale do Silício planejam satisfazer todas essas pessoas?

"As pessoas querem muito transar", disse Michael Raven, um dos fundadores do Tinderus, um serviço de consultoria que, por US$ 50, trabalha seu perfil no Tinder para torná-lo mais atraente. "Uma tendência que estou vendo é que, particularmente do lado feminino, o nível está subindo. Acesso instantâneo a encontros e sexo em potencial significam que podemos ver tudo que há disponível. Por que ficar com o comum quando você pode atrair alguém de um nível mais elevado?"

Esse é um tema com que David Buss, autor de "The Evolution of Human Desire: Strategies of Human Mating", concorda –apesar de ser um pouco mais cauteloso ao discutir o tópico. "Uma previsão quase certa é que mulheres de nível universitário vão achar cada vez mais difícil achar bons parceiros", ele me falou. "Isso se deve a uma confluência de fatores: porcentagens cada vez mais altas de mulheres têm acesso a mais educação do que os homens e, como as mulheres têm preferências mais fortes por não 'se acomodarem', a base delas consiste de caras com cada vez menos instrução, inteligência e renda estável."

Isso levanta uma questão: se 62% dos usuários de aplicativos de encontros são homens, enquanto as mulheres estão procurando caras mais inteligentes e confiáveis, o que vai acontecer conosco, os manés pobres e sem muita educação?

Michael frisa que "aplicativos de encontros vão se tornar mais de um nicho: eles vão começar a abordar o mercado de pessoas comuns". Já vemos isso em coisas como o Ten, um aplicativo que te coloca com pessoas na mesma liga de aparência que você. No Bumble –um aplicativo lançado no ano passado pela cofundadora do Tinder Whitney Wolfe–, fica a cargo da mulher iniciar a conversa com seus "matches", e, se não responderem em 24 horas, eles desaparecem.

Sarah Mick, chefe de produtos e design da empresa, diz que o mundo dos encontros on-line costuma ser "desequilibrado" e que o Bumble tenta criar um ambiente no qual haja "respeito mútuo e equilíbrio de poder que se encaixa nas necessidades de indivíduos e casais".

Michael acrescenta que provavelmente veremos um aplicativo mais invasivo e aprofundado em breve –um que peça "medidas de cintura, seios, pênis, tudo no aplicativo, pronto para que os usuários escolham o parceiro ideal". Na corrida entre essas ferramentas baseadas em localização, ele aponta o Happn como o "primeiro aplicativo de massa a integrar tecnologia de ponta de maneira interessante", apesar de achar que a capacidade de ver a distância em que está a pessoa te mandando mensagem é "relativamente assustadora".

Essa é uma questão que paira sobre os sites e aplicativos de encontro desde o começo. Julia Spira, fundadora do site cyberdatingexpert.com e que se considera "a especialista número um dos EUA em namoro on-line", trabalha essa ideia. Como Michael, ela acha que vamos ver um movimento não só em direção a aplicativos de nicho mas também "para aqueles em que é mais fácil conhecer as pessoas de passagem".

Lendo nas entrelinhas, isso quer dizer encontros sem compromisso. Isso, claro, levanta a questão de quem é o estranho para quem você está mandando mensagem às 11h. "Segurança vai ser um componente importante, e os solteiros vão querer encontrar alguém que um amigo recomendou ou alguém que seja amigo dos seus amigos nas redes sociais, como o Facebook", explica Julia.

Uma empresa que busca oferecer uma solução para isso é a Hello Soda. Utilizando os princípios da rede bayesiana –o que basicamente significa "ver dados e fazer uma análise baseada neles"–, a companhia pode analisar o que você anda fazendo on-line e confirmar que você é realmente a Meg de Nova York, e não o Simon de Nova Jersey. A maneira mais crua de descrever como isso funciona é compará-lo a uma verificação de crédito que –com a sua permissão– verifica seu Facebook, seus tuítes, suas postagens em blogs e suas interações sociais em vez da sua conta bancária.

James Blake, CEO da Hello Soda, destaca que esse serviço pode identificar perfis falsos imediatamente –e, num nível mais harmonioso, "extrair os gostos e os interesses dos membros de seus perfis sociais, fornecendo um meio para conhecer membros baseado em aspectos compartilhados ou disparatados".

Claro, dependendo da sua imaginação, o termo "falso" pode significar qualquer coisa. Um relatório divulgado recentemente prevê que sexo com robôs será mais popular que sexo com humanos até 2050. Sim, o relatório foi financiado pela empresa de brinquedos eróticos Bondara e obviamente foi voltado para gerar manchetes, porém isso não parece tão estranho considerando a tecnologia usável que todos estarão vestindo nos próximos cinco anos.

Você já deve ter ouvido falar do Oculus Rift, um headset que permite entrar imersivamente em mundos de realidade virtual. A "VICE" já testou as capacidades sexuais disso no ano passado no documentário "A Indústria do Amor Digital" e, francamente, isso deixou muito a desejar.

Ayliffe Brown, da Wearable Technologies, conta que, "em cinco anos, acredito que tecnologia usável –brinquedos sexuais controlados pelo celular– será muito popular". Veja uma empresa como a Lovense, por exemplo, que tem dois brinquedos: o Nora (um vibrador) e o Max (um aparelho similar a um fleshlight). Através do aplicativo da Lovense no seu celular, você pode controlar as vibrações dos dois aparelhos, assim como seu parceiro, esteja ele na sua cama ou do outro lado do mundo.

A Fundawear faz roupas íntimas que podem ser controladas remotamente por um parceiro, enquanto a Frixion, uma plataforma social beta, vai usar "telemetria bidirecional em tempo real para conseguir intimidade convincente e orgânica". Em outras palavras: você usa um computador para fazer um robô transar com outra pessoa.

Com todos esses métodos diferentes de interação –cada um discretamente nos desviando da tradição de encontrar uma pessoa na balada, beber seis cervejas e transar–, a pergunta é se a tecnologia vai ou não se tornar a única maneira como os humanos formam relacionamentos românticos.

Claro, se esse resultado improvável se realizar, isso pode não ser algo necessariamente ruim. Como David Buss aponta, independentemente da tecnologia usada para juntar pessoas nesse sentido, conhecer alguém pessoalmente é indispensável, já que esse é o único jeito de saber "se existe química ou não".

Tradução MARINA SCHNOOR


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