Folha de S. Paulo


Zuckerberg lidera nova abordagem para filantropia

AFP
This image obtained December 1, 2015 courtesy of Facebook CEO Mark Zuckerberg shows Mark with his wife Priscilla with their new daughter Max. Facebook co-founder Mark Zuckerberg on December 1 announced he had become a father -- and pledged to give away his fortune to make the world a
O cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, com a filha Max e a mulher Priscilla Chan

A promessa de Mark Zuckerberg de que dedicaria 99% de suas ações do Facebook a causas filantrópicas atraiu atenção imediata pelo tamanho –US$ 45 bilhões à cotação atual das ações–, mas a forma que ele adotou ao fazê-la pode futuramente se provar mais importante que a quantia.

Ao criar uma companhia de responsabilidade limitada encarregada de usar o dinheiro para ativismo político e para investimentos com fins lucrativos, além de para doações tradicionais, Zuckerberg revelou como uma nova geração de empreendedores do Vale do Silício pode vir a abordar o mundo da filantropia.

Doadores estabelecidos se apressaram a elogiar a iniciativa do fundador do Facebook e a instar outros empresários do setor de tecnologia a seguir seu exemplo, enquanto consultores de filantropia afirmaram que o uso de uma companhia de responsabilidade limitada por Zuckerberg, 31, lhe daria muita latitude para buscar seu objetivo de "avançar o potencial humano e prometer a igualdade para todas as crianças".

Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, anunciaram seus planos na terça-feira, quando também anunciaram o nascimento de sua primeiro filha, Max, e escreveram uma carta pública a ela prometendo realizar investimentos de longo prazo, criar novas tecnologias e orientar as políticas públicas de forma a que resolvam os maiores desafios do planeta.

Em um vídeo postado no Facebook que os mostrava sentados em casa, cercados de fotografias de suas famílias, Zuckerberg afirmou que melhorar a educação, promover o avanço da ciência e dar mais força a comunidades envolviam "grandes e complexos sistemas" e que "é difícil mudar essas coisas em curto prazo".

O anúncio surgiu um dia depois que o empreendedor aderiu à Breakthrough Energy Coallition, um grupo de bilionários que está prometendo investir em energia não poluente a fim de transpor "o quase intransitável vale da morte" entre conceitos promissores e produtos viáveis.

Em contraste com uma fundação tradicional, uma companhia de responsabilidade limitada pode se envolver em esforços de lobby e em investimentos com fins lucrativos que beneficiem as causas que ela defende. A estrutura também permitirá que Zuckerberg mantenha controle direto sobre as ações do Facebook que contribuirá para a companhia, que terá o nome Chan Zuckerberg Initiative. O casal diz que todos os lucros dos investimentos serão reinvestidos em projetos filantrópicos.

"A Chan Zuckerberg Initiative buscará realizar sua missão ao financiar organizações sem fins lucrativos, realizar investimentos privados e participar de debates sobre políticas públicas, em todos esses casos com o objetivo de gerar um impacto positivo sobre áreas de grande necessidade", afirmou o Facebook.

A carta deles a Max, enquanto isso, também fala dos benefícios de conectar pessoas à Internet e, via Internet, umas às outras - aspectos essenciais do negócio do Facebook e do trabalho filantrópico da empresa.

"Uma expansão das ferramentas disponíveis é o resultado mais promissor disso tudo", disse Kimberly Dasher Tripp, consultora de filantropia. "É parecido com o desejo da geração milênio de trabalhar com algo que tenha significado. O trabalho deles e a filantropia deles estão se combinando".

Os Estados Unidos oferecem generosos benefícios tributários para as doações assistenciais, e elas podem ser usadas para limitar os passivos relacionados a ganhos de capital, especialmente, ainda que o valor das deduções dependa dos veículos utilizados e do momento das doações e das vendas de ações.

Outros filantropos do Vale do Silício estabeleceram companhias de responsabilidade limitada, entre os quais Laurene Powell Jobs, a viúva de Steve Jobs, antigo presidente-executivo da Apple, e Dustin Moskovitz, que cofundou o Facebook com Zuckerberg. A ascensão desse tipo de filantropia coincide com o interesse ampliado em "investimentos de impacto", cujo objetivo é promover o bem social além de retornos financeiros.

Moskovitz e sua mulher, Cari Tuna, também planejam doar grande proporção de sua fortuna adquirida com o Facebook ainda em vida, e realizaram investimentos com fins lucrativos em inteligência artificial, doações para promover a reforma da imigração, e apoiam organizações assistenciais que beneficiam os moradores de rua.

O Vale do Silício está abordando a filantropia da mesma forma que os empreendedores da tecnologia abordam qualquer desafio: usando dados e trabalhando por tentativa e erro - testes A/B, na linguagem da engenharia -, a fim de desenvolver respostas ambiciosas e ocasionalmente incomuns para problemas duradouros. Sean Parker, um dos primeiros investidores no Facebook, definiu a fundação que criou alguns meses atrás como "filantropia hacker".

Moskovitz e Tuna apoiam o trabalho de uma organização chamada GiveWell que classifica o impacto de diferentes doações e investimentos. "Há argumentos realmente fortes em favor de doar o mais cedo possível, levando em consideração que, quanto mais aprendermos, melhores nos tornaremos nisso", disse Tuna. "Estamos tentando compartilhar o máximo que pudermos sobre aquilo que estamos fazendo e aprendendo, em benefício de outras pessoas que também estão tentando aprender".

Zuckerberg ecoa o sentimento em seu vídeo, afirmando que tem a expectativa de que alguns de seus projetos filantrópicos fracassem. "Como ao fazer qualquer coisa que você tente para promover o bem no mundo, é preciso prática; ninguém será perfeito de primeira", ele disse.

Darren Walker, presidente da Fundação Ford, diz que o plano do casal Zuckerberg para sua fortuna do Facebook "é um chamado à nova geração milênio", encorajando-a a usar sua riqueza para promover a justiça social.

Michael Bloomberg, bilionário empreendedor de mídia e antigo prefeito de Nova York, disse que Zuckerberg havia demonstrado que, para a filantropia, "os 30 anos agora são como os 70 anos". "A abordagem tradicional da filantropia - esperar até a velhice ou a morte para doar - está sendo abandonada, como deveria", ele escreveu. "A questão é: quantos dos colegas dele, no Vale do Silício e mais além, seguirão esse exemplo?"

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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