Folha de S. Paulo


Windows, que ajudou a popularizar os computadores pessoais, faz 30 anos

Há mais de três décadas, quem queria usar um computador precisava decorar comandos e mais comandos. Havia um para copiar arquivos, outro para apagá-los, mais um para abrir uma pasta. Era preciso digitar aquelas palavras uma a uma para ir cumprido tarefas que hoje se completam com alguns cliques, como se estivesse ditando uma receita de bolo à máquina.

Então chegou o Macintosh e, com ele, a interface gráfica: um mundo de ícones e botões ao alcance do ponteiro do mouse. O lançamento do computador pessoal da Apple, em 1984, foi mais ou menos como o do iPhone, em 2007, com direito a apresentação espetaculosa do então diretor-executivo Steve Jobs.

Havia o design elegante, havia o software perfeitamente integrado ao hardware, havia um gerador de voz –longe de ser razoavelmente inteligente como a Siri, é verdade. E havia janelas. Que se provariam, nas duas décadas seguintes, o calcanhar de aquiles do Macintosh.

Enquanto a Apple preparava o lançamento e depois colhia os louros do novo computador pessoal, a empresa de Bill Gates absorvia completamente a ideia dos programas encerrados em pequenas caixas na tela do usuário, com os mesmos botões e ícones.

Em 20 de novembro de 1985, a Microsoft –até então longe de fazer sombra a Steve Jobs– lançou a versão 1.0 do seu sistema operacional gráfico, que incorporava a ideia das janelas do Macintosh até mesmo ao nome: era o Windows, que tiraria da Apple a potencial hegemonia no mercado de computadores pessoais, como o Android faria com os smartphones décadas à frente.

Em retrospecto, a estratégia era a mesma empreendida hoje pelo Google com seu sistema operacional móvel. Enquanto a Apple aposta no monolito de software e hardware embalado no belo design do iPhone, a gigante de Mountain View planejou um programa capaz de funcionar em dispositivos de vários fabricantes, incluindo de aparelhos muito mais baratos que o iPhone –a geração 6s chegou aqui por, no mínimo, R$ 4.000.

A ideia de entregar software a múltiplos fabricantes de hardware rendeu ao Google uma gorda fatia de mercado, segundo dados da IDC sobre vendas de celulares inteligentes. Desde de 2012, o acompanhamento da empresa de pesquisa mostra que o Android foi embarcado no patamar que vai de cerca de 70% a cerca de 80% de smartphones vendidos.

No caso dos computadores pessoais, no resto dos anos 80 e em todos os anos 90, a performance da Microsoft foi ainda mais impressionante. No final do milênio, o Windows, em qualquer das suas versões, estava em 97% dos computadores (de acordo com estudo da IDC e do banco Goldman Sachs), feito ainda mais vistoso considerando-se que desktops e laptops correspondiam à quase totalidade de dispositivos computacionais.

Apenas 3% de todo o mercado era dividido entre todas as fabricantes que apostaram em arquitetura alternativa ao binômio IBM PC (e seus clones)/Windows.

Houve até um tempo em que era a Microsoft, e não a Apple, a atrair um fascínio pop. O sucesso estrondoso do Windows 95, a versão a trazer pela primeira vez o botão "Iniciar", se deveu em parte à campanha publicitária que arregimentou os Rolling Stones e colocou Jennifer Aniston, estrela do seriado "Friends", a ensinar como era simples de usar o novo sistema operacional. Não havia nada de mais amigável no mercado –e os computadores Apple estavam restritos a aplicações gráficas profissionais.

Eis que Bill Gates viu bárbaros a espreitar os muros de seu império. Versão após versão, o Windows foi campeão de vendas, mas sucessivas falhas de segurança e instabilidade remetiam seus usuários à famigerada "tela azul da morte", entidade que assombrava os computadores equipados com o sistema da Microsoft. Depois de uma pane geral, nada se podia fazer a não ser reiniciar a máquina e rezar para que os arquivos estivessem a salvo.

Além disso, a Microsoft via-se às voltas com um processo antitruste que se arrastaria até 2011 e que começou com a acusação de que Bill Gates estaria forçando o uso do navegador Internet Explorer. O Windows já não era tão legal quanto os Rolling Stones.

E então veio o iPod. O lançamento do tocador de música digital tirou a Apple da beira da ruína e trouxe de volta o antigo sex appeal dos produtos imaginados por Steve Jobs e sua equipe de designers e engenheiros talentosos. O usuário comum passou a comprar também os novos computadores da inventora do Macintosh, que abocanhou nos anos seguintes, com o Mac OS, uma fatia importante do espaço ocupado pela Microsoft.

Exatos 30 anos depois do primeiro Windows, os sistemas operacionais dos desktops parecem imitar a tendência do mercado de smartphones. Como o Android, o Windows continua a ser a língua franca, a rodar em uma multiplicidade de dispositivos. Numa fatia menor do mercado, o OS X, como o iOS, reina absoluto no território exclusivo dos produtos da Apple.


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