Folha de S. Paulo


Assistente virtual do Facebook recebe 'mãozinha' de humanos e conta piadas

Karen Bleier/AFP
(FILES) In this May 10, 2012 file photo, a view of and Apple iPhone displaying the Facebook app's splash screen in front of the login page on a computer are shown in Washington, DC. Facebook announced June 29, 2015 it had opened its first African office in Johannesburg as part of its efforts
Facebook quer inteligência artificial com pitada de humanidade

O Facebook está recebendo ajuda de seres humanos para alimentar seus produtos de inteligência artificial e usar seu 1,5 bilhão de usuários mensais para ensinar máquinas a cumprir quase qualquer tarefa.

A maior rede social do mundo aumentou o investimento em inteligência artificial (IA) e contratou acadêmicos que são especialistas no assunto para repensar a cartilha seguida por rivais como o Google e a Apple, já que todos eles desenvolvem assistentes ativados por voz para responder perguntas ou antecipar necessidades.

Alexandre LeBrun, diretor da plataforma de inteligência artificial Wit.Ai, do Facebook, diz que a empresa possuía uma "situação única" por causa da grande quantidade de dados sociais recolhidos dos usuários.

Em vez de criar instruções para uma máquina, como a Apple, a Microsoft e o Google fazem, a companhia formou uma equipe de "treinadores de IA". São seres humanos que trabalham com as máquinas que alimentam M, um assistente virtual a serviço do Messenger, do Facebook, para ajudar os usuários a fazer tudo, desde cancelar uma assinatura de TV a cabo até encomendar flores.

"Tudo é uma questão de dados. Ninguém tem o conjunto de dados do universo de conversas sobre a compra de flores –a única maneira de obter isso é criá-lo", diz ele.

O Facebook aumentou seus gastos em pesquisa e desenvolvimento no ano passado para cerca de 30% da receita, ou quase US$ 1,3 bilhão só no último trimestre. A empresa não informa exatamente como divide seu orçamento de pesquisa e desenvolvimento, mas ele é utilizado para financiar suas apostas de longo prazo, incluindo o desenvolvimento de realidade virtual e inteligência artificial.

Mark Zuckerberg, criador do Facebook e seu diretor-executivo, montou duas equipes de especialistas em AI: uma está focada em produtos, tais como M; a outra se encarrega de realizar pesquisas acadêmicas dentro do Facebook e é liderada por Yann LeCun, cientista da computação que fundou o Center for Data Science (centro de ciência de dados) da Universidade de Nova York.

"Nós realmente achamos que isso vai mudar a maneira como interagimos com softwares e dispositivos, e que terá um papel muito importante na sua vida no futuro", diz LeBrun.

O Facebook adquiriu a start-up de LeBrun, a Wit.Ai, uma plataforma que faz reconhecimento de voz para uma variedade de dispositivos conectados, como tecnologias dentro de carros e de roupas, no início do ano. Ela ainda trabalha com outros dispositivos e combina o que aprende com os seres humanos, na interação com eles, e seu conhecimento sobre como as pessoas usam o M.

LeBrun diz que Zuckerberg está altamente envolvido nessa empreitada. "Fiquei surpreso. Pensei que fosse ver Mark uma vez por ano", diz ele. "Na verdade, não. Ele está muito, muito envolvido no produto em geral e pensa sobre a IA em particular."

M está sendo testado por 10.000 pessoas na área da Baía de San Francisco, mas acabará acumulando uma grande base de dados de pedidos e soluções desenvolvidas por seres humanos a partir de quem a máquina pode aprender.

LeBrun diz que outros sistemas de inteligência artificial, como o Siri, da Apple, e o Cortana, da Microsoft, são mais difíceis de serem melhorados porque os dados que têm para trabalhar são menos ricos. Isso acontece porque os usuários se acostumaram com o que um serviço pode e não pode fazer, e terminam por utilizá-lo apenas para um punhado de tarefas.

Por exemplo, algumas pessoas só usam assistentes ativados por voz para saber sobre o clima, o que não dá aos pesquisadores muitas oportunidades de aprender.

O Facebook, pelo contrário, não programou M para ser capaz de fazer tarefas –nem mesmo as mais básicas, como dar informações sobre o clima.

Depois de estar em uso interno desde março, ele aprendeu a contar piadas. "Aprendeu a buscar piadas a partir de um banco de dados de piadas. No início, não podia fazer isso, então os treinadores iam até o site", diz LeBrun. "Agora ele sabe que, quando recebe esse pedido, vai a determinado website."

No entanto, M é um projeto de longo prazo que enfrenta enormes desafios, já que o que se tenta é ensinar uma máquina a trabalhar em diferentes culturas e línguas.

LeBrun, que passou 15 anos trabalhando com inteligência artificial, diz que encontrou choques culturais entre a forma como empresas americanas e europeias pensam que a IA deveria funcionar, quando estava desenvolvendo um robô de atendimento ao consumidor que interagia em chats on-line ao vivo.

"A cultura da Europa é que eles querem que a IA tenha muita personalidade, que conte piadas e que, se você convidá-la [a máquina] para um encontro, ela siga o jogo e finja estar disposta a ir", diz ele.

"Nos EUA, os departamentos jurídicos ficavam preocupados e diziam que, se você visse alguém convidando a máquina para um encontro ou perguntando se é casada, deveria encerrar o chat."


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