Folha de S. Paulo


Jogadores profissionais de games se tornam 'personal trainers' de novatos

Raquel Cunha/Folhapress
SAO PAULO,SP - BRASIL - 15.10.2015 - O carioca Felippe Martins, 21, ele é jogador profissional de games e trabalha como um
Felippe Martins dá aula do jogo de tiro "Crossfire" para turmas com mais de 100 pessoas

Quando entrava em um combate no game de tiro "Crossfire", Raphael Terras, 25, de São Paulo, atirava para todos os lados, como um doido, e abria espaço para ser atingido. Depois de receber orientação de um professor, entendeu que era preciso planejar cada passo, como se estivesse em uma guerra.

Aulas particulares ou em grupo com gamers profissionais têm se tornado uma forma de melhorar o desempenho e se sair melhor em competições eletrônicas.

Os alunos desses cursos não querem só vencer os amigos: estão de olho em prêmios em dinheiro. O torneio mundial do game "Dota 2", disputado em Seattle (EUA), em agosto, distribuiu mais de US$ 18 milhões aos vencedores. Só o time ganhador levou US$ 6,5 milhões.

O gaúcho Keoma Pacheco, 26, é considerado um dos melhores jogadores de games de luta no Brasil. Tanto que, em junho, alguns amigos fizeram uma campanha de financiamento coletivo para que ele pudesse participar de um dos principais campeonatos de "Street Fighter", nos EUA.

Uma das recompensas para a colaboração era ter uma aula personalizada com ele -em geral, as classes, de uma a duas horas, custam R$ 20.

Durante a orientação, que é feita on-line e em tempo real ou com a troca de vídeos gravados das partidas, ele avalia o desempenho do aluno nos combates e depois explica o que o pupilo está fazendo de errado.

"Eu vejo se ele sabe se colocar no lugar certo da tela para dar o golpe e se é muito agressivo", afirma. Para certos personagens, tomar a iniciativa pode não ser a melhor estratégia, principalmente se o ponto forte do combatente for o contragolpe.

BONS DE MIRA

Felippe Martins, 21, e o colega Bruno Guimarães, 25, faturam cerca de R$ 60 mil por ano com aulas de "Crossfire", e chegam a receber até 120 alunos por mês.

O curso que eles oferecem é uma mistura de ensino a distância tradicional, com vídeos de orientação teórica, e aulas práticas dentro do próprio jogo. Ali, em ação, os alunos têm de mostrar que aprenderam a lição.

Para se comunicar durante os exercícios, os instrutores usam um programa chamado TeamSpeak, parecido com o Skype e bastante popular entre os gamers.

"A gente trata o problema que o time tem. Pode ser o cara que grita no microfone quando está perdendo e deixa todos nervosos ou o que quer jogar sozinho e sem se preocupar com a tática", diz.

Ele, que já representou o Brasil em torneiros em 15 países, começou a dar aulas por ser bem-sucedido nos jogos. Raphael Estima, 25, conhecido como MousqueR entre os jogadores de "League of Legends" ("LOL"), tem uma história diferente.

Estima chegou a ganhar alguns campeonatos menores no Rio Grande do Sul, mas nada muito além disso. No entanto, era bom em teoria e montagem de estratégia. Precisando de dinheiro, publicou em fóruns on-line de "LOL" que tinha intenção de dar aulas. Logo os alunos viram que o trabalho era sério.

Um de seus primeiros alunos se tornou um dos principais jogadores da equipe Dexterity, apoiada pelo Santos Futebol Clube.

Foi o suficiente para que os jogadores de "LOL", cujo torneio mundial vai distribuir US$ 2,1 milhões neste ano, percebessem a importância do acompanhamento personalizado. "Os títulos dele não são meus, mas sinto que tive parte nisso", diz Estima.

No curso, ele tenta fazer com que o aluno entenda por que está usando tal técnica.

"Uma coisa que eu sempre falo é para se perguntarem o motivo de estarem construindo determinado equipamento ou usando certo ataque. Às vezes, eles não sabem por que um personagem é forte ou fraco dependendo do oponente", diz.

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PECADOS NOS GAMES

IR À LUTA SÓ
Games em equipe como "Crossfire" exigem estratégia de grupo. Tentar levar o time à vitória sozinho pode ser sinônimo de enfrentar todos os adversários de uma só vez.

SEGUIR UMA RECEITA
Em jogos como "League of Legends", pontos fortes e fracos dos personagens variam conforme o adversário. Uma tática que dá certo em certa partida não funciona em outra.

POSICIONAMENTO
Saber onde se colocar na tela é importante. Em 'Street Fighter 4', um personagem com menos resistência precisa manter distância dos mais fortes e atacá-los de longe.

FALAR MUITO
Comunicação é um aspecto fundamental para jogos em equipe. Não fique gritando e pressionando os outros jogadores do time no meio de uma partida.


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