Folha de S. Paulo


Mulheres avançam dentro e fora dos games, mas ainda sofrem preconceito

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Evie Frye, uma das protagonistas de 'Assassin's Creed: Syndicate'
Evie Frye, uma das protagonistas de 'Assassin's Creed: Syndicate'

O número de mulheres no mundo dos videogames está crescendo. Segundo levantamento da consultoria Sioux, em 2014 elas já representavam 47% dos fãs de videogames no Brasil. O número é semelhante em países como Canadá, Austrália e Estados Unidos.

Durante a 8ª edição da Brasil Game Show, que terminou nesta segunda-feira (12), em São Paulo, essa presença pode ser sentida claramente. Segundo o organizador, Marcelo Tavares, a expectativa é que no total a feira tenha recebido 35% de público feminino. Em sua visão, dois fatores contribuem para esse aumento de interesse.

"Os enredos estão cada vez mais elaborados, com imersão maior dos jogadores. E a mulher gosta de histórias assim, que acompanham um personagem. E outro motivo é a diversidade de plataformas, como YouTube, jogos em celular. Isso também as aproximou dos games", afirma.

A franquia "Assassin's Creed" se envolveu em polêmica no ano passado, após diretor criativo da produtora Ubisoft afirmar que o jogo não tinha mulheres como personagens principais por ser muito caro o custo da produção. Depois disso, a empresa foi a público prometer personagens femininos fortes. E isso aconteceu no novo lançamento, o "Assassin's Creed: Syndicate", em que os protagonistas são dois irmãos: Jacob Frye e sua irmã gêmea Evie Frye.

Para Lydia Andrew, diretora de áudio do jogo, ambientado na Londres da Era Vitoriana, essa personagem fará com que o público feminino se interesse ainda mais por "Assassin's Creed". "Definitivamente, trata-se de um marco na história dos games essa opção de escolher uma mulher para conduzir a história. É inegável que o aumento das mulheres que jogam está refletindo a dinâmica dos próprios jogos."

ACEITAÇÃO E PRECONCEITO

A youtuber Jéssica Cordeiro, 22, de Fortaleza (CE), já alcançou mais de 550 mil inscritos em seu canal, no qual comenta principalmente o jogo "Minecraft". Ela joga videogame há mais de 15 anos. No início era sempre sob influência do irmão mais velho. Mas, desde 2012, ficou aficionada e então passou a conhecer novos jogos sem a tutela dele. No ano seguinte, resolveu criar o canal, o "Miss Pinguina".

"Eu sempre tive apoio dos meninos e sempre fui muito bem aceita. Muitos meninos assistem ao meu canal por eu ter uma visão diferente, que sai da mesmice. Não é só porque sou fofa", afirma.

As amigas Monique, 15, e Sandy, 14, foram sozinhas à Brasil Game Show. Sandy gosta de jogos como "Guitar Hero" e "Mario", enquanto Monique prefere os de "First Person Shooter" (atiradores em primeira pessoa). Em comum, têm as frases que costumam ouvir. "Falam: 'Não quero jogar com mulher', sem nem saber como elas jogam. Para os moleques, toda mulher é 'noob' [inexperiente]", diz Sandy.

Ela adota uma estratégia quando acontece isso, principalmente para defender a amiga. "Eu falo, 'Ah é? Vamos ver então, joga com ela'. E ela simplesmente humilha os meninos, é muito melhor do que eles."


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