Folha de S. Paulo


Usuários tentam reverter censura a mamilos no Facebook

A canadense Coutney Demone, 24 –que é transexual e está passando por tratamento hormonal para aumentar os seios– lançou na semana passada a campanha "#DoIHaveBoobsNow" ("tenho peitos agora?").

Descontente com os critérios que o Facebook usa para decidir o que pode ou não ser publicado na rede, ela decidiu compartilhar fotos suas durante o processo até que o Facebook e o Instagram "decidam que seus seios se desenvolveram o suficiente para serem censurados".

Desde março, quando a empresa mudou seus "padrões de comunidade", a regra ficou mais clara: são proibidas "imagens de peitos femininos se elas incluírem o mamilo" e "nádegas completamente expostas", assim como descrições escritas de atos sexuais em "vívidos detalhes".

De acordo com Monika Bickert, ex-promotora americana que lidera a equipe global de revisores do Facebook, o objetivo é garantir a segurança dos usuários. "Nós não permitimos genitais e, em alguns casos, topless, a não ser em casos de amamentação ou de imagens pós-cirúrgicas", afirmou durante encontro com jornalistas em São Paulo na última quarta (8).

Segundo ela, é preciso "garantir que a pessoa deu autorização para que aquela imagem tenha sido compartilhada, para evitar problemas como a vingança pornô".

Para Courtney, a justificativa não é satisfatória: "Esse problema não tem nada a ver com mostrar mamilos ou não", defende. "Censurar mamilos de mulheres e não censurar mamilos de homens é uma política duplamente sexista e promove a hipersexualização do corpo feminino."

A brasileira Julia Rodrigues, 29, concorda: "Tem fotos muito mais sensualizadas e eróticas no Facebook. Isso criança pode ver, mas o mamilo, que foi a primeira fonte de alimentação dela, não?".

Também contrária à política do Facebook, a fotógrafa começou em março o projeto "Pode Não Pode". Ela publica retratos de pessoas sem camisa no Facebook para descobrir quais serão consideradas impróprias pelo sistema ou não (veja galeria acima).

Julia Rodrigues sempre usou sua página no Facebook para postar fotos eróticas que tirava para revistas como "Trip" e "Playboy". Quando fazia retratos artísticos que deixavam aparecer mamilos ou seios, no entanto, recebia uma mensagem do Facebook dizendo que a postagem não seguia os padrões da comunidade em relação à nudez.

"Quando, por acaso, a imagem mostrava a sombra de um mamilo atrás da blusa ou só um seio, a foto era denunciada por um usuário ou desaparecia imediatamente", conta.

OUTRAS BARREIRAS

Os critérios usados para remover imagens não são os únicos criticados por internautas. Para Fábio Araújo, administrador do site humorístico Desciclopédia –cuja página no Facebook já foi retirada do ar duas vezes–, a rede social costuma deletar postagens sem analisá-las, apenas com base no número de denúncias recebidas.

"Se a grande maioria não gosta do seu tipo de humor, os dirigentes da rede social vão calar você", diz Araújo. "Existem páginas com menos seguidores que a da Desciclopédia, mas com o mesmo tipo de humor, que permanecem ativas."

Segundo Monika Bickert, o Facebook busca não interferir em brincadeiras ou sátiras que não são ameaças reais de violência. Ela cita como exemplo a frase "Minha professora de matemática passou muita lição de casa, quero matá-la".

Da última vez que o perfil da Desciclopédia foi excluído da rede social, em junho, seus membros fizeram um protesto contra a empresa, publicando mensagens como "na União Soviética, Desciclopédia derruba Facebook".

Araújo diz que não criará mais páginas do site humorístico na rede: "Percebi que não é uma ferramenta adequada para o meu tipo de humor".


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