Folha de S. Paulo


Óculos de realidade virtual fazem alunos viajarem sem sair da escola

Andrew Federman/Divulgação/The New York Times
Alunos de ensino médio em Nova York usam o Cardboard, que usa papelão para tornar um smartphone um visualizador de conteúdo em 3D
Alunos de ensino médio em Nova York usam o Cardboard, que usa papelão para tornar um smartphone um visualizador de conteúdo em 3D

Como parte de uma aula sobre "Romeu e Julieta" no ano passado, Jennie Choi, professora de inglês na Mariano Azuela Elementary School, em Chicago, levou seus alunos de sexta série para uma visita a Verona, a cidade na qual transcorre a ação da peça de Shakespeare.

Durante a excursão, Choi convidou os alunos a estudar a fachada muito diversificada de uma edificação construída há séculos, identificada nos mapas de turismo como "casa de Julieta", onde a família que pode ter servido de inspiração para a criação da heroína fictícia um dia viveu. Ela também encorajou os alunos de sexta série a contemplar com atenção o túmulo deteriorado onde eles podem imaginar que Julieta foi sepultada.

Mas os alunos não tiveram de deixar a sala de aula em Chicago para a visita ao cenário da peça na Itália. Em lugar disso, como parte de um projeto piloto para um novo sistema do Google para viagens de estudo, os alunos de Choi estavam testando visores de realidade visual –feitos de um celular acompanhado por uma estrutura de papelão enquanto a professora usava um app para lhes mostrar visões estereoscópicas da cidade italiana.

"Não funciona ficar em pé diante de uma sala de aula repleta de crianças de 12 anos de idade e só falar", disse Choi, explicando que muitos alunos já tinham acesso a aparelhos como smartphones, laptops e sistemas de videogames, e que por isso estavam acostumados a receber informações visualmente e de forma imediata. Assim, Choi aceitou rapidamente a oferta do Google para colaborar em uma visita virtual de seus alunos a Verona.

"Acho que isso lhes deu compreensão mais profunda da história", disse Choi.

Nesta semana, o Google começou a oferecer o sistema de simulação de viagens de estudo, chamado Expeditions, gratuitamente às escolas, como parte de um esforço da empresa para desenvolver a tecnologia.

MERCADO

A introdução de kits de realidade virtual do Google para as salas de aulas coloca em destaque a crescente importância do setor de educação para as grandes empresas de tecnologia –e a concorrência crescente entre elas. Em 2006, por exemplo, o Google introduziu o pacote Apps for Education, que inclui aplicativos de e-mail, agenda e compartilhamento de documentos em nuvem, distribuído gratuitamente às escolas.

Agora, 45 milhões de estudantes e professores em todo o mundo usam os apps, segundo a companhia. A Microsoft também desenvolveu uma substancial audiência escolar para seu software de e-mail, busca e agenda, bem como para o Skype e outros produtos. No mês passado, a empresa lançou diversos novos produtos para os clientes da área educacional, entre os quais um app para anotações chamado OneNote Class Notebook.

Mas o advento do Google Expedition também é indicativo de uma virada na estratégia do setor. Algumas das mais importantes empresas de tecnologia recentemente tomaram a decisão de se concentrar no design de produtos específicos para uso em sala de aula, em vez de simplesmente modificar seus produtos existentes para empresas ou consumidores e depois comercializá-los junto às escolas.

No ano passado, o Google lançou o Classroom, um app gratuito que os professores podem usar para criar, recolher e comentar os trabalhos escolares dos alunos. No mês passado, o Facebook anunciou que engenheiros da companhia estavam trabalhando com a Summit Public Schools, na Califórnia, para desenvolver software que personalizaria o aprendizado de acordo com as características de cada aluno.

Os engenheiros do Google também trabalharam com professores para desenvolver as viagens de estudo de realidade visual, tomando por base os currículos escolares.

"Havia muito poucos precedentes para o uso dessa tecnologia nas escolas", disse Ben Schrom, gerente de produto do Google Apps for Education. "Sentimos realmente que estamos rompendo o ciclo de fornecer tecnologia ultrapassada a elas."

IMERSÃO

A ideia de viagens de estudo virtuais não é novidade. Alguns professores usam há anos o serviço de videoconferência Skype, da Microsoft, para levar os alunos em visitas a lugares importantes ou convidar especialistas externos a visitar suas salas de aula.

O sistema de viagens de estudo virtuais do Google, porém, oferece maior imersão. E reforça o conjunto de ferramentas da empresa que facilitam a descoberta de lugares distantes –ainda que filtrados pelas lentes do Google.

O Expeditions utiliza visões em 360 graus montadas com base nas fotos do Google Street View, um produto que mostra imagens das ruas. A companhia também está usando um sistema de 16 câmeras, criado pela GoPro, a fim de produzir imagens tridimensionais para a excursões virtuais.

O Google no momento está oferecendo o Expeditions a escolas gratuitamente, mas no futuro a empresa pode cobrar pelo sistema.

"Eu certamente vejo um cenário em que venderíamos esses kits a escolas", disse Schrom. "Depende de nosso sucesso em reduzir os custos até um ponto acessível."

Os kits do Google disponíveis para escolas contêm os visores de papelão da empresa, acompanhados por smartphones Asus que serão usados como telas de realidade virtual pelos estudantes. Os professores empregam um app para orientar as visitas e podem fazer pausas na excursão quando desejarem propor perguntas aos alunos.

Até agora, em colaboração com professores, o Google desenvolveu 100 viagens –entre as quais visitas virtuais à Grande Muralha da China, ao Independence Hall em Filadélfia, e a El Capitán, uma formação rochosa no Parque Nacional Yosemite, nos Estados Unidos. As visitas foram testadas por alunos de matemática, ciências, estudos sociais, idiomas e outras disciplinas.

A empresa tem ambições maiores de usar o Expeditions como ferramenta para levar estudantes em visitas simuladas a universidades, ou ajudá-los a considerar opções de carreiras pelo acompanhamento virtual a veterinários e outros profissionais durante seus dias de trabalho.

No mês passado, a empresa filmou Michelle Obama em sua visita ao Howard Community College em Columbia, Maryland. Executivos do Google dizem que esperam que visitas virtuais universitárias, para mostrar marcos dos campi, a exemplo de pavilhões de ciência, refeitórios e escritórios de assistência financeira, ajudem alunos que não podem viajar muito a pelo menos vislumbrar diversas universidades.

"O ponto nem sempre é oferecer as imagens mais espetaculares", disse Jennifer Holland, gerente de programa do Google Apps for Education. "Mas também poder ver coisas diferentes que de outra forma não estariam acessíveis.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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