Folha de S. Paulo


De nudes a rejeição ao ibope, criadores indicam como ser relevante na rede

Em um evento sobre produção de conteúdo digital como o youPIX CON, que acontece nesta quarta-feira (23) em São Paulo, um tema é praticamente dominante em todas as palestras: Como ter audiência? Como ser relevante no ambiente da internet? Que estratégias adotar para se destacar frente à variedade de conteúdos on-line? Para isso, quatro especialistas debateram o tema. Veja os melhores tópicos da conversa.

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VITOR KNIJNIK, fundador da rede de canais de YouTube Snack

Linha editorial

Famosos procuram a minha empresa para fazer um canal no YouTube. Eles chegam e falam que não gostam de ver vídeos no site. Se você vai para uma plataforma, você tem que ter uma aproximação com ela. Senão é que nem um escritor falar que não gosta de ler. É errada a crença de que somente a imagem da pessoa pública já é suficiente. Não é. Vou dar um exemplo fictício. Se a Gisele Bündchen quisesse criar um canal sobre maquiagem, ia apanhar de outros de maquiagem famosos que já existem. Tem que ter uma linha editorial, sou defensor ferrenho da postura editorial, pensando no público, e não em você.

Primeiro no celular

A discussão sobre os dispositivos móveis deveria ter começado antes aqui, tamanha a importância que tem no atual cenário. Tenho um cliente em que 78% audiência vem do "mobile". A gente tem que começar pensando o produto para esse tipo de aparelho.

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Zé Carlos Barreta/Folhapress
Wagner Martins, sócio da 301.yt
Wagner Martins, sócio da 301.yt

WAGNER MARTINS, fundador da 301.yt, que desenvolve conteúdo para marcas no YouTube

Escravização do conteúdo

O conteúdo é commodity, sim. Vence aquele que conseguir deixar mais vidrado. Toda a mecânica da produção de conteúdo hoje é a de produzir para deixar a pessoa mais tempo ali, ela está viciada para gerar um milhão de visualizações de página. Nesse cenário, a única coisa que conta é como eu entro. Toda essa dinâmica está presa à máxima "faça ficar no conteúdo, não importa o conteúdo". A gente cria um grande sopão pasteurizado. Não tem diferenciação. Como a gente quebra esse cenário escravizador, dando o novo para as pessoas? Falam de algoritmo, personalização, mas todo mundo tem a mesma timeline. No fim das contas não está acrescentando nada.

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FERNANDO LUNA, sócio da editora Trip

Alfabetização de mídia

É preciso ter alfabetização de mídia. Entender como tem tanto conteúdo sendo produzido. Antes tinha meia dúzia de veículos para acompanhar. Hoje você tem milhões. E, com essa oferta, muitas vezes você encontra um conteúdo e não entende muito o contexto dele, porque ele está ali, e isso não faz muito sentido para você. É preciso conhecer os criadores de conteúdo.

Nudes

Queremos entender mais a relação entre sexo e tecnologia, Tinder, "sexting" (troca de mensagens com imagens e vídeos caráter sexual), essas coisas. Para ilustrar, convidamos leitores a mandar "nudes" (fotos deles nus). Virou uma celeuma, como acontece muitas vezes na internet. E perde a argumentação. Comunicação não é o que você fala, é como entendem o que você falou. Todo mundo já deve ter mandado ou recebido um nude. Isso é legal. O que não é legal é quando ela espalha para outras pessoas sem autorização. Isso é pornô de vingança.

Estávamos convidando pessoa adultas. Pode ser fútil mandar nudes, pode, mas eu não quero ser juiz do corpo dos outros. A ideia era concentrar um bando de "nudes" em uma página dupla, de modo que não desse para identificar nenhum, para ter ideia do tamanho. E gerou discussão: Todo nu é objetificante? Isso vale para homens e mulheres? Homens são objetificáveis? A mulher não pode querer mostrar o corpo? Isso é parte do conteúdo.

Ibope

O que você quer na sua mensagem? Falar com o mundo inteiro ou ter importância para quem realmente importa? E, então, chegar às pessoas certas. E não pode ter a métrica do Ibope. Não precisa atingir 30 pontos no Ibope, pode atingir 1 ponto, desde que sejam as pessoas certas. Para mim, uma marca que tenha 50 mil curtidas em uma página é tão relevante quanto a que compra um espaço no "Jornal Nacional".

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GUSTAVO GIGLIO, sócio do blog Update or Die

Aprofundar os temas

O perfil do "Update or Die" é ser bem "estilo de vida", não trabalhamos com pautas. Nossos colaboradores publicam com bastante olhar próprio. Não é um portal comum, é o que a gente sabe fazer. Estamos lançando um projeto novo, com articulistas que falem a fundo sobre temas que dominaram nosso conteúdo ao longo desses anos. O primeiro, por exemplo, será sobre tédio.


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