Folha de S. Paulo


'Rede social não mata o conteúdo, só o organiza melhor', afirma blogueiro

Diego Padgurschi/Folhapress
Thiago Mobilon, criador do Tecnoblog, um dos mais importantes de tecnologia
Thiago Mobilon, criador do Tecnoblog, um dos mais importantes de tecnologia

Thiago Mobilon, 29, mora em Americana, SP, e é fundador do Tecnoblog, um dos maiores blogs de tecnologia do Brasil, com quatro milhões de acessos mensais. No youPIX CON, evento que acontece na próxima quarta-feira (23 ), em São Paulo, falará sobre o atual cenário dos vídeos. Ele conversou com a Folha sobre este e outros assuntos que estarão presentes no evento.

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Folha - Como ser relevante atualmente?

Thiago Mobilon - Hoje com rede social qualquer um consegue audiência, bastam títulos certos, chamadas certas, postagens certas. A questão da relevância que é difícil mensurar. É preciso conteúdo pensado e apuração. Tem que engajar o leitor, e se faz isso por várias frentes. Recentemente introduzimos o podcast, em que discutimos tecnologia de um ponto de vista bem comportamental. Em um deles, "Amor nos tempos de internet", falamos sobre como os relacionamentos amorosos estão mudando com a tecnologia. Teve uma repercussão bem legal.

O segredo é manter a consistência ao longo de muitos anos, quem acompanha não vai esquecer do seu site. Você precisa mostrar que seu conteúdo não é um link efêmero.

É preciso estar em todas redes sociais, em todos lugares?

É difícil generalizar. Você pode aproveitar a rede social do momento e pensar em alguma forma de adaptar para a linguagem e formato dela e isso ser bom para sua marca. Pode gerar empatia, criar conexão e ser bem positivo. Estou no Snapchat há um mês, estou usando como Thiago Mobilon. É mais interessante para o leitor, ele fala: "Olha que legal, o Mobilon está falando comigo".

Nessa questão as marcas e anunciantes estão sempre procurando mais o blogueiro, o vloguer, a personalidade por trás do veículo, porque isso causa maior engajamento.

E o YouTube nesse cenário?

Eu sinto que existe um deslumbramento com o YouTube, pela possibilidade de ser famoso, rico e amado. Já nos blogs as pessoas criavam em busca de cliques e, assim, conseguir uma grana fácil. Isso ainda existe, eu vejo muita gente criando blogs e fazendo chamadas sensacionalistas para ter audiência.

O formato de vídeo chama mais atenção?

Sim, porque permite deixar mais em destaque, dá para ver a expressão corporal, e isso marca para sempre quem está assistindo. É difícil esquecer. Por ser o formato do momento, dá a sensação de que todo o conteúdo migrou para o vídeo. Mas a internet é enorme, é só mais um aspecto. São diferenças de formato. Tem coisas que funciona em texto, tem coisa que funciona em vídeo. Nunca uma vai anular a outra.

Poderia dar alguns exemplos?

Um exemplo é o review de celular. Existem ótimos vídeos de análise de produto, principalmente estrangeiros. Mas, quando você é consumidor e está escolhendo um produto, quer analisá-lo minuciosamente, e não consegue fazer isso no vídeo. Não dá para em cinco minutos falar de todas especificidades do aparelho. A leitura é mais rica, complementa, dá mais detalhes. O vídeo funciona melhor para apresentar o produto.

Tem também vários youtubers que criam o blog e depois do canal. O @mussumalive tem o canal no YouTube em que posta drinks e receitas, e no blog ele posta coisas que não tem nada a ver com o canal. É um complemento, um espaço para colocar banner, publieditorial, convidar para participar de uma ação, etc.

Ainda há vida aos blogs?

Eu acho que sim, tem potencial para crescer. A rede social não mata o conteúdo pessoal, ela só organiza o que não cabia muito bem no blog. Isso abre espaço para que os blogs se concentrem em uma produção de conteúdo mais aprofundado, enquanto as opiniões mais engraçadinhas vão ficar no Facebook.

Se você olhar para o blog lá atrás, vai ver que os posts eram uma coletânea de links. Não tinha como ficar acessando vários blogs. Aí veio o Facebook e facilitou isso ao deixar em destaque.

Como era o seu blog no início? Como está agora?

Em 2006, quando criei, era uma reunião de crônicas tecnológicas, tutoriais de coisas que eu fazia com celular, hacks para fazer no windows, essas coisas. Não tinha notícia, era mais experiência. Em 2008 eu comecei a dar notícia e contratei uma pessoa para me ajudar, e o blog deslanchou.

Nos últimos anos eu estava de saco cheio das notícias de tecnologia. Todo mundo sempre dá a mesma coisa, não faz sentido. Quem quer saber primeiro acessa um blog americano. Estamos produzindo mais análise agora, mais sobre essa parte comportamental da tecnologia. E o resultado está sendo positivo. O tempo on-line aumentou, a interação com o leitor surpreendeu.

Que dicas você dá para quem está começando?

Primeiro, escolher um assunto que domine. Tem que saber que você vai falar o tempo todo sobre o mesmo tema, e isso cansa. Segundo ponto, dar uma estudada no mercado brasileiro, ver o que já tá sendo feito e pensar em maneiras para se diferenciar. Olhe também o mercado internacional, pois em culturas diferentes as pessoas têm ideias diferentes, e às vezes isso pode servir de inspiração.

Eu gosto de falar que produzir conteúdo é similar a fazer trabalho de escola, tem que pesquisar, pensar, escrever. Tem gente que vê o vídeo do Felipe Neto e acha que ele só ligou a câmera e começou a falar. Não tem ideia do trabalho que dá.


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