Folha de S. Paulo


Criador precisa agir como 'atirador de elite' para ser relevante na internet

Danilo Verpa/Folhapress
Phelipe Cruz, que é criador do site Papelpop, voltado ao universo jovem
Phelipe Cruz, que é criador do site Papelpop, voltado ao universo jovem

A cada minuto, 1.500 posts poderiam aparecer na timeline de um usuário do Facebook. No YouTube, 400 novas horas de vídeos são publicadas por minuto. Em apenas cinco meses, o Periscope atingiu 40 anos em tempo de vídeos vistos por dia. No Twitter, 500 milhões de tuítes são feitos diariamente.

Em meio a esse cenário, ganhar relevância na internet tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil. Para Phelipe Cruz, criador do Papelpop, um dos maiores sites de cultura pop do Brasil, com 20 milhões de visualizações de páginas por mês, não existe uma fórmula.

"É como o aluno popular do colégio. Não basta só ser bonito, ou todo aluno bonito seria popular. O mesmo vale na internet. Não é suficiente ter um site incrível ou a pessoa por trás das câmeras ser linda. É difícil explicar o porquê dessa popularidade", afirma Cruz, que participará na próxima semana do youPIX CON, evento sobre produção de conteúdo e negócios digitais.

Mas algumas medidas podem ser adotadas para encurtar o caminho. É com uma metáfora de jogos de tiro que Léo Lopes, criador do primeiro curso de podcast do Brasil, indica como o produtor de conteúdo deve se comportar no ambiente digital para ter relevância.

"Não adianta sair com uma metralhadora e não acertar ninguém. Com um, dois tiros de sniper [atirador de elite], dá para atingir quem precisa". Ou seja, é preciso apostar em um nicho. "É claro que vai limitar, mas, dentro do universo escolhido, o público pode ser muito grande", diz.

E essa aposta certeira fez Samir Naliato, editor do site Universo HQ, há 15 anos. A internet apenas engatinhava no Brasil, em 2000, quando sentiu falta de um site brasileiro voltado aos quadrinhos. No primeiro ano fez um trabalho mais de fã, mas resolveu profissionalizar no ano seguinte.

Não poderia imaginar o tamanho do público consumidor de quadrinhos que existiria anos mais tarde no Brasil. "Os quadrinhos migraram para o cinema. Essa popularização nos favoreceu, pois aumentou muito o público consumidor do meu conteúdo", afirma.

FUGIR DA MANADA

Já Thiago Mobilon, fundador do Tecnoblog, com quatro milhões de acessos mensais, adotou uma tática um pouco radical para continuar sendo relevante e influente na internet: mudou completamente o tipo de conteúdo que vai ao ar. As notícias quentes passaram a ter cada vez menos espaço, enquanto matérias de análises sobre o futuro e impacto das novas tecnologias estão mais comuns.

"Está todo mundo postando a mesma coisa, não faz sentido. O leitor de tecnologia acompanha os principais sites estrangeiros e vai ver a notícia do novo smartphone primeiro por lá. Para que só replicar o conteúdo aqui?", afirma Mobilon.

O desafio nas redes sociais é tão grande quanto. A estratégia da regionalização do conteúdo funcionou para Maurício Cid, do blog de humor "Não Salvo", que tem de 500 mil a 1 milhão de acessos diários. Quando uma notícia curiosa sobre uma cidadezinha no interior do Paraná faz sucesso, Maurício Cid costuma entregar para o público daquele estado um conteúdo mais personalizado. No Facebook, por exemplo, compartilha o material somente com os paranaenses.

"O engajamento costuma ser maior do que se eu colocar para o Brasil inteiro. A pessoa vê a cidade dela no Não Salvo e não acredita, porque não é comum o local ganhar destaque. Por isso faz questão de dividir com os amigos", afirma.

A função de Carlos Medina, diretor geral da São Paulo Digital School, é ensinar aos seus alunos exatamente a ganhar relevância no ambiente digital. E ele percebe alguns comportamentos em comum que funcionam mais como armadilha, dentre eles, a tendência à 'buzzfeedização', com listas que tentam chamar a atenção do usuário.

"Esse tipo de conteúdo descontraído até pode bombar e resultar em um tráfego alto. É bom para gerar lucro com publicidade e pagar as contas, mas nem sempre traz o público que você procura. É preciso saber dosar".

Para Medina, a relevância vai depender da pressa do criador. "Não adianta fazer um post e já começar a investir em campanha achando que vai bombar. É preciso ter conteúdo de qualidade ali dentro. E a relevância é muito difícil de mensurar. Dá para atingir 200 pessoas e ser relevante para essas 200 pessoas."


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