Folha de S. Paulo


Interpol cria sua própria 'dark web' para estudar crimes virtuais

A Interpol, organização internacional de polícia criminal, desenvolveu sua própria "dark web" para recriar o ambiente virtual anônimo usado para comercializar de drogas a assassinatos.

A criação da rede fez parte de um curso promovido na última semana de julho pela Interpol Global Complex for Innovation para identificar os métodos e estratégias usadas pelo crime organizado na chamada internet profunda.

"A "dark web" está rapidamente emergindo como o local preferido para o crime organizado e indivíduos realizarem atividades ilícitas, com a moeda virtual criptografada como método preferido para pagar por esses serviços criminosos", disse, em comunicado, Madan Oberoi, diretor da unidade de inovação cibernética da Interpol.

Durante o treinamento, que durou cinco dias, os participantes assumiam os papéis de vendedores, compradores e administradores de sites na rede para entender melhor a infraestrutura dos serviços escondidos no navegador Tor (usado para acessar a "deep web") e como funcionam os mercados ilícitos.

A Interpol informou, no comunicado, que o curso também incluiu o conceito de penetração nesses mercados para determinar se um sistema é vulnerável a um ataque.

Participaram da primeira sessão de treinamento representantes de Gana, Finlândia, França, Austrália, Japão, Holanda, Cingapura, Indonésia, Suécia, Hong Kong e Sri Lanka. A segunda edição do curso deve acontecer em novembro na Bélgica.

Nas profundezas da internet

O treinamento promovido pela Interpol faz parte de um esforço crescente das autoridades de tentar identificar e combater esses mercados digitais.

Em meados de julho, autoridades dos Estados Unidos e policiais de outros países, inclusive o Brasil e a Polícia Federal, fecharam o fórum on-line Darkode, utilizado por cibercriminosos em todo o mundo. E em maio deste ano, o fundador do site Silk Road, para compra e venda de drogas, foi condenado à prisão perpétua nos EUA.

Segundo Frederico Meinberg Ceroy, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital, o maior problema da "deep web" é justamente a apuração dos crimes. "As transações não são rastreáveis, como na internet tradicional; a investigação depende de agentes comprarem produtos para tentar ligar o criminoso ao envio", disse ele à Folha.

O QUE É

A "dark web" é uma espécie de desdobramento da "deep web", parte da internet que não pode ser descoberta por ferramentas de busca comuns, como o Google, porque não tem links direcionados a ela; a "dark web" é composta por páginas, sites, comunidades e redes de computadores intencionalmente escondidos para preservar o anonimato dos participantes.


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