Folha de S. Paulo


Anúncios falsos na web causam transtornos e irritação a 'vendedores'

O celular de Marco Pires, 34, não parou na segunda-feira (27). Eram mensagens e ligações de dezenas de pessoas que viram um anúncio de vaga de emprego em um escritório de advocacia comandado pelo paranaense.

O problema é que Pires não é advogado nem estava oferecendo oportunidade de trabalho. O anúncio, publicado no site de classificados on-line OLX, era falso, mas trazia seus dados pessoais.

"Quando eu falava que não tinha nada, as pessoas ficavam decepcionadas. Era uma esperança que tinham, ainda mais no momento em que o país se encontra", afirma.

Essa não é a primeira vez que Pires tem os dados divulgados em um anúncio de mentira. Há três meses, recebeu diversas ligações após um anúncio dizer que ele estava doando um cachorro da raça yorkshire.

Reprodução
Anúncio falso na OLX que supostamente oferecia vaga de emprego
Anúncio falso na OLX que oferecia vaga de emprego em empresa atribuída a Marco Pires

O estudante Gabriel Dias, 19, em junho, foi procurado por pessoas em busca de três filhotes de um cão da raça golden retriever, que, segundo um anúncio no site, estavam sendo doados. A propaganda, porém, também era falsa.

"O meu telefone não parava de tocar. No meu WhatsApp, havia mais de cem pessoas me mandando mensagem, e também recebi vários SMS. Mesmo querendo ser o mais compreensivo com os possíveis clientes, depois de um certo tempo a paciência vai se esgotando", diz.

Dias comunicou a empresa de classificados on-line sobre a venda falsa, e o anúncio foi removido um dia e meio depois. A solução do caso de Pires levou algumas horas.

No ano passado, foi a vez de Pedro Menino, 21, receber propostas para vender um iPhone 5S após a propaganda falsa.

Ele mandou um e-mail para a empresa e denunciou a publicidade como falsa, mas a mensagem ficou no ar por quase um dia. "Tive que deixar o celular em modo avião para não receber ligações, pois estava em aula", conta.

Menino afirma que tinha cadastro na OLX e nunca colocou os dados pessoais em outro site. Dias e Pires dizem que seus telefones estavam disponíveis no Facebook, mas apenas os amigos podiam ver.

A Folha entrou em contato com outras pessoas que sofreram com anúncios falsos em seus nomes, sendo algumas menores de idade. Os classificados diziam que elas vendiam celulares e até mesmo um carro.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem, a OLX afirmou que não é possível identificar as razões que levam alguém a postar um anúncio falso ou de onde os dados de contato foram tirados.

"Às vezes é sacanagem, às vezes a pessoa erra um número do telefone na hora de publicar o anúncio. Se for um produto muito requisitado, aí chove ligação mesmo", diz Ana Júlia Ghirello, diretora de operações da empresa.

Ela afirma que a empresa tem buscado proibir essas iniciativas, bloqueando endereços de e-mail, IP e 'cookies' de quem colocava as propagandas mentirosas, além de investir nas equipes responsáveis por checar se os anúncios são verdadeiros. Segundo a empresa, das cerca de 230 mil publicações diárias, apenas 0,1% é falsa.

Quem for vítima de uma propaganda falsa, de acordo com Ghirello, basta entrar em contato com a empresa por e-mail ou clicar para denunciar o anúncio que recebe prioridade no atendimento. O tempo necessário para o site ler a reclamação, avaliar que se trata de uma propaganda falsa e retirá-la do ar é de quatro horas.

"Estamos abertos para quem passou por isso mandar sugestões para nós. Esse tipo de coisa sempre aconteceu. Antes eram pessoas vendendo coisas como um alienígena, por exemplo, nos últimos dois meses percebemos que tem acontecido com dados errados", afirma.


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