Folha de S. Paulo


China alimenta mercado negro virtual de drogas sintéticas ilegais

No site guidechem.com, mais de 150 companhias chinesas vendem o alfa-PVP, também conhecido como "flakka", estimulante que é ilegal nos EUA, mas não na China, ao qual foram atribuídas recentemente 18 mortes na Flórida.

A Qinjiayuan vende aparelhos de ar-condicionado, trampolins e um alucinógeno proibido conhecido como "spice", maconha sintética que provocou uma corrida aos setores de emergência hospitalar dos EUA em abril.
O estimulante mefedrona, às vezes vendido como "sal de banho", é proibido na China, mas é vendido pela Nanjing Takanobu Chemical Company. Ao responder ao telefone sobre a possibilidade de fazer uma remessa do produto ao exterior, um vendedor da empresa disse: "Posso fazer isso para você legalmente ou ilegalmente".

O mercado on-line de drogas é o exemplo mais gritante, segundo autoridades policiais internacionais, da relutância da China em tomar providências contra a venda de drogas sintéticas. O país diz que já fez milhares de prisões e que colabora com forças policiais estrangeiras. Ainda assim, existe a reclamação de que os chineses demonstram pouco interesse em combater o que veem como sendo um problema de outros países com as drogas. "Pequim não vê vantagem em investigar indústrias chinesas que exportam substâncias químicas", disse o ex-embaixador mexicano Jorge Guajardo.

Dados compilados por agências policiais internacionais indicam que a China é hoje um dos maiores produtores e exportadores de drogas sintéticas, incluindo a metanfetamina, e de compostos usados em sua manufatura. Um exemplo é o México. Frente à intensificação da regulamentação das chamadas substâncias químicas precursoras em diversos países, os cartéis mexicanos passaram a buscar suas matérias-primas nas fábricas químicas chinesas.

Laboratórios chineses clandestinos manufaturam e exportam metanfetamina e outras drogas sintéticas para todo o mundo.

Em 2013, segundo relatório das Nações Unidas divulgado em maio, a polícia desmontou quase 390 laboratórios de metanfetamina na China, mais do que em qualquer outro país da região.
Essas manufaturas vêm crescendo, em parte, porque a enorme indústria química chinesa é mal regulamentada e monitorada, dizem autoridades, fazendo com que seja fácil para organizações criminosas desviar substâncias químicas usadas legalmente na produção de medicamentos, de fertilizantes e de pesticidas.

Para contornar as leis que proíbem drogas sintéticas, os laboratórios simplesmente mudam algumas moléculas de seus produtos, criando novas drogas que ainda não são ilegais.

Desde 2008, o número de novas substâncias psicoativas denunciadas ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime subiu para 541, ultrapassando de longe as 244 drogas controladas por convenções mundiais. Frequentemente vendidas como "drogas sintéticas legais" ou "substâncias químicas de pesquisa", essas drogas são criadas com a finalidade de explorar o sistema legal internacional ultrapassado.

Alguns países proibiram gamas inteiras de produtos químicos que imitam drogas ilegais, mas muitos outros não o fizeram. Com fronteiras abertas e diferentes leis sobre drogas, a União Europeia traz amplas oportunidades para o tráfico. "Assim que uma substância é proibida na Alemanha, eles a desviam para a Dinamarca, Suécia ou Áustria", comentou Soren Pedersen, da agência policial europeia Europol
Segundo o mais recente Relatório de Drogas Ilícitas da Comissão Australiana de Criminalidade, divulgado no mês passado, a China foi a maior fonte de drogas ilícitas semelhantes à anfetamina detectadas na fronteira australiana em 2013-2014.

"A China gosta que todos pensem que ela controla tudo", comentou um funcionário da ONU que pediu anonimato. "Na realidade, porém, ela possui uma indústria química enorme, e o Estado não tem capacidade de monitorar e controlar esse setor."

Mesmo quando a China faz prisões, elas podem não ter grande efeito. Durante mais de dez anos, Zhang Lei, conhecido como Eric Chang, produziu milhares de quilos de drogas sintéticas para compradores de 57 países, ganhando US$ 30 milhões apenas com as drogas que enviou aos EUA, dizem autoridades americanas.

A polícia chinesa sabia das atividades de Zhang há anos, mas só o deteve em 2013. Em julho do ano passado, o Departamento do Tesouro americano congelou os bens nos Estados Unidos de Zhang, sua empresa e seus associados. Porém, a empresa dele continua em operação, e seu site em língua inglesa promete entregas internacionais em três dias e reembolso completo se a Alfândega apreender alguma remessa.
A mãe de Zhang, Wang Guoying, 65, negou que a empresa já tenha vendido drogas ilegais.

"Meu filho não é responsável pelo que compradores americanos fizeram com as substâncias químicas que compraram dele", disse. "Nossa empresa é legítima. Se não fosse, por acaso ainda estaria funcionando?"

Laboratórios chineses aproveitam brechas em leis internacionais

O site na internet da China Enriching Chemistry, uma firma de Xangai, oferece remessas internacionais de drogas sintéticas.


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