Folha de S. Paulo


Fabricante indiana de celulares cresce, desbanca Samsung e quer virar global

Parece uma história já contada antes. Uma fabricante de smartphones de um país emergente asiático começa a crescer e a tomar mercado da Samsung. O próximo passo é uma expansão global. E a fórmula do sucesso é a de aparelhos do tipo "bom e barato".

Seguido pela Xiaomi, o roteiro agora mudou de país –sai a China e entra a Índia. O protagonismo cabe ao maior fabricante local, a Micromax.

A empresa tornou-se a décima maior fabricante de celulares do mundo, segundo a consultoria Gartner. Isso com área de atuação restrita a apenas quatro países além de sua terra natal: Bangladesh, Nepal, Rússia e Sri Lanka.

Divulgação
Celular Micromax Unite 3
Celular Micromax Unite 3

A atuação em casa alavanca os números, segundo a consultoria Canalys. Com fatia de 22%, a Micromax alcançou o topo do mercado indiano no final de 2014, deixando a Samsung em segundo (20%).

O mercado indiano é um dos que mais cresce no mundo –no quarto trimestre de 2014, foram vendidas mais de 64 milhões de unidades, segundo a consultoria IDC. A perda de espaço foi mais um fator a contribuir para o 2014 ruim da Samsung.

"A Micromax está deixando de ser uma marca indiana de smartphones para se tornar um provedor de dispositivos e serviços de mercados emergentes", declarou em março Sanjay Kapoor, chefe do conselho da empresa.

No começo de maio, a gigante chinesa Alibaba teria demonstrado interesse em investir US$ 1,2 bilhão na companhia, com o objetivo de entrar no mercado indiano. Nenhuma das partes confirmou o negócio.

Essa, porém, não é a primeira vez que a Micromax inicia um movimento de expansão global. Segundo a imprensa da Índia, a companhia estudou entrar no Brasil em 2010, período em que diversas marcas emergentes tentaram iniciar operação no país. Não deu certo, e a perda encolheu 30% naquele ano.

BRASILEIRAS

O surgimento de marcas locais de países emergentes, como Xiaomi e Micromax, capazes de incomodar gigantes globais levanta a questão sobre o porquê de o Brasil, um dos principais mercados de smartphones no mundo, não conseguir repetir o fenômeno.

"O Brasil não é autossustentável na produção de insumos, como chips e telas", explica Leonardo Munin, analista da IDC no país. "Isso torna as nossas marcas dependentes de fábricas chinesas e indianas". E a importação, claro, esbarra nas altas taxas do país.

Além disso, nomes gigantes, como Samsung e LG, têm estrutura global, com fábricas na Ásia, o que faz com que consigam trazer componentes para o Brasil a preços mais baixos. Isso faz com que essas marcas internacionais consigam baratear seus aparelhos, roubando volume de nomes brasileiros, como a Positivo.

"Outro fator importante é que o nosso varejo oferece o parcelamento no pagamento de produtos nos segmentos intermediários e mais caros, coisa que provavelmente não acontece na China e na Índia", afirma Munin. "E o nosso consumidor acaba optando por marcas globais mais conhecidas".

Segundo ele, o mercado brasileiro tem características de mercados "maduros", nos quais é comum o consumo de aparelhos mais caros e de marcas mais conhecidas. China e Índia ainda não estão nesse patamar.

Mas as marcas brasileiras também têm culpa. "Num primeiro momento, nossas marcas locais não tinham produtos de qualidade tão boa. Isso só começou a mudar agora", afirma Munin. "Mas ainda falta muita coisa para que uma marca brasileira de smartphones comece a se expandir globalmente".


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