Folha de S. Paulo


Google e Apple tentam fazer celular substituir cartão; conheça os sistemas

Jason DeCrow/Disney/Associated Press
Loja da Disney em Nova York preparada para receber pagamentos por Apple Pay
Loja da Disney em Nova York preparada para receber pagamentos por Apple Pay

Em uma tentativa de substituir os cartões de crédito e débito, o Google apresentou um sistema de pagamentos que permitirá o uso de celulares com Android para pagamento de compras em 700 mil lojas nos EUA.

A ferramenta, que pode chegar em breve ao Brasil, foi apresentada no principal evento anual da empresa, realizado na semana passada, em San Francisco.

É a segunda incursão do Google nas finanças pessoais: o Wallet, que ameaçava pôr em xeque os negócios de outros intermediadores digitais, como o PayPal, nunca decolou. E iniciativas parecidas, como da Square, sofrem para se massificar.

Editoria de Arte/Folhapress

A história pode ser diferente agora, dada a força da empresa entre smartphones –em 2014, foram vendidos 1 bilhão de aparelhos com seu sistema operacional.

O Android Pay, como foi intitulada a tecnologia, usa a tecnologia NFC (para transmissão de dados entre aparelhos próximos), com a qual grande parte dos smartphones atuais vem equipada. O sistema também é usado no Apple Pay –análogo da rival que foi introduzido no mercado americano antes, no fim do ano passado.

Para fazer um pagamento, o usuário deve ter as informações do cartão cadastradas na conta do Google. Depois, é preciso aproximar o smartphone do sensor, localizado no caixa de um supermercado, por exemplo, e confirmar a compra –por meio de uma senha ou da leitura de impressão digital nos aparelhos compatíveis.

O executivo responsável pela coordenação do projeto na companhia, Prakash Hariramani, disse que o padrão não deve tardar para ser levado a outros países, incluindo o Brasil. Mas a implantação deve começar por Canadá e mercados na Europa ocidental, como o Reino Unido.

"Como a tecnologia de autenticação é um certificado internacional, logo que alguém começar a implementar isso no Brasil, todos também quererão tê-lo", disse.

No Brasil, as operadoras de pagamentos Cielo e Rede oferecem máquinas equipadas com a tecnologia NFC.

Segundo Luiz Henrique Didier, diretor de inovação da Cielo, o Brasil está pronto para a entrada das empresas de tecnologia no mercado: a maior parte das máquinas da empresa tem NFC (1,4 milhão do total de 2 milhões) e, em até dois anos, todas terão sido atualizadas.

"Com um cartão americano, várias pessoas já fizeram pagamento no Brasil por meio do Apple Pay", conta. "O vendedor está pronto. O que falta é a Apple e o Google falarem com os bancos."

American Express, MasterCard e Visa são parceiras de Apple e Google em suas iniciativas de pagamentos com o celular.

NEGOCIAÇÃO

Para funcionar, os mecanismos dependem da participação das instituições emissoras dos cartões, já que são eles que, no fim das contas, autorizam o pagamento.

Banco do Brasil, Bradesco e Itaú oferecem seus próprios sistemas de pagamento com o celular, por meio de aplicativos, mas em parceria com operadoras.

Nesse segmento, o Google tem como concorrente justamente a sua maior parceira: a Samsung, que está preparando o Samsung Pay para lançar ainda neste ano.

Uma das vantagens do sistema é que ele funciona também com máquinas de cartão convencionais.

Mas o mecanismo só opera inicialmente nos aparelhos "top" do fabricante –o mais barato, Galaxy S6, custa pelo menos R$ 3.299 no Brasil. O Android Pay estará disponível para celulares com sistema nas versões a partir da 4.4 (chamada KitKat).

Para o vice-presidente de pesquisa da empresa de pesquisa Gartner, Van Baker, há espaço para todos nos (há muito tempo) promissores pagamentos digitais. "Ainda é muito incipiente, então há excelente chance de o Google se tornar um fator [importante] nesse mercado."

Por outro lado, diz, nem todos quererão usar esses mecanismos só pela conveniência ou pela novidade. "O comportamento do consumidor não muda rapidamente, e é preciso haver uma boa razão para a mudança. Talvez os vazamentos [como o da rede Target, em que foram acessados dados de milhões de cartões] possam ser um motivador, ao que se tornam mais comuns."

O jornalista YURI GONZAGA viajou a convite do Google


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