Folha de S. Paulo


Gigante chinesa de celular deve sofrer para vender no Brasil

Fenômeno de vendas na Ásia e terceira maior fabricante de smartphones do mundo, a chinesa Xiaomi deve chegar logo ao Brasil, mas precisará se adaptar às especificidades do mercado local para tentar repetir o sucesso.

Desde agosto, a empresa mantém escritório em São Paulo, estrutura as operações no país e organiza esforços para começar a fabricar seus aparelhos aqui-será a primeira fábrica fora da China.

"Eles vão chegar no mercado com o pé na porta" brinca Oliver Roemerscheidt, analista da consultoria alemã GfK.

Um das principais dificuldades, contudo, deve ser tornar a empresa conhecida no Brasil, onde 95% das vendas de smartphones se concentram nas seis marcas mais tradicionais -Apple, Samsung, Motorola, LG, Microsoft (Nokia) e Sony.

"Eles vão ter que quebrar a ideia de que produtos chineses são de baixa qualidade", afirma Leonardo Munin, analista da IDC.

"Outras chinesas já tentaram entrar no mercado brasileiro e fracassaram", lembra Roemerscheidt.

Mas é difícil comparar a Xiaomi a qualquer outra empresa da China.

Em cinco anos de existência, tornou-se a líder de mercado na Ásia vendendo celulares Android que combinam bom hardware com preços abaixo da concorrência.

De 2013 para 2014, a empresa mais do que triplicou suas vendas e dobrou sua receita; no mundo, só perde para Apple e Samsung em número de aparelhos vendidos.

Para Eduardo Trude, da consultoria Teleco, o desconhecimento dos brasileiros sobre a marca deve ser superado se a empresa conseguir reproduzir aqui sua política agressiva de preços.

"O apego às marcas conhecidas não vai ser mais importante que a relação custo/benefício dos aparelhos. O brasileiro, acima de tudo, quer um bom celular, com recursos", afirma Trude.

Outro fato que deve ajudar a entrada da novidade no país, segundo a consultoria IDC, é que um brasileiro, o mineiro Hugo Barra, ex-Google, lidera a expansão internacional da marca.

"A presença dele, que conhece o Brasil, deve ser uma vantagem sobre outras fabricantes chinesas que tentaram entrar no país e fracassaram", diz o analista Leonardo Munin.

LOJA OU SITE

Outro desafio da chinesa será adaptar seu modelos de vendas pela internet à realidade brasileira, em que as lojas físicas de grandes varejistas são o principal canal de distribuição.

No resto do mundo, a Xiaomi vende seus produtos por meio de seu site, sem intermediários. A estratégia ajuda a reduzir custos, mas pode não funcionar aqui, onde o e-commerce representa 20% das vendas do segmento.

Pela página no Facebook da marca, Barra disse que a internet será o principal canal de vendas, "mas não o único". Especula-se que os aparelhos também serão vendidos pelas operadoras.

"Pode ser que comecem só com internet, mas, se quiserem o topo, terão que entrar no varejo", prevê Munin.


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