Folha de S. Paulo


Falar com o celular (com ele mesmo) para usá-lo sem as mãos vira rotina

Até a semana passada, os iPhones de dono brasileiro careciam de um importante traço da personalidade: a voz. Ou, pelo menos, uma voz que falasse português -o que o concorrente Google Now faz desde o ano passado.

Na quarta (8), com a liberação de nova versão do sistema iOS para iPad, iPhone e iPod touch, usuários passaram a poder perguntar "qual é a previsão do tempo?" e a pedir "envie uma mensagem para Joana" ou "marque uma reunião às oito da manhã".

"Já usava Siri em inglês, apesar de não ser fluente na língua", diz o designer gráfico Guilherme Liron, 18. Agora, diz ele, o assistente virtual ficou mais refinado. "Os resultados ficam mais eficientes porque são filtrados para conteúdo no Brasil."

Danilo Verpa/Folhapress
Isabella Alvares usa o Siri, comando de voz do iPhone, que começou a falar português nesta semana
Isabella Alvares usa o Siri, comando de voz do iPhone, que começou a falar português nesta semana

A estudante Isabella Alvares, 21, diz usar a tecnologia todos os dias, mas diz que há ajustes a serem feitos.

"Achei bom para a primeira versão no idioma, mas há lacunas na tradução a serem melhoradas", diz."O português que ela compreende é aquele sem erro gramatical, sem gírias. Isso não acontece na versão em inglês."

Assim como as contrapartidas da concorrência, Siri tem voz feminina, que usa para dar informações mastigadas ("qual é a farmácia mais próxima daqui?") e até estabelecer diálogos.

Segundo pesquisa realizada em dezembro pela empresa Euromonitor com 8.000 pessoas em 17 países (Brasil inclusive), 35% dos consumidores buscam um celular que faz chamadas e envia mensagens sem o uso das mãos.

Um deles é o empresário Henrique Flory, 46, que, revoltado com a carência da língua portuguesa na biblioteca de Siri, criou um grupo no Facebook para tentar chamar a atenção da Apple.

"Sempre considerei isso um descaso para com o consumidor. O Brasil, sozinho, já é um mercado significativo", diz. "A Siri em português foi lançada com alto grau de confiabilidade e eficiência, mas com quatro anos de atraso."

Após sua introdução no mercado americano, o iPhone de topo de linha de então, o 4S, teve bons resultados, vendendo cerca de 1 milhão de unidades na primeira semana. Shaw Wu, analista da empresa de pesquisa Sterne Agee, afirmou à época que isso se devia em grande parte a Siri, novidade que, para ele, "desafiava o senso comum."

A tecnologia de inteligência artificial por trás da Siri foi criada pelo SRI, instituto de pesquisa ligado historicamente à Universidade Stanford, e tem raízes também no projeto Darpa, de tecnologia militar do governo dos EUA.

Integrada a serviços on-line como Wikipédia, Twitter e Bing, o software se adapta conforme o uso para entender melhor as solicitações do seu "dono" no futuro.

Google Now (Android) e Microsoft Cortana também têm a capacidade de se adaptar ao interlocutor. A Microsoft diz que a sua assistente -disponível no Windows Phone e no futuro Windows 10, mas sem versão em português- usa "sabedoria" coletiva de uma base de dados alimentada por todo usuário.

Editoria de Arte

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