Folha de S. Paulo


Sem fortuna, 'rei dos downloads' vive isolamento e risco de extradição

Na última semana de março, a Justiça dos Estados Unidos deu ganho de causa ao governo do país e mandou retirar propriedades, carros, motos aquáticas e obras de arte do alemão Kim Dotcom, 41.

O magnata já foi o rei da pirataria virtual, mas enfrenta uma série de más notícias e vive sob o receio de ser extraditado para os Estados Unidos. Lá, ele responde a uma ação criminal cuja pena, além do ressarcimento em US$ 500 milhões às indústrias fonográfica e audiovisual, pode levar a até 55 anos de cadeia.

Em junho, o empresário pode ser forçado a viajar para o Estado americano da Virgínia, onde deve participar de uma audiência decisiva sobre o processo.

Dotcom é conhecido por ter fundado, há dez anos, o extinto site de compartilhamento de arquivos Megaupload, que em seu ápice chegou a ter 50 milhões de visitantes únicos por dia, gerando 4% do tráfego de toda a web.

Usuários pagavam US$ 260 por uma assinatura vitalícia que dava acesso aos arquivos do site, fechado em 2012. O faturamento era de US$ 175 milhões por ano.

Editoria de Arte/Folhapress

Em 2012, o alemão foi acusado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos de ter usado o Megaupload para a prática de crimes de estelionato, violação de direitos autorais, lavagem de dinheiro e fraude virtual.

Desde então, Kim teve confiscada a fortuna -estimada em US$ 200 milhões à época da condenação- e vive escapando da Justiça, recluso em uma mansão em Auckland (Nova Zelândia). Em 2010, ele obteve visto permanente no país em um controverso processo migratório.

Dotcom coleciona temporadas na cadeia, mas é liberado graças à zona cinzenta das legislações sobre tecnologia e direitos autorais.

O magnata foi abandonado no ano passado por seus advogados por falta de pagamento –ele gastou mais de US$ 10 milhões em encargos nos últimos três anos– e por sua mulher, a modelo Mona Dotcom, que entrou com pedido de divórcio no valor de US$ 17 milhões.

Proibido pela Justiça de circular em um raio além de 80 km, Dotcom sobrevive graças a um abono de US$ 14 mil que é liberado mensalmente pela Justiça neozelandesa para arcar com os custos de vida básicos dele e de cinco filhos.

O empresário coloca a culpa nos Estados Unidos. "Eles sujaram o processo com malícia, acusações e mentiras, mensagens que foram retiradas totalmente do contexto", disse Kim há cinco meses, em uma de suas últimas aparições públicas, via teleconferência, no evento unBound Digital, em Londres.

Ele diz que é perseguido, entre outros motivos, por ser um defensor da privacidade digital, colocando-se como militante ao lado de Edward Snowden, que vazou dados sigilosos norte-americanos.

Dotcom defende-se das acusações argumentando que a raiz do problema é a falta de compreensão, por parte da Justiça, do que é internet -ele diz que estava só operando um disco rígido no espaço virtual e que atendia "100% dos pedidos de retirada de material ilegal".

Kim ainda sustenta alguns negócios além do Mega, como o serviço de streaming de música Baboom e o Megachat, uma espécie de Skype totalmente criptografado, ambos lançados em janeiro.

O empresário anunciou no mês passado, no Twitter, que está trabalhando no Meganet, uma internet paralela e também criptografada que está sendo desenvolvida com base em redes ociosas de aparelhos celulares.

Os projetos, porém, correm grande risco de serem engavetados se o magnata acabar atrás das grades.


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