Folha de S. Paulo


Vídeo ao vivo rende até US$ 15 mil a usuário; empresas investem no setor

Um homem de meia-idade filma seu rosto e conversa com uma plateia on-line enquanto se arrasta, de costas, pelo assoalho da sua casa na Carolina do Norte (EUA).

Ele pergunta a mim e aos outros 85 espectadores, que lhe assistem ao vivo, para onde deve ir durante a performance –ilustrada com pancadas e interjeições de caráter bufão. Envio perguntas por texto, mas o fluxo de mensagens é grande demais para que ele leia todas.

Ao chegar à beira da escadaria que leva ao térreo de seu sobrado, ele faz uma ameaça: ou lhe damos barras de ouro virtuais ou interromperá a sua jornada.

Reprodução
Darrell Tousley (esq.) e seu filho Jared durante transmissão no YouNow
Darrell Tousley (esq.) e seu filho Jared durante transmissão no YouNow

É assim que ganham a vida (entre US$ 500 e US$ 15 mil mensais, dependendo da audiência) os "videologgers" do site YouNow, que exibe vídeos ao vivo de pessoas anônimas, um modelo no qual as gigantes da tecnologia estão investindo forte.

O canal a que eu assistia foi criado por Darrell Tousley, 45, depois de seu filho adolescente Jared virar sucesso de público –e de renda– na plataforma. Nela, os "videologgers" são acompanhados em suas sessões diárias por centenas e até milhares de fãs, que decidem se o programa é digno das gorjetas.

Os canais mais populares são os de apelo para um público adolescente. Seus donos falam inglês, são jovens, muitas vezes belas ou belos, e carismáticos.

"As pessoas adoram espiar o dia a dia de outra", diz a cantora britânica Emma McGann, que se apresenta esporadicamente só para a plateia virtual do site. "É quase o mesmo que tocar na rua."

Dependendo do nível de idolatria inspirado, os fãs competem entre si para alçar o topo de uma classificação: a de quem dá mais dinheiro.

Segundo Adi Sideman, diretor do YouNow, o site tem o número crescente de 100 milhões de usuários. O Twitter tem 288 milhões.

No Brasil, "mercado gigantesco" para a empresa, a expansão do 4G –conexão rápida o suficiente para transmissões móveis– vai ajudar seu crescimento, afirma ele.

O FUTURO, AO VIVO

Na semana passada, o Twitter lançou o Periscope, que permite transmissões audiovisuais imediatas usando a rede social. A aquisição do aplicativo –disponível para iPhone e na web– custou US$ 100 milhões, o que demonstra o tamanho da aposta.

Divulgação
O Periscope, aplicativo de transmissão de vídeo ao vivo do Twitter
O Periscope, aplicativo de transmissão de vídeo ao vivo do Twitter

"A ideia são experiências em tempo real, assim como no Twitter, mas em vídeo", diz o diretor do Periscope, Kayvon Beykpour. "Temos a chance de ser a plataforma em que todos vão mostrar o que acontece no mundo agora."

Há duas semanas, o app independente Meerkat, com exatamente a mesma ideia do Periscope, ascendeu ao quadro dos mais baixados.

O Meerkat se apoiava na estrutura do Twitter para conectar os transmissores e os receptores, e a rede cortou esse canal após o sucesso. A justificativa é que seus termos de uso haviam sido violados.

Na sexta passada (26), o Meerkat recebeu investimento de US$ 14 milhões de um grupo que inclui Chad Hurley, cofundador do YouTube, e a Universal Music Group.

A diferença entre o YouNow e dos dois novos serviços pode ser explicada pelo lado do celular que é usado: a câmera frontal, como num "videoselfie", é a fonte do conteúdo do site. Já no Periscope e no Meerkat, a ideia é mostrar algo que está se passando na sua frente. E, por enquanto, os dois últimos não remuneram os usuários.

A Amazon comprou o Twitch, site de vídeo ao vivo para gamers, por US$ 970 milhões em setembro passado.

ABUSO

Nenhuma das plataformas permite conteúdo sexualmente explícito ou violência. O policiamento é baseado nas denúncias dos usuários, que também devem relatar casos de conteúdo protegido por direitos autorais.

O Meerkat foi banido de alguns eventos no Vale do Silício, cujos organizadores temiam pela privacidade e pelo sigilo dos participantes.


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