Folha de S. Paulo


Projetos incentivam garotas a programar para reduzir disparidades

Quando Camila Achutti, 23, decidiu se graduar em ciência da computação pela USP, ela diz que não imaginava que entraria em uma área dominada por homens. Ainda assim, foi a única mulher da classe de 2013 a se formar.

Determinada a transformar o cenário, Achutti ajudou a trazer para o Brasil, no mesmo ano, o Technovation, um concurso de empreendedorismo digital que incentiva garotas a desenvolver um app de celular que possa resolver um problema da sociedade.

Em seu primeiro ano no país, o programa levou um grupo de estudantes de Santos, no litoral de São Paulo, para a final da competição na sede do Twitter, na Califórnia (EUA). O aplicativo criado por elas, chamado SolidarieAPP, conectava pessoas interessadas em projetos voluntários. Ficou em terceiro lugar.

Nathalia Gomes, 18, era uma das integrantes do grupo. Hoje, estuda química na USP e colabora para a expansão do projeto. "O Technovation mostra que a programação pode ser uma ferramenta útil para mudar o mundo."

Eduardo Knapp/Folhapress
Camila Achutti, 23, que ajudou a trazer o concurso Technovation para o Brasil
Camila Achutti, 23, que ajudou a trazer o concurso Technovation para o Brasil

Em fevereiro, Facebook e LinkedIn anunciaram um projeto colaborativo de programas de mentoria e suporte para elevar o número de mulheres que estudam tecnologia nas universidades.

O Google diz investir, desde 2010, milhões de dólares em organizações e iniciativas exclusivas para garotas, inclusive na Black Girls Code, voltada para meninas negras. A empresa conta ainda com um projeto próprio chamado Made with Code.

No Brasil, a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) nacional investiu no ano passado R$ 10,9 milhões num programa para ampliar o número de estudantes do sexo feminino nas áreas de exatas.

Segundo o Censo da Educação Superior de 2013, do Inep (Instituto de Pesquisas Estatísticas), ciência da computação é um dos cursos de graduação pelos quais os homens mais optam. Enquanto as mulheres preferem pedagogia, enfermagem, serviço social e psicologia.

"O estereótipo da mulher como responsável por cuidar das outras pessoas ainda é forte", diz Achutti, que também é influenciadora digital da faculdade Fiap.

A proporção do cenário acadêmico se repete no mercado de trabalho. E além da baixa inserção de mulheres na área, existe ainda um problema de evasão, segundo Juliana Borin, professora do Instituto de Computação da Unicamp. "No Brasil não há muitas estatísticas sobre isso, mas o ambiente predominantemente masculino pode influenciar a decisão", diz ela. "Isso pode ser intimidador para algumas mulheres."

MENINOS E MENINAS

Achutti tem planos de abrir sua própria escolinha de programação. Para ela, o ensino da disciplina vai ser tão importante quanto o do inglês. Sua iniciativa, no entanto, será para meninos e meninas.

"Não adianta nada inserir um milhão de garotas no mercado de tecnologia se os profissionais atuantes não estão preparados para recebê-las", explica ela. "Se desde pequenos eles trabalharem com elas e compreenderem a diversidade, poderemos cortar o mal pela raiz."

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PROGRAMEM, GAROTAS

PYLADIES
Comunidade mundial de ensino da linguagem Python
brasil.pyladies.com

RAILS GIRLS
Projeto que ensina a linguagem Ruby on Rails
railsgirls.com

MENINAS DIGITAIS
Oficinas de robótica e de criação de jogos e apps
bit.ly/mdigitais

MADE WITH CODE
Projeto do Google que oferece lições de programação on-line
madewithcode.com


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