Folha de S. Paulo


Aplicativos permitem ficar 'íntimo' de estranhos e até acordá-los

No horário programado, seu celular toca indicando que você está recebendo uma ligação de um número desconhecido. Basta deslizar o polegar na tela e um "bom dia" (ou "good morning") chega aos seus ouvidos. Do outro lado, um completo estranho que vive no Reino Unido.

Por até um minuto, os usuários do aplicativo Wakie, disponível para Android, iOS e Windows Phone, têm a oportunidade de ser o despertador (de preferência menos escandaloso e mais humano) de indivíduos aleatórios de qualquer canto do mundo.

Eber Evangelista/Editoria de Arte

O Wakie faz parte de uma gama crescente de aplicativos voltados a promover a interação entre desconhecidos de uma forma mais íntima e tornar as relações pessoais mais humanas (veja outros exemplos ao lado).

É algo diferente do que acontece em outras ferramentas que ficaram famosas no ano passado, como Secret e Whisper, que encorajam os usuários a se expressaram abertamente, para quem quiser "ouvir".

Hrachik Adjamian, cofundador do Wakie, contou à Folha que o alarme social nasceu da percepção de que, quando despertado por ligações de estranhos querendo falar de negócios, em vez de pelo alarme do celular, ele acordava mais disposto.

"A conversa ativa partes do cérebro que nos forçam a interpretar o que é dito e a pensar rapidamente em como responder ao estímulo", explica Adjamian. "É mais eficiente do que apenas desativar o despertador."

A proposta parece ousada, especialmente se imaginado o potencial de chamadas desagradáveis que os usuários podem receber.

Editoria de Arte

Mas, segundo Adjamian, apenas 0,03% das ligações feitas pelo Wakie são trotes. "Quando falamos com um estranho, tentamos ser bons e gentis com ele, porque é uma pessoa nova em nossas vidas", afirma.

No Brasil, os usuários só podem acordar outras pessoas dos seis países em que o recurso de alarme está disponível. Eles não podem ser acordados. A empresa diz que isso deve mudar em breve.

Nesta segunda-feira (9), a Folha conversou com uma usuária da Irlanda e uma dos Estados Unidos –a ligação pode ficar entrecortada dependendo da conexão.

ESTRANHO POR 20 DIAS

Um projeto mais ambicioso do gênero é o 20 Day Stranger, desenvolvido pelo Centro Dalai Lama de Ética e Valores Transformativos, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets). Sua ideia é fazer duas pessoas compartilharem suas vidas entre si por 20 dias, sob completo anonimato.

Kevin Slavin, diretor do grupo de pesquisas Playful Systems, do Media Lab do MIT, disse ao site da revista "Fast Company" que o objetivo era criar algo que conectasse um usuário a um estranho de maneira empática, em vez de suspeita ou duvidosa.

Pelo smartphone, os participantes podem acompanhar quais atividades o outro realiza e que lugares frequenta. As atualizações são automáticas e baseadas em dados de localização e no acelerômetro do aparelho.

20 Day Stranger

Após interpretar que o usuário está pedalando no parque, por exemplo, o aplicativo procura no Instagram e no Google Street View uma imagem dos arredores, que é enviada ao parceiro com uma breve descrição.

O 20 Day Stranger não busca 100% de precisão. "Esperamos que ele revele o suficiente para você construir o imaginário da vida de estranhos em outros lugares", diz a descrição do projeto.

No fim do período de 20 dias, os usuários podem trocar uma mensagem. Esse é o único momento em que se comunicam –uma forma de barrar o envio de conteúdo potencialmente desagradável a alguém.

O 20 Day Stranger ainda está em fase inicial de testes, e, para se inscrever, os interessados devem preencher um formulário no site 20daystranger.com. Por enquanto, o app só funciona em iPhones.


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