Folha de S. Paulo


Filme mostra como bug causou vitória de computador sobre Kasparov no xadrez

Um mau funcionamento do supercomputador da IBM Deep Blue foi positivamente o fator decisivo para o final de uma partida contra a lenda russa do xadrez, Garry Kasparov, em maio de 1997.

É o que mostra o documentário "The Man vs. The Machine", dirigido por Frank Marshall e produzido pelo canal ESPN nos EUA e divulgado nesta quarta-feira (22).

O célebre 44º movimento, no qual o operador do Deep Blue moveu uma torre da posição D5 para D1, teria acarretado em uma perplexidade tamanha em Kasparov que isso o levou à derrota numa melhor de cinco naquele ano.

"O computador fez uma jogada estranha", diz Bruce Pandolfini, professor de xadrez e autor de livros sobre o esporte em entrevista no filme.

Reprodução
Garry Kasparov em cena do documentário
Garry Kasparov em cena do documentário "Signals: The Man vs. The Machine", da ESPN

"Mesmo para mim, que não sou um grande jogador de xadrez, ou sequer um bom jogador, o movimento não faz sentido ofensiva ou defensivamente. E Kasparov não sabia o que isso signifcou", diz Nate Silver, o estatístico editor do site "FiveThirtyEight" que havia publicado a informação pela primeira vez em seu livro "The Signal and The Noise".

Em seguida, o campeão atribuiu o movimento ao que pensava ser uma falta de capacidade sua de projetar mais longe as jogadas, explica Silver.

"Mais tarde, ficamos sabendo por Murray Campbell [cientista canadense, um dos responsáveis pelo Deep Blue] e outros envolvidos que isso foi simplesmente um bug de computador. Foi um erro", diz Pandolfini.

Como há um tempo-limite para uma jogada, e o computador estava executando repetidamente scripts sem conseguir decidir o melhor movimento, ele decidiu fazer algo permitido, mas aleatório, explica Silver. "E provavelmente o pior que poderia ter tomado naquele momento. [Ao confundir Kasparov], foi tão ruim que foi bom."

Kasparov levou a partida, e o erro foi corrigido pela IBM no dia seguinte.

A suposta superioridade do computador fez com que Kasparov jogasse de maneira diferente nas demais partidas do embate, dizem os especialistas na película de 17 minutos.

Na segunda rodada, Kasparov acusou a empresa de estar influenciando a partida, já que o russo considerou uma jogada "demasiado humana". Ele foi derrotado após anunciar desistência.

A batalha terminaria em 3,5 x 2,5 (uma das partidas terminou empatada) para Deep Blue, na primeira vitória de um computador sobre um campeão humano.

"As pessoas esquecem que coisas podem dar errado com máquinas", diz Joel Benjamin, campeão de xadrez americano que foi consultor da equipe responsável pelo desenvolvimento do Deep Blue.


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