Folha de S. Paulo


Com Apple Watch, Apple encerra tradição de nomes precedidos pelo 'i'

Por 16 anos, a Apple utilizou o prefixo "i" nos nomes de seus produtos mais importantes, do iMac ao iPad.

Mas não foi o que aconteceu com o Apple Watch, anunciado nesta terça-feira (9).

A companhia não chamou o seu novo vestível de iWatch, apelido dado ao dispositivo por praticamente toda a mídia especializada e a indústria da tecnologia antes da apresentação.

John Gruber, um importante blogueiro especialista em assuntos da Apple, ressaltou a mudança da tradição em seu twitter: "Descansem em paz iNomes", escreveu.

Mas o que aconteceu?

A Apple já tinha dado dicas de que poderia encarar obstáculos para usar o nome iWatch.

Em maio, o presidente-executivo da Swatch, maior fabricante de relógios do mundo, disse à "Bloomberg" que a empresa estava notificando autoridades de vários países de que o nome especulado para o relógio inteligente da Apple poderia causar confusão com o seu relógio digital iSwatch.

A Apple havia sinalizado interesse em chamar o vestível de iWatch em pedidos de registro de marcas em países como Japão e Coreia do Sul.

Mas essa não é a primeira vez que a empresa se desvia de sua "iTradição". O famoso prefixo foi evitado em toda a linha de MacBooks.

Em 2006, Steve Jobs revelou que a empresa estava desenvolvendo uma set-top box e, na ocasião, disse que o dispositivo se chamaria iTV. Mas quando o produto chegou às lojas no ano seguinte, foi misteriosamente renomeado de Apple TV.

A companhia não explicou a mudança, mas existe uma pista: à medida que cresciam os rumores de um novo produto de televisão da Apple e mídia e analistas de Wall Street ressuscitavam o nome iTV, um executivo da emissora britânica ITV declarou, em 2010, que o canal iria se opor a qualquer tentativa da companhia americana de utilizar a marca.

Mas a Apple não demonstrou timidez para brigar com outras companhias em casos de disputa por nomes de marca em outras oportunidades. Em 2007, imediatamente após a empresa californiana anunciar o iPhone –nome que já era especulado para o produto meses antes–, a Cisco abriu um processo dizendo que possuía os direitos sobre tal nomenclatura desde 2000.

À época, um porta-voz da Apple declarou que o processo era "bobo" e, um mês mais tarde, as duas companhias chegaram a um acordo cujos detalhes não foram divulgados para a imprensa.

A Apple começou a utilizar o prefixo "i" em 1998, quando Jobs, que acabara de retornar à companhia, usou-o no iMac, computador que ajudou a empresa a revigorar seu catálogo de produtos.

No evento em que apresentou o produto a uma empolgada plateia, o executivo disse que o "i" remetia a um monte de coisas, como internet, individualidade, instrução, informação e inspiração.

O jornalista Ken Segall, que fazia parte da agência de publicidade que esteve envolvida na escolha do nome iMac, falou sobre o assunto em seu site, destacando a importância da versatilidade do título.

"Era cativante", escreveu. "Tinha personalidade. Era fácil. Algo que podia ser incluído no nome de novos produtos. Com isso, o iMac tinha boas chances de fazer sucesso". De fato, a Apple passou mais de uma década utilizando o prefixo em produtos como iTunes, iWork, iPhone e iCloud.

Quando servia como presidente-executivo interino na Apple, após o seu retorno, o próprio Jobs foi apelidado de "iCEO" por um tempo pela mídia e por analistas, alcunha que aprovava.

Eventualmente, acabou tirando o termo "interino" de sua posição e virando o presidente-executivo oficial da empresa. E com o Apple Watch, a Apple está desistindo do "i" mais uma vez.


Endereço da página:

Links no texto: