Folha de S. Paulo


Falta estrutura para emissoras investirem em 4k, diz executivo

Gerar, transmitir e exibir vídeos em 8K, sistema que oferece resolução e qualidade de imagem mais de dez vezes superior ao melhor padrão existente hoje, é uma espécie de Santo Graal para a indústria televisiva.

"É o topo, a referência, a isca jogada pelos japoneses. É um desafio totalmente novo", diz Olímpio José Franco, presidente da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), que organiza feira em São Paulo onde estão sendo feitas demonstrações da nova tecnologia.

"É bom que eles estejam indo atrás disso no momento", avalia ele. Durante a Copa do Mundo, já foram feitas transmissões experimentais. A televisão japonesa NHK, que é a principal alavancadora da tecnologia hoje, pretende transmitir a Olimpíada de 2020 usando o sistema.

Mas o "sonho" –como Franco, 66, qualifica a investida– também tem seu aspecto doloroso, suas dificuldades. "Precisa de muita banda para transmitir, é preciso ter meios para carregar esse sinal com robustez, e aí são novas técnicas, muito mais avançadas do que temos hoje", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

A consequência é o sucateamento dos equipamentos atuais. "As instalações que estão sendo feitas hoje nas emissoras ou nas produtoras terão de ser feitas todas de novo. Não se aproveita nada, só os prédios", afirma o presidente da SET.

Talvez por isso as emissoras de televisão não estejam sequer investindo na preparação de transmissões em 4K, sistema também chamado de ultra-alta definição, para o qual já existem televisores no mercado internacional -e começam a aparecer também nas lojas brasileiras, com preços que chegam a passar dos R$ 17 mil.

Apesar disso, nos Estados Unidos começam a crescer as vendas de televisores 4K, segundo Franco. Ainda que as emissoras de TV não transmitam com aquela qualidade, explica, "o consumidor baixa via cabo ou via internet ou por uma Apple TV ou aparelho da Netflix. Os conteúdos chegam em 4K, resolução altíssima, ultra HD. Assistir a um filme que tenha qualidade de matriz num aparelho desses de mais de 60 polegadas é compensador".

Além disso, já estão disponíveis nas lojas norte-americanas conversores para ultra HD –aparelhos que captam a imagem de alta definição gerada pelas emissoras de TV e a transforma em 4K. "Há um ganho de qualidade, é surpreendentemente bom", avalia Franco, que recentemente comprou um conversor desses.

Demonstrações dos dois sistemas -4K e 8K-estão sendo feitas na SET Expo 2014, que começou nesta segunda-feira (25) e vai até esta quarta (27) no Expo Center Norte, com ingresso gratuito (veja horários e outras informações em www.setexpo.com.br).

No caso do 8K, haverá exibição do sistema SuperHi-Vision, da NHK, em televisores de 85 polegadas especialmente preparados para esses experimentos. O 4K terá uma área de exibição no estande da Sony e um projetor de cinema dessa resolução. No geral, cerca de 300 empresas participam da feira.

Além da demonstração de produtos, o evento inclui também congresso e fórum empresarial (pagos), onde serão discutidas tendências tecnológicas, questões políticas e econômicas do setor. Neste último aspecto, pelo menos, Franco diz que o momento é promissor.

"As eleições ajudam. De alguma maneira agitam o mercado, porque tem de ter produção extra, produção extra significa equipamento extra, mais serviço", avalia ele. Além disso, "com esses eventos, a Copa do Mundo e a Olimpíada, o país está de alguma maneira no topo de ter motivação para investimento".

Os números parecem comprovar a tese do executivo. No primeiro semestre deste ano, os fabricantes de televisores entregaram para o comércio 7.928.145 aparelhos. Isso representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos.


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