Folha de S. Paulo


Snowden pede que comunidade tecnológica proteja a privacidade

Jack Plunkett/Invision/Associated Press
Edward Snowden fala por videoconferência durante o festival SXSW em Austin, nos EUA
Edward Snowden fala por videoconferência durante o festival SXSW em Austin, nos EUA

Edward Snowden, antigo prestador de serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA) que expôs documentos que revelaram uma vasta rede de vigilância operada por agências do governo dos Estados Unidos, quer que o setor de tecnologia encare com seriedade a proteção da privacidade de seus usuários.

Snowden, que fez uma palestra via videoconferência na segunda-feira como parte do festival South by Southwest, disse que os adeptos da tecnologia e os empresários que viajam a Austin a cada ano para participar do evento são "as pessoas que podem resolver o problema e defender nossos direitos".

A banca da palestra de Snowden era composta por Christopher Soghoian, o responsável por questões tecnológicas na União Americana das Liberdades Civis (ACLU), e por Ben Wizner, diretor do Projeto de Liberdade de Expressão, Privacidade e Tecnologia da ACLU, e assessor jurídico de Snowden. Os três declararam que desejavam chamar às armas os programadores e ativistas, pedindo o desenvolvimento de instrumentos melhores para proteger a privacidade dos usuários de tecnologia.

Snowden declarou que mesmo as empresas cujos modelos de negócios dependam de recolher dados sobre seus usuários "poderiam fazê-lo de maneira responsável".

"Não é que dados não devam ser recolhidos", ele disse. "Mas eles só devem ser recolhidos e retidos pelo tempo necessário".

Centenas de pessoas assistiram em silêncio à palestra de Snowden. Ele enfrenta acusações criminais de espionagem e fugiu dos Estados Unidos na metade do ano passado, se refugiando na Rússia, de onde estava falando.

Soghoian declarou que o setor de tecnologia em última análise tinha a capacidade de ajudar a resolver o problema.

"A maioria das pessoas comuns não vai querer baixar um app obscuro de segurança", diz. "Preferirão usar os recursos de que já dispõem", que incluem Google, Facebook e Skype.
A comunidade da tecnologia deveria pressionar essas empresas a introduzir medidas de segurança mais fortes e de uso mais fácil, disse Soghoian.
"Precisamos de serviços que incluam segurança como padrão", acrescentou.

A privacidade e a vigilância foram os temas mais importantes na porção tecnológica da conferência SXSW. No final de semana, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, também fez uma palestra por videoconferência.

Em debate na sexta-feira, Eric Schmidt, presidente do conselho do Google, falou sobre a ideia da permanência dos dados —ou seja, de que qualquer coisa que uma pessoa faça online jamais desaparece de todo— como o marco da era digital. Ele disse que não existe botão de apagar, e todos precisamos pensar de forma crítica sobre as impressões que estamos deixando sobre nós mesmos.

Ele também mencionou a possibilidade de que a privacidade online em breve se torne um luxo pelo qual as pessoas pagarão. Schmidt descreveu "ecossistemas em desenvolvimento em torno da ideia da permanência dos dados", por exemplo "pais que fariam seguros contra a possibilidade de que seus filhos ajam como idiotas e digam idiotices on-line".

Os participantes da conferência aplaudiram muito a participação de Snowden, mas o evento gerou algumas críticas. O deputado federal republicano Mike Pompeo, do Kansas, enviou uma carta aos organizadores da SXSW pedindo o cancelamento do evento.

Em sua descrição do evento, os organizadores afirmaram que "a SXSW concorda em que um debate saudável sobre os limites da vigilância é vital para o futuro do ecossistema online".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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