Se uma companhia pudesse adotar uma resolução de ano novo, a da Samsung Mobile provavelmente seria a de manter mais o foco.
A Samsung já foi muito criticada por enfeitar demais seus aparelhos, incluindo o máximo possível de recursos. Mas o novo smartphone e o novo "smartwatch" da companhia, anunciados na segunda-feira (24) em um evento para a mídia na Espanha, adotam como foco serem muito bons em apenas algumas coisas.
A Samsung destacou a câmera melhorada e a duração de bateria mais longa do novo carro-chefe de sua linha de smartphones, o Galaxy S5. Para o smartwatch Galaxy Fit, o foco da empresa foram os recursos de monitoração de saúde.
A Samsung anunciou que dedicou muito tempo a tornar mais inteligente o software da câmera do Galaxy S5. As ferramentas de edição de fotos estão mais enxutas, para facilitar o manejo das fotos depois de tiradas. A Samsung também fez algumas melhoras no hardware e no software da câmera a fim de permitir que ela capture cores mais ricas e vívidas.
Para estender a duração da bateria do Galaxy S5, a Samsung desenvolveu um modo de economia de energia no qual a tela mostra apenas imagens em branco e preto e pode exibir apenas alguns apps selecionados pelo usuário, como por exemplo e-mail e navegação na internet. A Samsung informa que esse modo de economia reduz à metade o consumo de energia.
O celular também permite o uso de uma nova tecnologia de telefonia móvel conhecida como agregação de operadoras. Ela essencialmente permite que o celular baixe dados de múltiplos canais de rádio simultaneamente, em lugar de apenas um canal, o que pode elevar significativamente a velocidade de transferência de dados.
A Samsung também anunciou ter projetado o novo modelo de smartphone para ser à prova d'água em profundidade de até um metro, o que o protege contra o triste destino de muitos celulares prematuramente arruinados, de todas as marcas e variedades. Selos de borracha incorporados ao invólucro ajudam a proteger as partes vitais do aparelho, como a bateria e o chip.
O foco mais estrito que a Samsung adotou para o Galaxy S5 representa uma reversão acentuada do que ela fez ao lançar o Galaxy S4.
O S4 veio repleto de novos recursos de software, tais como a capacidade de atender ao telefone movendo a mão acima dele, ou "rolar" a tela por meio de um movimento de cabeça. Os críticos rejeitaram muitas dessas tecnologias, dizendo que elas haviam sido incluídas apenas por exibicionismo tecnológico.
NOVOS RELÓGIOS
Um exemplo ainda melhor quanto ao foco mais estreito da empresa é o novo smartwatch (relógio inteligente) anunciado pela Samsung na segunda-feira, o Galaxy Gear Fit. Ele oferece ainda menos recursos que seu predecessor, o Galaxy Gear. O aparelho conta com um pequena tela de toque curva, de 1,84 polegada.
Como as pulseiras de exercício produzidas pela Nike e pela Fitbit, ele é capaz de contar os passos do usuário. Também oferece um monitor de batimento cardíaco –uma luz infravermelha pisca no pulso do usuário e lhe mostra a contração de seus vasos sanguíneos a cada vez que o coração bate.
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| Os relógios inteligentes Galaxy Gear 2 e Galaxy Gear Neo, da Samsung |
O Fit não vem com câmera e não usa o sistema operacional Android, do Google. Em lugar disso, funciona com um sistema operacional muito básico para o qual a Samsung nem mesmo tem nome por enquanto. Porque o software é tão leve, o relógio inteligente pode funcionar até três dias sem recarga da bateria, ou seja, três vezes mais tempo que o Galaxy Gear.
O relógio também pode ser sincronizado a certos celulares Samsung para receber mensagens de texto e notificações de e-mail em sua tela.
PREÇOS
A Samsung ainda não anunciou preços para qualquer dos produtos. Mas os passados modelos da linha Galaxy S sempre foram vendidos por pelo menos US$ 200, já considerado o subsídio das operadoras de telefonia móvel.
A Samsung provavelmente vai conduzir uma campanha agressiva de marketing para o Galaxy S5 –os modelos Galaxy S são os mais vendidos da companhia. Mas a versão passada, S4, não vendeu tão bem quanto a empresa esperava, enquanto sua rival, a Apple, reconquistou o terreno perdido no mercado de smartphones de alto preço nos últimos meses.
Não se sabe se o desempenho decepcionante do Galaxy S4 resultou da grande saturação na ponta mais cara do mercado de smartphones, de uma perda de prestígio pela marca Galaxy S ou das duas coisas.
Embora a linha Galaxy seja crucial para a Samsung, a companhia mantém firmemente a liderança como maior produtora mundial de celulares. Isso acontece porque ela vende muitos modelos diferentes, a preços diferentes, em diversos mercados, dos mais humildes aos mais sofisticados.
Em contraste, os iPhones da Apple estão posicionados como telefones para a faixa média e alta do mercado. É por isso que, embora a Apple venda significativamente menos aparelhos que a Samsung, obtém lucro mais alto. No último trimestre, a Apple ficou com mais de três quartos do lucro do setor móvel, enquanto a Samsung ficou com o restante, de acordo com os analistas.
A Samsung informou aos analistas que apertaria os cintos quanto às despesas de marketing com seus produtos móveis, este ano. O discreto lançamento dos dois produtos, e de dois outros smartwatches, que ela se limitou a divulgar por meio de um comunicado, é um reflexo desse corte de despesas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI