Folha de S. Paulo


Análise: Aquisição do WhatsApp une duas visões de mundo opostas

Fechado o negócio de aquisição por US$ 16 bilhões, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, postou em sua página que ele e o ucraniano Jan Koum, criador do WhatsApp, compartilham uma visão de mundo.

No fundo, no fundo, a história é mais ou menos o oposto disso.

O Facebook é a empresa que se orgulha de dizer que seu serviço "é e sempre será gratuito". Se não é pago, como faz dinheiro?

Com uma sofisticadíssima máquina de publicidade, calçada na mais completa base de dados já montada sobre os seres humanos. Seus algoritmos levaram ao estado da arte a capacidade de servir conteúdo altamente direcionado a cada usuário, de acordo com seu perfil demográfico e seus hábitos de navegação.

O que o WhatsApp pensa disso? Com a palavra, seu fundador:

"As empresas hoje em dia sabem literalmente tudo de você, dos seus amigos, dos seus interesses, e usam isso para vender anúncios", escreveu Koum no blog da companhia, em 2012. "A publicidade não significa apenas a ruptura da estética, um insulto a sua inteligência e a interrupção do seu treinamento mental. Em cada empresa que vende anúncios, um parte significativa dos seus engenheiros passa o dia escrevendo códigos para coletar todos os seus dados pessoais."

Koum enfatizava: "Lembre-se: quando há publicidade envolvida você, usuário, é o produto". É com base nisso que ele defendia a cobrança pelo serviço do WhatsApp (US$ 1 por ano). E a quem o que questionava sobre esse pagamento, devolvia: "Já considerou a alternativa?".

Por ora, o modelo do WhatsApp continuará o mesmo, segundo o anúncio de ontem.

Mas Koum vai ter que sempre olhar para a "alternativa" ao se sentar na diretoria do Facebook, ao lado do Zuckerberg –os dois, por sinal, estrelas da abertura do Mobile World Congress, na segunda-feira, em Barcelona.


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