Folha de S. Paulo


Sem gráficos, audiogames estimulam criatividade do jogador em mundos auditivos

"No três, quero que você feche os seus olhos", pede o narrador de "Papa Sangre 2", game de terror para iPhone e iPad que não depende de nenhum gráfico para ser jogado --você é conduzido pela narrativa por meio dos sons.

Desenvolvido pela agência de conteúdo digital britânica Somethin' Else, "Papa Sangre" é um audiogame, um "videogame sem vídeo", nas palavras de Paul Bennun, diretor-executivo da empresa.

Tanto no título original, de 2010, quanto na sequência, lançada em 31 de outubro, a narrativa imerge o jogador no mundo dos mortos, de onde ele só pode sair se recuperar suas memórias, em forma de notas musicais, e sobreviver a monstros das trevas.

Vídeo

"Papa Sangre" e outros games do gênero --que têm ganhado espaço em dispositivos móveis por causa da portabilidade e de sua baixa complexidade gráfica-- brincam com a sensação de tridimensionalidade do som. Esse efeito permite construir um mundo todo ao redor do ouvinte, tornando-o capaz de identificar a direção e a distância dos barulhos.

Os audiogames móveis também se aproveitam de tecnologias comuns embutidas em smartphones e tablets atualmente, como bússola e acelerômetro. Juntos, eles reconhecem para onde o jogador está apontando o aparelho enquanto gira seu corpo para escutar os sons.

Normalmente desenvolvidos por estúdios pequenos, os audiojogos são uma opção de entretenimento interessante para pessoas cegas ou com problemas de visão, uma vez que acessibilidade não parece ser a prioridade da indústria. No entanto, os desenvolvedores deixam claro que qualquer um pode tirar proveito desses jogos.

Editoria de Arte/Folhapress

IMERSÃO

A experiência criada por audiogames é similar àquela que o rádio e o livro proporcionam, em contraposição à da TV. Em vez de ter os elementos visuais da narrativa já mastigados, o jogador precisa criar o ambiente e os personagens em sua mente.

Para o italiano Marco Corradini, 27, cocriador do audiogame de suspense "Vanished", para smartphones, às vezes não damos muita relevância à imaginação.

"Hoje, todos estão sempre tentando chegar a gráficos cada vez mais detalhados", afirma. "Mas temos que nos lembrar do quão importante é a experiência pessoal criada pelo próprio jogador."

"Quando criança, você não precisava de jogos incríveis para se divertir. Só eram necessárias algumas coisinhas. A imaginação fazia o resto."

Colaborou CAMILA MARQUES


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