Folha de S. Paulo


Cerca de R$ 2.000 seria um preço coerente para o PlayStation 4, diz Sony

O videogame PlayStation 4 deveria estar em uma faixa de preço por volta dos R$ 2.000 para ser competitivo no Brasil, segundo sua fabricante, a japonesa Sony.

"Um preço acessível é o mais baixo possível. Seria coerente se estivesse entre R$ 2.000 e 2.000 e poucos reais", disse à Folha o diretor-geral da divisão de videogame da Sony no Brasil, Anderson Gracia. "É o que entendo como sendo competitivo."

O PS4 será lançado no Brasil no dia 29 de novembro, uma semana depois da concorrente Microsoft dar início à venda do Xbox One por R$ 2.199.

Mas como chegar a esse patamar? "Conseguiríamos isso de duas maneiras: subsidiando de forma massiva, arcando com um custo muito maior, ou produzindo localmente. É muito cedo para falar em números exatos, mas [preço de cerca de R$ 2.000] é factível [com fabricação nacional]", diz Gracias.

Depois de anunciar que pedirá R$ 3.999 pelo PlayStation 4, a Sony disse, por meio de seu diretor para a América Latina, estar "frustrada" com o preço, que seria causado por tributos, e que vai tentar acelerar a montagem do aparelho no país.

Por conta da repercussão negativa, a empresa também "abriu as contas" da importação do console, dizendo que, mesmo com o preço nas alturas, a empresa tem prejuízo.

Veja abaixo o gráfico publicado pela empresa, que também pode ser baixado em versão PDF por meio deste link.

Divulgação
Gráfico em que a Sony detalha os tributos que incidem sobre o PlayStation 4
Gráfico em que a Sony detalha os tributos que incidem sobre o PlayStation 4; baixe sua versão completa em PDF

Questionada, a Sony disse que as contas do gráfico não são todas consistentes com os números apresentados já que há cálculos ocultos --e que não poderiam ser exibidos.

Para o presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), João Eloi Olenike, a carga tributária que a Sony diz que pagará é até baixa se comparada às simulações da instituição --que indicam 72% de encargos, mais do que armas de fogo.

Mesmo assim, Olenike acha que os cálculos dedicam uma margem demasiado grande para o varejista, de 16% --segundo ele, o mínimo exigido pelo governo é de 8%, e a média do mercado também é inferior ao que a Sony divulgou.

Alex Jorge, advogado tributarista da Sony, concorda e diz que essa margem "de fato parece excessiva" já que o varejista não "chega a receber isso".

Para o diretor do PlayStation no Brasil, Anderson Gracias, está envolvida nessa questão a falta de "maturidade" do mercado, já que em países com uma cultura de videogame mais consolidada, o lucro dos varejistas fica "entre 2% e 3%".

Em outras palavras, em países como EUA e Japão, as lojas vendem o PlayStation ganhando menos, porque apostam que o consumidor voltará para comprar acessórios e jogos --o que cria um "ecossistema" rentável.

Gracias diz que propiciar o "amadurecimento" do mercado brasileiro, mitigado por impostos e a consequente pirataria, em relação aos videogames é um dos focos da empresa.

PERDA GLOBAL

O executivo diz que o preço que a Sony Brasil paga por unidade do console (US$ 390) é exatamente o mesmo que os revendedores americanos (e os do resto do mundo, diga-se) desembolsam. "É exatamente isso: a Best Buy compra por US$ 390 e vende por US$ 399."

A empresa foi questionada sobre esse preço incluir o lucro da Sony, o que desbancaria a afirmação de a fabricante estar perdendo no país. Segundo Gracias, esse preço é um cenário de prejuízo mundial. "A Sony perde [com a venda do PlayStation 4] globalmente. Produzir um PS4 custa bem mais do que US$ 390. Nesse valor, já existe, então, a questão do subsídio."

Gracias não quis revelar qual o custo do videogame para a fabricante.

Em uma entrevista publicada em setembro, o executivo Masayasu Ito disse ao site "Eurogamer" que a empresa realmente tem prejuízo com o console a US$ 399, mas que esse subsídio é recuperado ao que seu dono assina a rede multiplayer PlayStation Plus (US$ 50 por ano ou US$ 10 por mês nos EUA e R$ 100 anuais ou R$ 20 mensais no Brasil).

Na mesma reportagem, o "Eurogamer" diz ter consultado fontes "confiáveis" que dizem que o custo de produção do PS4 é de aproximadamente US$ 460.

QUEM PAGA A CONTA

Nem todo o mundo concorda que a Sony é vítima do governo nessa história. "A Sony não deveria repassar os impostos para o consumidor. A culpa não é de quem compra, é dever da empresa encontrar um modelo de negócios mais atraente e a prova de que isso é possível é o próprio preço do Xbox One", diz Samy Dana, professor na escola de economia da FGV e colunista da Folha.

"Seria como um cozinheiro cobrar R$ 100 por um prato de arroz e feijão simples com a justificativa de que paga muitos tributos. Todos nós pagamos muitos impostos, isso não pode ser desculpa. Seria muito melhor a Sony estimular a compra do PS4 em outros países ou mesmo sites estrangeiros", completa Dana.

PLAYSTATION 3

O PlayStation 4 está sendo produzido em apenas uma fábrica (da Foxconn, em Yantai, China), ao menos por enquanto, que exporta para o mundo todo. "Isso é diferente do PlayStation 3, cuja produção está dividida entre três plantas, uma delas no Brasil." Neste mês, a Foxconn admitiu que havia trabalho irregular de estudantes na linha de produção do PlayStation 4, mas que medidas seriam tomadas para evitar que isso se repetisse.

A produção do PS3 em Manaus foi iniciada neste ano, o que acarretou em uma queda de preço do console para cerca de R$ 1.000. O adversário Xbox 360 também é montado no Amazonas.

A venda desse console também gerou prejuízo para a fabricante japonesa, durante pelo menos quatro anos, como mostra essa reportagem do "Wall Street Journal".

No ano de seu lançamento, 2005, o Xbox 360 também causava prejuízo a sua fabricante --de US$ 71 por unidade. Desde 2011, é fabricado também no Brasil.

Uma imagem divulgada pela Anatel mostra que o seu novo console, o Xbox One (que chegará no dia 22 de novembro às prateleiras), também será feito no país.

Consultada, a Microsoft disse que não comentaria o caso.

Colaborou ALEXANDRE ORRICO


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