Folha de S. Paulo


Não há cultura de internet maior que a do Brasil, diz editor do site 'BuzzFeed'

O site "BuzzFeed", especializado em textos curiosos e listas com grande apelo popular, como "25 coisas que você deveria contar a seu melhor amigo agora mesmo", fará o lançamento de sua versão brasileira nesta sexta-feira (18).

Para seu editor-chefe, Ben Smith, 36, a publicação de conteúdo do site em português (e a criação de reportagens originalmente lusófonas) é uma boa oportunidade para alavancar a globalização da empresa. "O Brasil é a terra da internet", diz.

Uma versão em espanhol do site será lançada no dia 21, e outra, em francês, no dia 4 de novembro.

Smith falará sobre o desembarque no Brasil no dia do lançamento, durante o evento YouPIX, que será realizado na sexta e no sábado no Rio de Janeiro.

À Folha, o jornalista explicou por telefone como o "BuzzFeed" brasileiro funcionará e enalteceu o que chama de "a maior cultura de internet do mundo". Leia os principais trechos da entrevista.

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CONTEÚDO TRADUZIDO

O Brasil já é gigante para nós, e isso não é uma surpresa, já que é a terra da internet. É o quarto entre os países com maior número de leitores, sendo que todos os outros falam inglês [são EUA, Reino Unido e Índia; o Brasil está à frente de Canadá e Austrália, que também são anglófonos, segundo o ranking Alexa].

Divulgação
O editor-chefe do site
Vídeo de ladrão sendo baleado é uma "escolha fácil" para publicação no site "BuzzFeed", diz o editor Ben Smith

Por isso, acho que é algo natural [criar uma versão brasileira do "BuzzFeed"]. Encaramos isso como uma oportunidade dentro da nossa iniciativa de globalização.

A princípio, traduziremos somente algumas centenas de artigos --que já foram publicados no "BuzzFeed" em inglês e se mostraram mais populares-- e publicaremos alguns originais. Veremos, então, como funcionam as coisas, como é o engajamento, para tentar entender de que as pessoas gostam.

TEMAS

Queremos ser uma fonte de entretenimento de alta qualidade. Não finjo que poderíamos mostrar algo novo para o Brasil. Acho que a cultura web brasileira é maior que em qualquer outro lugar do mundo.

Pegue, por exemplo, esse vídeo maluco de um policial atirando em um cara em São Paulo. O pusemos em nosso site tanto em inglês quanto em português, por ser algo que gera tanta curiosidade.

É uma escolha fácil [publicar o vídeo]. Todos estão falando sobre isso.

Acho que a "web social" não pode ser prejudicial à informação. Acho que os portais [de notícias] são os que promovem títulos "quentes" e enganadores, e que mecanismo de pesquisa força todos a participarem de joguinhos com otimização.

As publicações no Facebook e no Twitter, por outro lado, são assuntos que realmente os preocupam e considerados importantes por eles. O Twitter, por exemplo, é uma máquina de verificação de informação.

POLÍTICA

Todos os brasileiros com quem eu converso me dizem: "Fique longe da política". Acho que vamos começar [no Brasil] como começamos nos EUA. Ainda precisamos ver como vai funcionar [como será a repercussão].

Temos em mente que há muitas diferenças culturais [em relação a temas políticos entre países]. Adoraríamos "crescer", amadurecer os nossos temas, de uma maneira especificamente brasileira. Mas eu não posso dizer que já sei como isso deve acontecer.

MONETIZAÇÃO

Inauguraremos o site com conteúdo puramente editorial [sem propagandas]. Normalmente, as marcas nos pagam por conteúdo patrocinado --mas queremos ver como nos saímos no Brasil, e ver de que nossos leitores vão gostar antes de abrir um escritório.

CONCORRÊNCIA

Não estou certo de que vai haver competição. Os brasileiros passam tanto tempo na internet, buscando as coisas, que acho que há espaço para todo o mundo publicar aí.

Acho que o Brasil tem uma cultura de web gigantesca e muito vibrante. Acho que será muito divertido fazer parte disso, e, eventualmente, expor nossos leitores que falam inglês a essa cultura.

JORNALISMO

[A BBC publicou na terça-feira (15) um artigo em que diz que o "BuzzFeed" e seu estilo são ao mesmo tempo a morte e a salvação do jornalismo]

Rory [Cellan-Jones, autor do texto] soa muito sério. Acho que aqui, nos EUA, ninguém mais acredita que a internet não vai ser algo importante [para o futuro do jornalismo].

Acho que a "web social", que tem como uma de suas características criar títulos que fazem as pessoas clicarem [para abrir um texto] é ótima, já que tem o conteúdo do qual as pessoas de fato gostam. As pessoas não compartilham algo se sentem que foram enganadas, ou trapaceadas de modo que clicassem.

DUOLINGO

A tradução do Duolingo [site de idiomas por meio do qual o conteúdo do "BuzzFeed" será passado para o português] é ótima. Meu português não é muito bom [Smith faz um curso on-line], mas os brasileiros que são de nossa equipe aprovaram.

É bem melhor que o Google Tradutor --os textos não te passam a impressão de serem algo automático. Mas é claro que há questões idiomáticas. Nem todo conteúdo mantém a graça se for traduzido, mas existe uma cultura de internet que imagino ser global.


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