Folha de S. Paulo


Brasileiro que usa moeda virtual bitcoin tem R$ 9.200 'sequestrados' por site de câmbio

No dia 28 de abril, o dono do site brasileiro de câmbio Mercado Bitcoin, Leandro Marciano César, postou uma mensagem no fórum bitcointalk.org dizendo aos usuários de seu serviço que estava enfrentando uma falha de segurança. No dia seguinte, disse que havia sido um ataque, "infelizmente bem sucedido."

Desde então, o empresário André Horta, 29, não teve acesso aos 40 bitcoins (cerca de R$ 9.200) que confiava ao serviço. "Não acredito que eu venha a ser restituído", diz.

Um sócio de Leandro, Rodrigo Batista, disse no dia 5 de agosto que todos os antigos usuários do serviço haviam sido totalmente restituídos.

Entusiastas do bitcoin disseram à Folha que o caso do Mercado Bitcoin se assemelha ao do golpe aplicado mundialmente por uma pessoa identificada como Pirateat40, que prometia com seu serviço dar lucro regular para os usuários e sumiu com estimados US$ 5 milhões.

Em julho do ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regulamenta o mercado financeiro no Brasil, suspendeu a atividade de outro serviço de Leandro, o Bitcoin Rain, que funcionava como um fundo de investimento não regulamentado --o que é proibido.

Esses são exemplos dos desafios que os responsáveis pela moeda digital enfrentam atualmente. "Precisamos trabalhar muito mais para impedir que as pessoas percam seus bitcoins, seja de forma acidental ou criminosa", diz Gavin Andersen, que lidera o desenvolvimento do projeto.

O LADO BOM DO BIT

Apesar de acreditar ter perdido dinheiro, Horta segue sendo um usuário (e um comerciante) assíduo de bitcoin. Cerca de 40% de sua renda atual, segundo ele, provêm da compra e da venda do dinheiro virtual.

Horta, que pôs à venda seu apartamento em Belo Horizonte por 607 bitcoins (único meio de pagamento que diz que aceitará), vai lançar um site de câmbio para a rede Bitcoin brasileira na semana que vem (bitcointoyou.com).

Já Keven Migotto, 18, prefere a "mineração" para participar da rede Bitcoin: o técnico em computação vai comprar componentes no valor de R$ 8.000 para montar um PC e, assim, conseguir mais moedas com a atividade. "Vai dar para ganhar uns R$ 400 por mês", diz.

Adam Levine, fundador do site Let's Talk About Bitcoin!, que discute em um programa de rádio on-line duas vezes por semana a moeda virtual, acredita que o bitcoin dá liberdade a seus usuários. "Pela primeira vez, indivíduos podem escolher entre a moeda de seu país ou a moeda do mundo conectado. Governos sempre terão seu lugar, mas a utilidade do bitcoin é inquestionável."

Sobre a complexidade do sistema, Levine diz: "Você não tem de entender como é criado um dólar para considerá-lo útil. Bitcoin é dinheiro tanto quanto qualquer outra moeda, afinal."

Editoria de Arte/Folhapress

MINERAÇÃO

O consumo de energia elétrica causado pela mineração --processo que mantém a rede Bitcoin operando-- na quinta-feira passada foi de 1.320 megawatts/h, de acordo com o site Blockchain.

A energia seria suficiente para abastecer cerca de 197 mil residências paulistas, com base no balanço estadual referente a 2011.

Como essa eletricidade pode ser gerada a partir de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis, a "Bloomberg" disse que o bitcoin é um "desastre", acusação rebatida pela "Forbes" --que afirma que a quantia é irrisória.

O consumo dos "mineradores" e de seus PCs pode ser visto usando o site blockchain.info/stats.

Colaborou ALEXANDRE ARAGÃO


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