Folha de S. Paulo


Nintendo deverá dar mais atenção a jogos on-line, diz criador de 'Donkey Kong'

Desde que ajudou a inventar a indústria dos videogames ao criar o "Donkey Kong", em 1981, Shigeru Miyamoto, da Nintendo, reinventa repetidamente o setor.

Isso aconteceu principalmente nas décadas de 1980, com a Nintendo Entertainment System --que lançou o "Super Mario Bros." e "The Legend of Zelda"--, e de 2000, com o Wii, que deu início a uma febre ao permitir o controle do jogo por movimentos dos braços.

Fred R. Conrad/The New York Times
Shigeru Miyamoto, guru ainda ativo da indústria de videogames, durante entrevista em Nova York, cercado de réplicas de Luigi
Shigeru Miyamoto, guru ainda ativo da indústria de videogames, durante entrevista em Nova York, cercado de réplicas de Luigi

Numa recente conversa, Miyamoto, 60, falou sobre a violência nos videogames, sobre o Wii U --a mais recente criação da empresa-- e sobre o futuro dos games. Leia trechos:

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"New York Times" - O que o senhor acha da discussão sobre games e violência desde o massacre na escola primária de Newtown, em Connecticut, em dezembro do ano passado?

Shigeru Miyamoto - É um tema ao qual sou muito sensível. Vimos por diversos meios que, quando uma pessoa assiste ou experimenta a violência na tela, há uma certa diversão que as pessoas podem tirar disso.

Mario é um personagem que, sinto eu, não precisa usar armas. Mas, quando se trata de violência, é preciso então perguntar: "Então, se o Mario não usa uma arma, é adequado que Mario bata nas pessoas?".

Na verdade, quando estávamos criando o game "Super Smash Bros.", tivemos discussões muito longas e profundas sobre se achávamos ou não adequado que o Mario batesse nas pessoas.

O Wii U não vendeu tão bem quanto o Wii. O senhor ficou frustrado com essa recepção?

Acho que o Wii U ainda tem um longo futuro. Realmente o vemos como sendo o dispositivo ideal para as famílias.

Muita gente no setor está preocupada com a competição dos celulares e tablets. O Wii U é uma forma de trazer essas telas para um jogo com console, mas o setor se sente muito inseguro atualmente.

No último par de anos, no Japão, vimos um enorme aumento na adoção dos smartphones, a tal ponto que lá as pessoas estão dizendo: "Talvez eu não precise de um console ou não precise de um equipamento portátil para games".

Mesmo assim, lançamos um game chamado "Animal Crossing: New Leaf".

No Japão, ele foi um grande sucesso. As pessoas que o jogam são principalmente mulheres adultas. E mulheres adultas também são, por acaso, o mesmo grupo que tem rapidamente adotado os celulares.

Desde que possamos oferecer uma experiência de entretenimento que as pessoas desejem jogar, elas ficarão mais do que felizes em comprar outro aparelho para levarem por aí com seu smartphone.

O senhor teve muito sucesso ao longo de quase 35 anos. Isso cria uma pressão adicional?

O que eu sempre digo é: "Podemos fazer as regras nós mesmos. Ninguém fez antes. Podemos construí-las à medida que avançamos". Isso para mim é bem mais divertido.

Atualmente, o que é o mais interessante para o senhor nos videogames?

Por muito tempo, a Nintendo não focou tanto nos jogos on-line. Mas agora vemos que há muita gente conectada à internet. Isso abre um tremendo leque de possibilidades.


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