Folha de S. Paulo


'Nova revolução industrial será maior do que a web', diz Chris Anderson

O futuro será manufaturado. Por você, diretamente da sua casa, graças à máquinas como impressoras 3D.

Essa é a visão que o inglês Chris Anderson, 51, um dos principais pensadores da era digital, defende em sua obra mais recente, "Makers - A Nova Revolução Industrial", e na entrevista que deu à Folha, por telefone.

Autor de dois livros --"A Cauda Longa" (2006) e "Free" (2009)-- que lançaram ideias bastante influentes sobre o futuro da web, o ex-editor-chefe da prestigiada revista "Wired" deixou seu antigo emprego em novembro passado para se dedicar a sua companhia, 3D Robotics.

Nela, dedica-se a outro futuro em que acredita: o dos drones, espécie de robôs aéreos dotados de câmeras e controlados à distância, que cumprem diversas funções.

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Maio.2011 - Divulgação/Wired
Chris Anderson, 51, ex-editor da revista
Chris Anderson, 51, ex-editor da revista "Wired" e autor de pensamentos infuentes do mundo digital

Folha - O sr. defende que a próxima revolução virá da manufatura digital. Por quê?

Chris Anderson - É o que acontece quando o modelo de inovação da web encontra a grande indústria. O mundo muda não por causa da tecnologia, mas das pessoas que a utilizam. Quando novas tecnologias se espalham, elas se democratizam, chegam às mãos das pessoas comuns. Se você democratiza algo poderoso como a manufatura, tem uma explosão de criatividade, novas companhias, novos produtos, inovação mais rápida. Foi o que aconteceu há 40 anos com o PC, há 20 anos com a internet. Essa nova revolução industrial será maior do que a web.

Quais são as limitações atuais da impressão 3D?

A situação é parecida com a de 1985, quando tínhamos impressoras industriais com grande resolução, mas, para desktop, tínhamos apenas as matriciais. Hoje a indústria tem impressoras 3D que conseguem imprimir em altíssima resolução usando vidro, aço, ouro, todo tipo de material incrível. É possível imprimir até comida, órgãos humanos feitos com células vivas. Enquanto isso, as de uso doméstico têm resolução baixa e trabalham com plástico. Mas as impressoras atuais estão ficando melhores mais rapidamente do que as de 1985. Impressão 3D multicolorida, de alta resolução, em material condutor, isso será real antes do fim da década.

Sua empresa fabrica drones, e eles têm sido muito criticados por sua utilização militar e por questões de privacidade. Como o sr. vê essas polêmicas?

Nós não fazemos nada [para uso] militar, apenas civil, a maioria para coisas como agricultura. Há muito debate sobre o uso militar, mas isso acontece com qualquer tecnologia, os computadores costumavam ser tecnologia militar, a internet também, e hoje são civis. Em termos de privacidade, é apenas um novo exemplo da discussão em torno das câmeras. As de telefone trouxeram novos desafios ligados à privacidade, as câmeras de tráfego e as webcams também, e agora temos as aéreas [nos drones]. É parte da marcha da tecnologia, as câmeras estão em todo lugar. Posso garantir que seu smartphone é muito mais problemático do que os drones, em termos de privacidade.

Devemos nos habituar a viver com menos privacidade?

Está muito claro que gerações diferentes têm visões diferentes sobre quanta privacidade querem ter. Na Europa, a visão é que o governo deve proteger a privacidade [dos cidadãos], nos EUA não, ela é vista como uma questão de escolha pessoal. A prática nos EUA é informar e deixar as pessoas decidirem quanto elas querem compartilhar. As empresas nem sempre são boas nisso, mas essa é política geral, o usuário escolhe quanta privacidade quer. Se você escolhe muita privacidade, talvez o serviço não seja tão útil. A única solução é deixar claro para as pessoas e deixá-las decidir se querem fazer essa troca. Não há uma regra única sobre privacidade que sirva para todos.

O "NYT" noticiou recentemente que um número sem precedentes de start-ups estão avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais. É uma nova bolha?

Estou nessa área há 12 anos, e as pessoas me perguntam isso quase todo ano. Posso dizer que, diferentemente da bolha de 1999/2000, que derrubou mercados de ações inteiros, porque quem investia eram pessoas comuns, agora estamos falando de investidores profissionais. Então, se houver uma bolha, não acho que haja um risco social.

A liderança do Vale do Silício em inovação digital pode ser ameaçada por outros países?

Não pensamos mais em termos geográficos. Eu vivo no Vale do Silício, que tem a maior densidade de empresas tecnológicas, mas tenho uma fábrica em San Diego, outra em Tijuana, temos parceiros em Zurique (Suíça), um de nossos principais desenvolvedores está em São Paulo. Encontramos tecnologia interessante e boas companhias em todo lugar.


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