Folha de S. Paulo


Aplicativos ajudam a relembrar o passado nas redes sociais

Minha temporada de férias em 2011 foi agitada. Em apenas uma semana, fui a uma festa no Bowery Ballroom, em Nova York, ao lançamento de um filme e a um jantar de gala em torno de Justin Bieber. Alguns dias depois, vi o filme "Young Adult", comprei presentes para o Natal e compartilhei pratos de massa caseira com alguns amigos.

Sei de tudo isso não por ter uma memória sobre-humana. Meu dom de relembrar com minúcias é uma cortesia de vários aplicativos nos quais me inscrevi, incluindo Timehop e Rewind.me. Eles vasculham o histórico das minhas redes e enviam lembretes diários de antigas postagens.

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Timehop, que vasculha o histórico do usuário nas redes e envia lembretes diários de antigas postagens
Timehop, que vasculha o histórico do usuário nas redes e envia lembretes diários de antigas postagens

Enquanto as redes sociais informam aos seus usuários o que está acontecendo neste exato momento, esses serviços documentam o que se passou um ou mais anos atrás. Eles baseiam-se em dados pessoais espalhados pela internet, que são facilmente recuperados com a ajuda da engenharia avançada e de algoritmos de softwares.

O Timehop e seus congêneres são subprodutos dessa era marcada pelo excesso de informação.

Muitos de nós mal conseguem acompanhar o fluxo incessante de notícias, atualizações e detalhes sobre o mundo ao nosso redor, quanto mais achar tempo para inserir o passado no contexto atual.

"Toda rede social baseia-se no tempo real", disse Jonathan Wegener, um dos fundadores do Timehop. "Elas tendem a empurrar informações antigas para baixo, mas não deixam espaço para que elas sejam lembradas."

Wegener entrou para um pequeno grupo de empreendedores que buscam lucrar com uma espécie de arqueologia da era da internet, escavando a profusão de dados que deixamos na rede. Sua aposta é que, na mesma medida que as pessoas querem canalizar detalhes da vida cotidiana para a internet social, elas também vão querer lembretes sobre os aniversários dessas experiências.

As pessoas que se inscrevem no Timehop, por exemplo, podem ver o passado de amigos em mídias sociais, desde que eles também usem o serviço. Caso optem por isso, os usuários do Timehoop podem enviar suas lembranças para outras redes sociais.

Obviamente, exumar o passado só é divertido até você tropeçar em algo desagradável. No meu caso: fotos de um gato de estimação que morreu. Wegener disse que muitos usuários solicitam recursos para bloquear uma pessoa ou impedir que um período seja divulgado.

Ainda não se sabe se esses aplicativos têm potencial econômico a longo prazo. O Timehop afirma estar mais focado em atrair pessoas para seu aplicativo do que preocupado em como ganhará dinheiro. A empresa já levantou cerca de US$ 1 milhão junto a investidores.

Alguns pesquisadores que estudam as interações humanas on-line dizem que esses serviços podem se valorizar muito em um prazo mais longo.

Por uma razão: eles podem nos lembrar exatamente o quanto "pode durar a meia-vida de nossas pegadas digitais", disse S. Shyam Sundar, diretor do Media Effects Research Lab na Universidade Estadual da Pensilvânia. "As pessoas que nunca pararam para pensar que suas postagens digitais seriam arquivadas poderão se conscientizar mais a respeito de suas ações on-line."


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