Folha de S. Paulo


'Internet profunda' abriga de dissidentes a pedófilos

Todos os papéis vazados pelo WikiLeaks apareceram primeiro lá. Dissidentes chineses e iranianos a usam para driblar a censura on-line em seus países. Mas nela também se hospedam assassinos de aluguel e pedófilos.

A "deep web" --ou internet profunda-- é, em resumo, uma parte da rede a que buscadores comuns não chegam. Essa definição inclui diversos tipos de sites: os que exigem senha, os que não têm links direcionando a eles, os que variam de acordo com o usuário que está acessando etc.

Também entram nessa categoria os sites hospedados no Tor (The Onion Router), rede que procura garantir o anonimato tanto de sites quanto de usuários. É aqui que, por exemplo, fica boa parte da pornografia infantil.

Criado em 2002 pelo Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA, que procurava um método seguro de transmitir informações, o projeto é independente do governo há dez anos e, desde 2006, passou a ter uma organização própria que o financia.

Ao embaralhar diversas vezes as informações, dificultando muito o rastreamento, o sistema tornou-se sinônimo de acesso à web profunda. Ele pega um dado a ser transmitido e, ao enviá-lo, o codifica e recodifica em várias camadas --daí o "onion" ("cebola", em inglês).

Esses pedaços de informação passam por diversos computadores até o ponto final. Um site hospedado na rede, por sua vez, faz o mesmo.

Diferentemente do que acontece na internet comum, em que as informações são trocadas diretamente entre IPs (os "endereços virtuais" dos usuários), o sistema da web profunda combina um ponto de encontro na rede para que todas as informações sejam trocadas. Os endereços hospedados na rede Tor terminam sempre com.onion, caso do Silk Road, e são acessados apenas pelo browser Tor.

Além disso, têm URLs enigmáticas, com diversas letras e números sem sentido aparente --o endereço do Tormail, principal serviço de e-mail baseado na rede Tor, serve como bom exemplo: jhiwjjlqpyawmpjx.onion.

DIFÍCIL DE ACHAR

Começar a navegar na rede Tor não é tarefa fácil. A primeira impressão é a de ter pegado uma máquina do tempo para o fim dos anos 90: como muitos dos usuários bloqueia extensões em Java e Flash, temendo ser identificados, os sites são bem feios.

Após baixar o browser que possibilita o acesso, fica difícil saber aonde ir sem ter à disposição um sistema de busca completo. Não dá para "dar um Google" no Tor. É por isso que listas de sites são bastante populares.

O mais famoso deles é o Hidden Wiki, que lista e categoriza centenas de sites de acordo com uma breve resenha. Há outros que seguem a mesma dinâmica, como o Tordir.

Apesar de ser composto principalmente por conteúdo considerado legal, como "ativismo" e "livros", há categorias como "pornografia infantil" e "redes de crime".

Nesse canto escuro da web, também é possível encontrar imagens que a Justiça brasileira proibiu na internet comum, como as de atrizes nuas.

Editoria de Arte/Folhapress

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