Folha de S. Paulo


Inovação é caminho para Atari se recuperar, diz fundador da empresa

Nolan Bushnell, fundador da Atari e considerado o "pai dos videogames", disse que só a inovação pode salvar a empresa da falência. Neste mês, a companhia entrou com um pedido de recuperação judicial nos EUA para se separar de sua parte francesa, a Atari SA, conhecida anteriormente como Infogrames.

Jorge Araujo/Folhapress
Nolan Bushnell fundou a Atari e se tornou o pai da indústria de videogames; ele era amigo pessoal de Steve Jobs
Nolan Bushnell fundou a Atari e se tornou o pai da indústria de videogames; ele era amigo pessoal de Steve Jobs

"É a coisa certa a se fazer agora. A Atari sempre foi uma empresa inovadora e a má administração estava matando a criatividade dela", diz.

Bushnell está no Brasil para participar da sexta edição da Campus Party, evento de tecnologia que acontece em São Paulo até o próximo dia 3. Confira os principais trechos da conversa dele com a Folha:

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Folha - Qual é o caminho para a Atari se tornar novamente uma empresa grande e lucrativa?
Nolan Bushnell - O verdadeiro caminho é a inovação: a Atari sempre foi inovadora e é assim que ela deve se reerguer.

O "caminho da inovação" pode ser o investimento em jogos móveis, sociais?
Pode ser parte da solução, mas inovação de verdade é criar o que ainda não existe. Costumo dizer que o melhor game do mundo é aquele que ainda está para ser desenvolvido. Deve envolver outras mídias, como o cinema, e envolver internet, múltiplos dispositivos e novas tecnologias.

Você tem tempo para jogar? Que tipo de games você prefere?
Eu sempre arrumo tempo para jogar! Atualmente tenho jogado muito "Portal" [game de teletransporte em primeira pessoa da Valve] e "Minecraft" [jogo de montagem de blocos, semelhante à um Lego virtual].

Em 2008, a Folha entrevistou Ralph Boer, o criador do primeiro videogame comercial do mundo, o Magnavox Odyssey. Boer na época disse que o "Pong" [jogo de maior sucesso da Atari] é uma cópia de "Tenis", um jogo do Odyssey. O que tem a dizer sobre isso?
Olha, a questão não é quem veio primeiro ou não. É quem sabe fazer um produto bom. Ralph não inventou "Tenis", já haviam pessoas anos antes inventando jogos de ping-pong. Ralph fez o Odyssey, que era uma merda de console, e eu fiquei abismado de ver que as pessoas se divertiam com uma coisa tão ruim quanto aquela. Então eu pensei: posso melhorar isso e fazer algo que seja bom. Esse cara me irrita, sempre me irritou.

Quando você contratou Steve Jobs para a Atari, ele andava descalço e as pessoas diziam que ele cheirava mal e não tomava banho. O que você viu nele?
Steve era intenso. Pessoas intensas aprendem qualquer coisa muito rápido. Ele aprendeu design de videogames em dois meses e meio! A partir daí,ele mesmo viu que tinha um potencial muito grande. Eu até hoje faço isso: contrato pessoas intensas, que têm brilho nos olhos. Dá certo. Tudo bem, dizem que ele tinha um "lado nego" --eu nunca vi--, mas era inegavelmente uma pessoa de potencial extraordinário. Essas pessoas só precisam de oportunidades.

Como você vê o mercado brasileiro de games?
Vocês têm trabalho pela frente para alcançar o resto do mundo em consumo. Mas vocês têm uma cultura única, vi coisas espetaculares por aqui. O primeiro passo é acreditar que é possível criar os melhores jogos do planeta. O resto vem depois.

Você atualmente trabalha em um projeto que usa games para a educação no ensino médio. Com você acha que os jogos podem ajudar no aprendizado dos alunos?
Games são ferramentas para a educação melhor do que qualquer outra. Podemos ensinar qualquer coisa dez vezes mais rápido com games. Qualquer coisa. Por exemplo, o que você comeu no café da manhã? A chance é maior que você se lembre se o café for melhor. É isso que fazemos com games: todos se lembram melhor se aprenderem com eles.


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