Folha de S. Paulo


Susan Sarandon chega aos 70 ativista, feminista e fugindo de papel de louca

Susan Sarandon parece levemente tensa. É véspera das eleições primárias para o partido Democrata em Nova York e a eleitora engajada do pré-candidato à Presidência americana Bernie Sanders teve que deixar a campanha de lado para se engajar na maratona de eventos do seu novo filme, "A Intrometida", que estreia no Brasil em 16 de junho. "Meu filho mais novo organizou um evento de campanha no Brooklyn e eu estava em Los Angeles. Graças a Deus, o Tim [Robbins, ex-marido e pai de dois de seus três filhos] veio, porque eu me senti muito culpada."

Mas Susan está só levemente tensa.

A divisão de papéis não é novidade para ela. Vencedora do Oscar por "Os Últimos Passos de Um Homem" (1995) e com uma vaga garantida na história do cinema pela participação em "Thelma & Louise" (1991) e "The Rocky Horror Picture Show" (1975), Susan se tornou tão conhecida pelo trabalho de atriz quanto pelo ativismo em múltiplas causas, como a oposição à guerra no Iraque, a aceitação de refugiados e o fim da pena de morte.

Jake Chessum
A atriz Susan Sarandon, famosa por seu papel em
A atriz Susan Sarandon, famosa por seu papel em "Thelma e Louise"

Agora, a nova-iorquina tem que se dividir de novo, dessa vez entre dois eventos cinematográficos. O lançamento do filme, sobre uma mulher que fica viúva e vai morar com a filha em Los Angeles, e a comemoração dos 25 anos do road movie feminista "Thelma & Louise". Os dois falam sobre a relação entre duas mulheres (mãe e filha em "A Intrometida" e amigas em "Thelma"). Mas isso é basicamente só o que têm em comum.

"Thelma' é um filme de camaradas, de caubói. Só o fato de ter outra mulher [Geena Davis] como protagonista com você já é muito incomum. Na maioria das vezes, eles não deixam duas mulheres juntas num filme, a não ser que elas sejam inimigas", diz uma Susan quase monocromática, vestindo uma blusa tão laranja quanto seus cabelos e sobrancelhas.

Já "A Intrometida" é sobre como as pessoas lidam com o luto. "Posso trazer para o filme essa sensação de perda porque perdi muitas coisas nesses 25 anos."

Susan foi casada com o ator Chris Sarandon e teve relacionamentos com David Bowie e com os diretores Louis Malle e Franco Amurri (pai de sua filha mais velha). A relação de 21 anos com Tim Robbins, parceiro de profissão e ativismo, terminou em 2009. Logo emendou um namoro com Jonathan Bricklin, de quem virou sócia numa rede de clubes de pingue-pongue. No ano passado, a relação acabou. A atriz fala abertamente sobre assuntos como esse.

"Sinto falta de estar apaixonada, amo estar em um relacionamento", diz. "Como tenho um trabalho de que gosto muito e muitos amigos, eu não ligo para os meus filhos 20 vezes por dia. Eles se intrometem na minha vida, eu me intrometo na deles, mas não de um jeito chato."

A atriz conta com orgulho que o mais novo, Miles, 24, namora uma brasileira e está aprendendo português. Os três iriam ao show de Caetano e Gil em Nova York naquela mesma semana. E adorou "aquele filme brasileiro com a mulher que é uma faxineira e a filha dela vem visitar ['Que Horas Ela Volta?', com Regina Casé]".

Aos 69, Susan fala olhando no olho, mas é difícil acreditar quando a atriz conta que, aos 46 anos de carreira, ainda morre de medo quando inicia um novo projeto. Não tem pudor de contar que nunca estudou interpretação formalmente, e, por isso, já recebeu pauladas de outros atores.

"Mas, se você escutar e tiver sorte de ter bons diretores e papéis, pode aprender e melhorar a cada trabalho."

A personagem de "A Intrometida" é incrível, ela diz, porque "é um papel grande em que eu não estou morrendo ou ajudando alguém a morrer ou ficando com Alzheimer".

Jake Chessum
A atriz Susan Sarandon, famosa por seu papel em
"Posso trazer para o filme essa sensação de perda porque perdi muitas coisas nesses 25 anos."

PAPEL DE LOUCA

"Me ofereceram papéis em três séries de TV. Todos os três eram pessoas ficando loucas", ri a atriz, que pretende deixar os 70 anos passarem em branco, sem festa. Só quer trabalhar.

A Susan Sarandon ativista só consegue se esconder por alguns minutos. Quando começa a falar de Bernie Sanders, que disputa a vaga democrata à Presidência contra a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, o olho da atriz chega a brilhar. "É um momento histórico. Jovens, independentes e ambientalistas foram ativados com uma paixão que a gente não tinha visto antes."

Enquanto o pleito não se decide, Susan continua se dividindo entre ativismo e arte: durante o Festival de Cannes, voou para Berlim para visitar um abrigo para refugiados e disse querer dirigir filmes pornô para mulheres. Sempre com tensão e sem nenhuma censura.


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