Folha de S. Paulo


Com famílias famosas, Barbara Ohana e Marietta não querem saber de MPB

Barbara e Marietta decidiram que levariam a sério a carreira como cantoras há pouco tempo. Diferentemente de nove em cada dez jovens vozes femininas que surgem no Brasil, elas não escolheram Elis-Gal-Bethânia-Marisa Monte como bússola —MPB não é a delas. Outro ponto em comum é que as duas possuem sobrenomes que revelam parentescos conhecidos: Ohana e Arantes.

Enquanto Barbara, 29, é sobrinha da atriz Claudia Ohana, Marietta, 35, é filha do cantor e músico Guilherme Arantes.

Embora falem com orgulho da veia artística familiar, as duas buscam caminhos próprios. Marietta, por exemplo, deixou o Arantes de lado e assina apenas como Marietta músicas como "Te Espero" e "Novinhas", em que faz uma espécie de mistura de referências de black music, como soul, funk e rap, e cujos clipes podem ser encontrados no YouTube.

Já Barbara Ohana lançou em junho o EP independente "Dreamers", com todas as oito músicas cantadas em inglês —a voz e os arranjos elegantes remetem a cantoras pop contemporâneas como Florence Welch, da banda Florence and the Machine.

A voz de Barbara, na faixa "Golden Hours", pode ser ouvida na novela "Verdades Secretas", da Globo. Marietta vai lançar no segundo semestre o primeiro EP, com cinco músicas buriladas pelo produtor Kiddid.

Serafina reuniu as duas em São Paulo (Marietta é paulistana; carioca, Barbara mora na capital paulista há três anos) para uma conversa.

*

A HERANÇA

Marietta - Eu poderia ter ido ao Faustão quando tinha 19 anos, cantar as músicas do meu pai, mas não era isso o que eu queria para mim.

Barbara - Eu tenho mãe filósofa, minha tia é atriz. Minha família é feita de mulheres fortes. Minha tia [Claudia Ohana] foi a pessoa que mais me apoiou, pagava aulas de canto para mim. O duro mesmo foi eu me assumir como cantora.

Marietta - Para mim também foi difícil assumir que eu queria realmente seguir a carreira. Isso aconteceu há um ano e meio. Foi só agora que parei de sentir culpa por não ser genial como meu pai. Porque era isso o que esperavam de mim. Quando disse para o meu pai que eu realmente queria ser cantora, ele fez uma careta, tipo: "Tem certeza?" Porque é difícil ter uma carreira na música. Mas ele me deu total apoio.

Barbara - Com você, a pressão é mais pesada. Eu não sinto que tenha de prestar respeito à obra da minha tia, até porque ela é atriz, não cantora. Mas tenho consciência de que as pessoas se interessam por isso.

Marietta - Eu também toco piano, mas hoje menos, por causa do lance do meu pai [tocar muito bem]. É muita conta para prestar.

Veja o clipe de 'Ordinary Piece', de Bárbara Ohana

Clipe de 'Ordinary Piece', de Bárbara Ohana

*

A DECISÃO DE CANTAR

Barbara - Desde os sete anos eu canto, fiz aulas de canto lírico, mas assumir um trabalho autoral mesmo, faz apenas três anos. Tenho muito tempo de música na minha vida, mas foi bem difícil.

Marietta - E o que te impedia de assumir isso?

Barbara - O problema era achar uma unidade no trabalho, encontrar quem fizesse a sonoridade que eu estava buscando, demorou para encontrar essa minha turma. E o fato de compor em inglês também foi uma dificuldade, até que um dia entendi que era algo natural [cantar nessa língua].

Marietta - Eu também canto há bastante tempo. Com 16 anos, entrei em uma banda chamada Afetos. A gente tocava reggae, dancehall, fazíamos shows num circuito surf-reggae.

*

A CARREIRA

Barbara - Hoje eu digo que faço música pop, com uma pegada meio indie. Gosto de Lana Del Rey, de Lorde, cantoras que têm um lado meio obscuro.

Marietta - Eu falo que faço black music, uma coisa meio diáspora africana. Vou lançar um EP com cinco músicas em setembro.

Barbara - Como você compõe?

Marietta - Normalmente, a melodia vem antes. A partir dela, vou escrevendo a letra. Mas também tenho poemas que fui encaixando em algumas melodias. Uma coisa em que penso é que não sei se hoje as pessoas estão interessadas em ouvir um disco inteiro.

Barbara - Acho que são bem poucas. Mas adoro fazer música para elas.

Marietta - Eu peguei gosto pelo single. Sei que é caro, mas quero lançar todas as minhas músicas com um vídeo para cada uma. Estou sendo considerada atualmente como cantora porque fiz dois clipes bem legais, há dois meses, com uma fotografia ótima. Hoje, se você não tem vídeo, não é ninguém.

Barbara - Entendo o que você está falando. Acho que cada música é um filho. Para cada música que faço, dedico o espaço de um disco na minha vida. Mas você tem vontade de fazer um disco que expresse uma ideia, uma mensagem?

Marietta - Algo com começo, meio e fim, né? Tenho. Por enquanto, tenho 29 músicas que vou encaixar em um show, que vai me ocupar até o fim do ano. Mas, no ano que vem, quero me dedicar a um disco que tenha uma ideia que una as composições.

Assista ao clipe de 'Te espero', de Marietta

Assista ao clipe de 'Te espero', de Marietta


Endereço da página:

Links no texto: