Folha de S. Paulo


Herdeira de grife de design em plástico diz que seu produto é caro no Brasil

Faz 33º C em São Paulo. Mas Lorenza Luti prefere se sentar do lado de fora da loja da família, na al. Gabriel Monteiro da Silva, artéria da decoração.

"Brasileiros gostam muito de ar-condicionado, não?", diz a economista italiana sem nem ameaçar dobrar as mangas da camisa de seda. Enquanto isso, os funcionários da Kartell a observam de dentro da butique, a 21º C.

Luti, herdeira da marca italiana, não veio por amor ao calor, no entanto.

Está no país para abrir pontos de venda da grife familiar em Recife, Curitiba e Santo André. "A Itália não está indo muito bem agora, o Brasil é um lugar para se focar." Afirma que pretendem inaugurar mais dois, pelo menos, em 2014.

Até porque aqui seu produto tem valor agregado. "No Brasil é menos barato, mas na Europa, se você gosta de um produto nosso na vitrine, já leva para casa."

A empresa nasceu com vontade de ser barateira, em 1949, quando o avô trabalhava com Giulio Natta, que ganhou o Nobel de Química em 1963 por desenvolver nova variedade de plástico.
O antepassado pensou que o material pudesse prestar para fazer espremedores de frutas e outros acessórios. Fundou a firma, prosperou e passou a produzir mobília, seu forte até hoje. Sofás são de plástico, vasos são de plástico. O mostruário da Kartell é como um catálogo de Melissinhas para a casa.

DO PETRÓLEO

O pai, que trabalhara com Gianni Versace, se empenhou em trazer estilistas, como a casa Missoni, para parcerias. Foi aí que o francês Philippe Starck
começou a criar para a marca.

"Trazemos as pessoas para dentro de casa. Não pegamos um designer por ser o melhor, mas sim o melhor para nós", diz ela. Starck de fato fez bem ao criar as onipresentes cadeiras Victoria Ghost, releitura do móvel vitoriano feita de material transparente (R$ 1.492).

Você já deve ter cansado de ver a peça, em versão com braços ou desbraçada, em casa de arquitetos. Vendeu tanto que um crítico escreveu que a marca de mobiliário ficou refém da caneta de Starck. "Não mesmo. Nosso produto mais vendido atualmente aqui é dele, a cadeira Masters, mas há muitos outros designers trabalhando para nós."

Nenhum deles brasileiros, por ora. "Não conheço muitos designers locais, só os Campana." Mas vai procurar saber, pois diz que seu papel é de encontrar novos sucessos. "Preciso aprender isso mais, a ter o olho que meu pai tem."

E também fazer as vendas de produtos feitos de recurso esgotável crescerem num mundo verde. A Kartell busca o selo Greenguard, que certifica baixa emissão de gases na produção.

"Plástico dura uma vida." Mas não a vontade de ter um banco em formato de anão de jardim (R$ 1.633, ou o preço de sete barris de petróleo mais nobre). "Os produtos são 99% recicláveis."

Isso se alguém de fato os reciclasse. "A gente tentou com um banquinho. Mas o cliente não quer um produto que não seja 100% transparente. Fala-se disso [sustentabilidade], mas no fim todo mundo quer o produto novo."


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